Flávio Azevedo
“Foi o maior comício eletrônico da vida de Bolsonaro. E ele soube aproveitá-lo. Quase deixou Bonner e Renata sem fala. Saiu maior do que entrou”. Essas palavras foram escritas pelo jornalista Ricardo Noblat (conhecido como “demolidor de Bolsonaro”), logo depois da participação do presidenciável no Jornal Nacional dessa terça-feira (28/08). Ele escreveu no Twitter. Penso exatamente igual ao Noblat. Tirando a confusa discussão sobre a diferença dos salários do Willian Bonner e da Renata Vasconcellos, momento em que Bolsonaro se embananou, ele tirou de letra a entrevista e ao contrário do que eu imaginava, ele foi bem e conseguiu desestabilizar os apresentadores do JN.
Aos amigos que estão lendo essas considerações, eu acho prudente lembrar que ao contrário do que você pensa, as emissoras de TV sabem quem está assistindo a programação e conhecem o perfil do telespectador em todos os horários. Curiosamente, parece que Bolsonaro também sabia e falou exatamente o que aquele público queria ouvir.
Concordando ou não com o que ele disse e diz, as opiniões dele sobre os trabalhadores domésticos desempregados e transformados em diaristas é fato. A lei indiscutivelmente foi importante, mas a partir dela o cenário mudou. Vamos deixar a hipocrisia de lado e reconhecer que todos nós conhecemos inúmeras pessoas que passaram a ter uma diarista diferente a cada dia da semana, para fugir dos encargos exigidos pela nova legislação.
A realidade do enfrentamento a criminalidade – os bandidos geralmente estão armados de fuzis e outras armas potentes – feita por policiais armados com revólveres que mais parecem de brinquedo se comparados aos equipamentos dos criminosos foi outro tiro certeiro de Bolsonaro que atingiu o coração de uma população amedrontada, encurralada, quase refém da marginalidade. Estamos falando de um povo que historicamente não tem coragem de puxar o gatilho, mas torce que apareça alguém para fazer isso em seu lugar. Bolsonaro falou para esses.
Não estou concordando ou discordando das teorias do Bolsonaro. A minha pretensão é analisar os efeitos da entrevista (ou seria debate?) na cabeça do público que assistia o Jornal Nacional. Talvez, se medirmos as declarações do presidenciável com a régua que medimos os nossos valores e entendimentos, nós encontraremos muita coisa absurda. Mas a minha proposta aqui é refletir sobre o efeito prático das declarações do presidenciável no imaginário do público do Jornal Nacional.
Acrescento que o público do horário nobre da TV Globo é tão valioso e cobiçado, que nós passamos seis meses de uma faculdade de quatro anos do curso de Comunicação Social discutindo e estudando esse pessoal. Sobre as declarações do Mourão, vice de Bolsonaro, sobre “militares retomarem o poder”, elas só terão efeito no diminuto público esclarecido. Em nada vai assustar quem tem perfil conservador e se encontra amedrontado com a violência que bate na porta.
As pessoas estão com medo e irão se agarrar a qualquer tabua de salvação que apareça. E Bolsonaro já foi compreendido por milhares de brasileiros como essa tábua. A confiança nele é tão grande, que não serão perguntas capciosas e qualquer conversa sobre apartamento funcional e auxilio moradia, que mudarão esse cenário. Algo muito similar ao que acontece com o ex-presidente Lula, que embora esteja preso, segue sendo considerado inocente por milhares de pessoas que não enxergam provas em inúmeros fatos que fizeram o líder petista ser condenado em duas instâncias do Judiciário.
Por último e não menos importante, eu destaco a história do “livro infantil” considerado por Bolsonaro um “ataque a inocência das crianças”, que ao ser censurado pela bancada do Jornal Nacional (a câmera mudou imediatamente de posição) fortaleceu ainda mais Jair Bolsonaro, que como disse Ricardo Noblat, saiu da bancada do JN fortalecido.
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