sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Proclamaram a Independência, mas seguimos dependentes

Flávio Azevedo
Hoje é o Dia da Independência! Em 1822, o Brasil se livrava de Portugal, mas o espírito de colonizado nunca nos deixou. Entre outras razões, porque o império era português e a sociedade escravista. O Brasil era tão escravocrata, que até os servos tinham escravos. Os capitães do mato eram negros. 

Depois da Proclamação da Independência veio a Proclamação da República (1899), movimento encabeçado pela mesma corte que nutria valores europeus e escravistas. Boa parte dos republicanos queria apenas se livrar da família real, mas mantiveram os usos, os costumes, a obrigação de olhar as lideranças políticas como se elas fossem divindades... Esse conjunto de coisas fez perpetuar no imaginário popular nos últimos 100 anos, que é preciso se comportar como súdito (subserviência e reverência) para ficar bem na fita com as divindades.
A república do “Café com Leite” manteve esse cenário comportamental e social, o governo militar que assumiu o país em 1964 também nutriu esses valores e a falsa democracia que se instala em 1985 seguiu essa trilha, porque a democracia foi implantada por escravocratas modernos. Como aconteceu em 1889 com a família real, os ditos democratas constituintes queriam apenas se livrar dos militares, mas mantiveram os usos, os costumes e um estado perdulário, inchado, burocrático, improdutivo e explorador.

Por outro lado, habituados ao chicote, desacostumados ao papel de tomar decisões, sem o costume de exercer o direito de escolha e sem a prática de viver sem vigilância, os súditos – leia-se, povo brasileiro – não sabiam se portar como cidadãos.
Apesar dos quase 200 anos de Independência, a democracia no Brasil é muito recente e todos nós estamos aprendendo a viver com ela. Viver na democracia significa conhecer as próprias responsabilidades, participar do processo político e conhecer o funcionamento do processo eleitoral (são coisas diferentes). A lentidão para entender essa lógica pode ser atribuída ao sucateamento da Educação, a escolarização precária dos indivíduos e o espírito escravocrata que ainda impera, inclusive, entre aqueles que comandam as unidades educacionais.

Professores mal remunerados, desvalorizados, com direitos ignorados, trabalhando em escolas sucateadas, tendo que lidar com alunos mal criados; resultam em museus incendiados, atentados a governantes, assassinatos de qualquer natureza, corrupção, paixão pelo ilícito, falência institucional e tentativa de regresso ao modelo de governo ultrapassado.
A Bíblia, no livro de Êxodo, conta a história dos hebreus cativos no Egito. Depois de viverem 430 anos na condição de escravos, quando conseguiram a liberdade, no primeiro momento de dificuldade, durante a travessia pelo deserto, boa parte quis retornar ao cativeiro egípcio e se rebelou contra o líder Moisés. Penso sempre nos hebreus quando vejo, em 2018, muita gente pedindo a volta do governo militar, falando em retorno da ditadura e pregando o controle social pela força. Esquecem que estamos numa travessia e que para superar esse momento é preciso maturidade e perseverança.

Penso que apesar dos 196 anos de Independência, nós nos livramos apenas da ‘Derrama’ e da obrigação de mandar para Portugal, Ouro, Cana de Açúcar, Café, Especiarias e Pau Brasil. Infelizmente, em outros aspectos seguimos nos comportando como colonizados e está difícil se livrar desse ranço! Viva a Independência!

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