quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Assessor devolver dinheiro é um ilícito normal uma prática antiga

Flávio Azevedo
Para quem está fazendo cara de surpresa diante da história do motorista/segurança do filho do presidente Bolsonaro (a história da grana dos assessores), eu recomendo deixar a hipocrisia de lado. A prática é uma flagrante corrupção, mas há décadas acontece Brasil a fora. Ficar surpreso com essa história é o mesmo que ficar espantado com a notícia que circulou dias atrás, que narrava a situação do servidor municipal da Prefeitura de Rio Bonito, Luiz Alberto Demier (Cebola); que tem salário de R$ 18 mil e ninguém vê trabalhando. Notícia velha e requentada que gira apenas nas conversas a ‘boca pequena’, porque em Rio Bonito a grande maioria é frouxa e gosta de falar dos outros pelas costas.

Mas voltando ao caso do Flávio Bolsonaro, não é de hoje que assessores devolvem seus salários ou parte dele aos seus contratantes. Aliás, esses salários de assessores só são tão altos por conta disso. Não é de hoje que políticos nomeiam advogados, contadores e ex-mulher em cargo comissionado, para que possam pagar honorários e pensão alimentícia via nomeação. E eu ainda encontro gente com cara de surpresa diante desses fatos, que embora sejam ilícitos, são praticados em larga escala.

Quem nunca ouviu falar disso deve ter chegado ao Brasil na última semana. Não concordar é uma coisa (eu também não concordo e penso ser preciso mudar), mas fazer cara de que não sabia é assumir que é retardado e/ou idiota!

Fui candidato a vereador em 2016. Um volume grande de pessoas me procurou para condicionar o voto a cargos comissionados e/ou assessoria. Quando eu expliquei que não teria assessores, a resposta que eu obtive foi a seguinte: “então eu vou fechar com Fulano, porque ele me prometeu um cargo!”. O outro disse que não precisa nomear ele, mas a esposa, que é servidora municipal. “É que assim ela incorpora os 10% do salário do cargo nomeado a remuneração de servidora”.

Mas a melhor história eu ouvi de uma distinta senhora da nossa cidade. Ela me prometeu muitos votos e disse que trabalharia gratuitamente na minha campanha se eu desse a ela uma assessoria. Antes que eu dissesse que não teria assessores, ela me fez uma proposta que me deixou estupefato.
– Eu não quero o dinheiro da assessoria! Eu vou te devolver a grana todinha. Eu só quero ser nomeada por causa do INSS pago num valor referente ao da assessoria. É que eu quero aposentar com boa remuneração... Se você topar, eu e minha família votaremos em você e vamos trabalhar de graça – me prometeu aquela ética senhora.

Nas eleições de 2016, eu obtive 200 votos. Muita gente me diz que apesar de ser muito conhecido, o palanque do amigo, Marquinhos Luanda; cercado por gente apaixonada pela ex-prefeita, Solange Almeida; não me foi favorável. Os tais analistas dizem que torcedores e devotos de Solange têm antipatia do Flávio Azevedo, por conta das críticas a ela dirigidas. Já os eleitores e devotos dos outros candidatos, chateados por eu estar naquele palanque decidiram não me dar o voto.

Eu até concordo com essa matemática da simpatia, mas acredito que o real motivo da baixa votação foi a condução da campanha. Decidi não negociar assessoria, não contar mentira, não prometer vantagens, não colocar carro de som aporrinhando as pessoas, não chorar em funeral de quem nunca vi, não se fingir de crente ou católico, não frequentar lugares que nunca fui, não distribuir dentadura, dinheiro, cesta básica; e não criar expectativas que eu não poderia atender se chegasse ao mandato.

Voltando a Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), eu destaco que a grana que vai e que vem por lá é a garantia do mandato de todos os deputados, sejam eles de esquerda ou direita. Detalhe: isso é uma exigência do eleitorado, que em sua maioria é tão picareta quanto os criticados políticos (alguns deveriam ser presos juntos com Cabral e Pezão). Existe uma equação que não fecha em nosso país: queremos políticos honestos e comprometidos com a retidão, para governar uma sociedade que está longe de ser honesta e distante da retidão de caráter.

Nenhum comentário:

Postar um comentário