Flávio Azevedo
Já há algum tempo eu estou vendo a galera da esquerda reclamando do presidente Bolsonaro e profetizando o desmonte de políticas sociais criadas durante os governos de centro-esquerda que comandaram o Brasil. Confirmada a vitória de Bolsonaro, a galera da esquerda lançou a ideia de “resistência”, iniciativa que teve meu total apoio. Gosto da ideia porque no meu entendimento, a crítica e a oposição não deixam o governo, de direita ou esquerda, se acomodar na sedutora e perigosa zona de conforto.
Passados pouco mais de dois meses, eu começo a me perguntar: cadê a resistência? Até aqui o que tenho visto é muito palavrório no mundo virtual. E isso não está com nada. Parece até o eleitor de Rio Bonito, que há décadas reclama do revezamento que Mandiocão e Solange fazem na Prefeitura, mas inexplicavelmente segue votando na dupla. E já são quase 30 anos.
Penso que os anos que a esquerda ficou no poder com o PT tiraram dela o seu poder de militância. Sobretudo nos 16 anos de Lula e Dilma, a esquerda acabou migrando para uma zona de conforto que produziu militantes preguiçosos e líderes fracos. O poder do exemplo foi corroído pelo flerte com a corrupção, uma prática que a esquerda sempre colocou na conta da direita. Nesse tempo, o que parece é que desapareceram as duas principais caraterísticas da esquerda: o diálogo e o poder de convencimento. Essas duas virtudes deram lugar a doutrinação, que começa com o que eu chamo de “pressão da patota”.
Movimentos de rua e manifestações populares, instrumentos muito utilizados por quem está insatisfeito com alguma coisa, acabam sendo perda de tempo e de energia quando não se pensa o dia seguinte. Milhares de pessoas nas ruas com cartazes, faixas, rojões e palavras de ordem... E depois? Quem dialoga com as esferas de poder? Quem negocia com aqueles que podem fazer a mudança pretendida? Nesses momentos sempre aparece um esperto com aquela frase clichê: “aqui não tem liderança, o comando é de todos”, expressões criadas por algum malandro que deseja transformar legítimos manifestantes em bois de piranha.
Nos últimos 20 anos, os integrantes da esquerda perderam de vista os seus ideais. Quase todas as pessoas, da minha geração, da geração anterior e posterior, em algum momento pensaram com a orientação da esquerda. Era possível ver um caminho nas ideias de Lula e ver alguma luz na estrela do PT, a época, símbolos de mudança e esperança.
A única forma da esquerda se reconstruir é retornando as origens. Estou falando do uso dos instrumentos que a democracia oferece gratuitamente. Quer ter protagonismo e enfrentar as ideias do Bolsonaro e da direita? Ingressem nas associações de moradores, nos sindicatos, nos conselhos municipais, nos fóruns comunitários e demais equipamentos de representação coletiva.
Dias atrás um amigo me disse que não dá mais para ser sindicalista, “porque acabou o imposto sindical”. Eu retruquei e perguntei a ele onde estava o idealismo e a militância que ele sempre demonstrou e provoquei: “a ideia é defender o trabalhador, lutar contra a exploração do patrão ou simplesmente ganhar dinheiro?”. Acrescentei que sou coordenador do Fórum da Agenda 21 de Rio Bonito. Por lá nem eu nem meus colegas têm remuneração, mas estamos lá contribuindo.
Os integrantes da esquerda precisam entender que é perda de tempo e energia esse negócio de vigília em Curitiba gritando “Lula Livre”. Outra bobagem é ficar nas mídias sociais inventando Hashtags com palavras de ordem. Penso que essa postura apenas amplia a antipatia aos pensamentos da esquerda. Aprendam com o líder Lula, que só chegou a algum lugar quando trocou o macacão pelo terno, penteou os cabelos, aparou a barba, substituiu as palavras de ordem pelo dialogo e criou mecanismos de amparo para os menos favorecidos e mecanismos que fizeram os banqueiros e grandes empreiteiras auferir lucros astronômicos. Por favor, não se corrompam, mas dialogar e negociar com os antagonistas é preciso.
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