Flávio Azevedo
Algumas pessoas estão pedindo a minha análise dos movimentos pró e contra o presidenciável, Jair Bolsonaro (PSL); ocorridos nesse sábado (29/09) pelo Brasil, inclusive em Rio Bonito. O que vou escrever, agora, eu já escrevi quando analisei outros momentos similares. Eu não sou simpático a essas mobilizações. Entendo até como perda de tempo e energia. Uma das clássicas características do brasileiro é a transferência de responsabilidade. E nesse momento está muito nítido que nós estamos materializando em Bolsonaro e no PT os nossos piores demônios (corrupção, preconceitos).
Prefiro não criticar quem vai às ruas defender ou criticar Lula, Bolsonaro, Temer, o Papa, o Neymar etc. Mas eu discordo da proposta desses atos. Vejo legitimidade em toda e qualquer mobilização, mesmo aquelas que não têm proposta, porque vivemos num país onde impera o desinteresse por qualquer tema racional. Mas a meu ver essas mobilizações são infrutíferas do ponto de vista prático. Tenho o mesmo raciocínio a respeito das paradas gays, do movimento dos R$ 0,20 etc.
Minha gente, a democracia nos oferece algumas dezenas de institutos para fiscalizarmos as ações do estado e seus representantes. Todavia, por variadas razões não nos apropriamos dessas ferramentas. Estou me referindo as associações de moradores, as associações de pais (nas escolas), os conselhos municipais, os fóruns comunitários e demais instrumentos sempre esvaziados.
Se o turbilhão de pessoas que saiu às ruas nesse sábado – contra ou a favor de qualquer coisa – usasse esse ativismo participando dos institutos que elenquei no parágrafo anterior, o nosso país não estaria mergulhado no caos, a sociedade não estaria tão dividida e os maus políticos há anos já teriam sido banido da vida pública.
Essa narrativa não tem a pretensão de ofender ninguém, mas esse tipo de mobilização deveria ser a culminância ou o start de um projeto. Na última quarta-feira (26/09), um pequeno grupo de pessoas participou, no Centro de Rio Bonito, da Caminhada Pela Vida, que foi a culminância de um mês de ações que buscou falar sobre depressão e suicídio. O projeto “Setembro Amarelo”.
Gosto sempre de destacar o ano de 2013, marcado por milhares de pessoas nas ruas. Eu não sei se você lembra, mas em protesto, teve gente acampada na frente do prédio onde morava o ex-governador, Sérgio Cabral... Depois de tanto barulho, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita, Pezão/Cabral venceu as eleições para comandar o Rio e um dos nossos deputados federal mais bem votados foi Eduardo Cunha (MDB).
Não acho produtiva uma manifestação direcionada a execrar alguém ou divinizar alguém. Isso é torcida organizada e uma maneira que encontramos de fugir da atribuição que é nossa. Ficarei muito feliz quando essas mobilizações forem o ponto de partida da participação cidadã nos instrumentos que a democracia oferece. Ficarei mais feliz ainda, quando assumirmos que somos machistas, somos excludentes, discriminamos sim, não gostamos dos diferentes, nos irrita o pensamento contrário, a corrupção e o delito não são problemas quando praticados por mim; entre outros demônios que são nossos, mas insistimos em personificá-los em Bolsonaro e no PT.
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