Flávio Azevedo
Lembro bem do Seu Geraldo. Aquele paciente que insistia em fumar, apesar do enfisema pulmonar que aos poucos lhe tirava a vida. Quando terminava a nebulização, a primeira coisa que ele fazia era procurar a área externa do hospital para “fazer uma fumaça”. Como irei me esquecer do Seu Antônio? Era dono de uma das mais altas taxas de açúcar no sangue (diabetes) que conheci, mas insistia em devorar doces e guloseimas como se fosse um menino. A severa hipertensão do Seu Oscarino, um paciente que fazia diálise e que insistia em comer carne seca, também é inesquecível para mim! Por fim Seu Luiz, que mesmo debilitado pelas sequelas de um violento AVC, sempre me dizia que preferia morrer a largar a carne de porco e sua saborosa “gordurinha”.
Esses e centenas de outros pacientes que cuidei ao longo dos 15 anos trabalhando como Técnico de Enfermagem, sempre me vem a mente quando eu olho para o meu Brasil. O país está sufocado, débil, morrendo, sequelado, mas nós não abrimos mão da preguiça cidadã que nos aniquila. Seguimos ausentes da vida política do país, do estado e do município. Às vezes, em período eleitoral, como loucos inconsequentes, nos agarramos a qualquer tábua de salvação, promessa mentirosa e expectativa duvidosa. Fazemos isso, porque temos a esperança de que alguém irá melhorar o Brasil para nós!
Ignoramos o fato de que depende unicamente do nosso esforço, ativismo e participação a saída do atoleiro. Não! Você não precisa se ser candidato a nenhum cargo eletivo! Mas você deveria ser menos preguiçoso e participar de instrumentos que a democracia nos oferece como associação de moradores, fóruns comunitários e conselhos municipais.
Uma reflexão: analisando o seu grau de inutilidade cidadã, eu até considero um avanço suas piruadas nas mídias sociais, mas isso está longe de contar como participação e reivindicação!
Nenhum comentário:
Postar um comentário