domingo, 23 de dezembro de 2018

Delação de Cabral atingirá a última trincheira da corrupção: o poder Judiciário

Flávio Azevedo
O ex-governador Sérgio Cabral está preso há dois anos, já recebeu 200 anos de condenação e decidiu negociar delação.
A notícia de que o poder Judiciário e seus apêndices podem estar na mira da suposta delação do ex-governador, Sérgio Cabral; é uma novidade que vai confirmar muita coisa que nós sabemos e dizemos, mas várias pessoas mal intencionadas ou abobalhadas preferem classificar como “arroubos da imprensa irresponsável”.

A provável “lava toga” – derivação de lava jato – quem vem por aí permitirá alguns questionamentos básicos, entre eles, por que os cargos e funções do Judiciário são ocupados de acordo com a lógica monárquica. Já notaram? Os cargos passam de pai para filhos, sobrinhos, noras, genros e parentes em geral. A impressão que tenho é que somente determinadas famílias possuem QI suficiente para passar nos concursos para os tais cargos. Chega ser engraçado.

Outra coisa curiosa é os escritórios de advogados fodões, que cobram entre R$ 50 e R$ 100 mil para ouvir a história daquele político que perdeu o mandato, que está encalacrado na Justiça, que foi pego cometendo atos ilícitos, que receberam condenação de inelegibilidade... Ouvida a história do político picareta, os tais advogados cobram entre R$ 500 mil e R$ 1milhão para pegar o caso.

Aqui eu falo daquele pessoal que responde a 200 processos que se arrastam por 30 anos (alguns, inclusive, já prescreveram). Falo de gente que apesar do volume de cagadas que faz na vida pública, nunca recebe condenação, porque sempre alguém pede Vistas no processo, dá uma liminar ou reforma uma decisão condenatória, o que permite que essas assombrações sigam no poder porque cavalgam na imbecilidade, no oportunismo e na devoção de quem vota. Detalhe: não é aconselhável criticar, nem meter o pau em nada disso, “porque quem decidiu foi o todo poderoso, bambam, salve-salve, não sei da quantas”.

Numa ocasião eu perguntei a um bambam, por que as instâncias tomam decisões diferentes, se o Direito é único. Por exemplo, o sujeito que estudou na Estácio, ele aprende um Direito diferente daquele fez UFRJ, UFF, Candido Mendes, USP ou Universo? Como que é isso? Bem... Com ar professoral, o sujeito me explicou.
– O magistrado não erra, porque ele tem entendimentos. Por isso pessoas que saem condenadas da primeira instância podem ser absolvidas nas instâncias superiores. Na verdade ninguém errou, nem o juiz da primeira instância, nem o juiz das outras instâncias. É que eles têm entendimentos diferentes – me disse o bambam.

Eu consultei um otorrino para saber se podia ‘desolvir’ – vomitar o que foi ouvido –, mas o médico me disse que não. Explicou, inclusive, que é melhor ouvir essas coisas do que ser surdo. O que eu sei é que eu venho carregando há mais de 10 anos essa informação miserável. Um desculpa que algum figurão inventou, para justificar picaretagens no poder Judiciário. E ninguém achou estranho. Ou por conta da frouxura preferiu fingir que era um pensamento evoluído de mestre do direito.

Concluo esse texto com a esperança de que o senhor Sérgio Cabral, um grande picareta, através da sua delação use a sua última gota de dignidade para expor situações que nós estamos cansados de saber (ele não contará nenhuma novidade), mas que intencionalmente não são enxergadas. A delação de Cabral, que resolve falar antes que Pezão (que também deve ter muito a revelar) abra o bico; certamente é a carta de alforria que nós precisamos para colocar mesmo balaio e sem nenhuma preocupação, políticos vagabundos, empreiteiros oportunistas e membros do poder Judiciário que envergonham os tribunais.

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