Flávio Azevedo
O inspetor de alunos Seu Enildo era uma figura mais que tradicional do Colégio Rio Bonito. |
Estaria completando 90 anos, hoje, Seu Enildo, figura emblemática para a minha formação. Estudei no Colégio Rio Bonito entre os anos de 1985 e 1990. Era o inspetor de alunos do turno da manhã, onde estavam concentrados o segundo segmento do Ensino Fundamental, o Básico (1º ano do Ensino Médio) e o Curso de Formação de Professores (Magistério). Tenho viva em minha memória as broncas de Seu Enildo e o efeito delas. Geralmente essas correções eram motivo de riso entre os alunos. Era comum imitarmos os seus trejeitos, os gestos, mas cada palavra, algumas desconhecidas para nós, tinham que ser pesquisadas no dicionário para sabermos o que ele queria dizer. Hoje, todas fazem parte do meu vocabulário e aqueles anos estão guardados num lugar muito especial da minha mente e do meu coração.
Algazarra na classe, palavrório, alunos em pé aproveitando aquele momento que o professor ainda não chegou... Seu Enildo se aproximava como uma sombra e batia o salto do sapato, acredito que um Vulcabrás 752, na porta da sala... O silêncio era imediato. “O aluno tem que ter brio!” era uma frase que ouvimos sempre ele falar. Um dia perguntei ao próprio seu Enildo o que significava a palavra “brio”. Ele sugeriu que eu recorresse ao dicionário.
Com preguiça, eu resolvi perguntar ao meu pai – um homem que escrevia poesias – qual o significado da palavra “brio”. Papai me perguntou onde ouvi essa palavra. Eu contei que Seu Enildo sempre usava esse termo quando repreendia os alunos. Sério, o meu pai explicou: “brio significa vergonha! Aqui em casa quando vocês aprontam, eu digo que vocês precisam ter vergonha na cara, mas Seu Enildo, na sua elegância, usa a palavra brio, para dizer a mesma coisa que sua mãe e eu cansamos de dizer para vocês” e reiterou uma sonora bronca sobre o meu comportamento.
Analisando, hoje, todo esse contexto, eu consigo ver a Educação acontecendo de maneira completa e realmente integral. Bem diferente dos dias atuais. A correção que começava na escola terminava em casa; e a bronca que começava em casa, tinha continuidade no ambiente escolar.
Por isso eu digo sem pestanejar que seu Enildo fez parte da minha infância e da minha formação. Tenho por ele um carinho muito similar ao que sinto pelos meus pais. Obrigado Seu Enildo! Tenha certeza que o senhor contribuiu bastante para construir o homem que me tornei!
PS: a foto de Seu Enildo foi ‘roubartilhada’ da minha querida Maria Aparecida Goulart Pintas, minha professora da 4ª série (1985) e filha de Seu Enildo.
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