segunda-feira, 20 de agosto de 2018

A demagógica preocupação com as urnas eletrônicas

Flávio Azevedo
O Brasil está contaminado pela modinha da fraude na urna eletrônica, como se não fosse possível fraudar o voto em cédulas. Sou defensor da ideia de que a urna eletrônica ofereça ao eleitor, o comprovante do seu voto, como um extrato de caixa eletrônico. Penso que devermos brigar por isso. Mas a propagação dessa história de fraude na urna eletrônica já passou dos limites. Todavia, eu penso que essa conversa de fraude é mais uma daquelas argumentações esdrúxulas que visa unicamente mascarar a nossa tradicional picaretagem.

Se você é desses que está chegando ao Brasil agora, eu gostaria de te colocar a par de como se desenrolam as eleições por aqui. Saiba que é nos pleitos municipais onde as eleições são verdadeiramente fraudadas. Nas disputadas locais candidatos e eleitores comercializam o voto numa verdadeira ‘suruba eleitoral’.

Como todo mundo com quem tenho conversado parece estar chegando, hoje, da Finlândia, onde os índices de corrupção são menores que 1%, penso que é salutar discorrer sobre o modus operandi das eleições no Brasil, onde as coisas são bem mais diferentes que na Finlândia. 

Por aqui o voto é trocado flagrantemente por tijolo, areia, cimento, dentadura, caixa d’água, festa de formatura, festa de aniversário, cirurgia, promessa de boquinha, promessa de emprego, dinheiro (o valor varia de acordo com o cabo eleitoral) combustível, churrascada, cervejada, cocaína, peixada, banco para igrejas, som para igrejas, jogo de camisa para times, transporte de doentes... Tudo isso e muitas outras coisas movem a engrenagem do sistema eleitoral e frauda as eleições todos os anos. Já notaram que ninguém faz espetáculo por conta disso? Por que será?
Estamos falando de candidatos a vereador que gastam R$ 400 mil para chegar ao cargo. Agora pense comigo! Se candidatos a vereador gastam esse montante, quanto gasta os candidatos a prefeito? Analistas políticos dizem que uma vitoriosa campanha de prefeito, numa cidade do porte de Rio Bonito, não custa menos que R$ 1,5 milhão. Eu não acredito que o destino de toda essa grana (R$ 1,5 milhão) seja papel, faixa, adesivo, bandeirinha, caminhão para o comício, lanches e almoço para meia dúzia de voluntários etc. E não é mesmo não! 

O maior volume desse recurso é direcionado para comprar o voto de cabos eleitorais que vivem enchendo a porra do saco reclamando que não tem Saúde, Educação, Transporte, Segurança, Emprego etc. A minha irritação existe porque o dinheiro que deveria custear esses serviços foi desviado exatamente para comprar o voto dessa gente que deveria ser atendida por esses serviços. Todos eles sabem disso, mas o egoísmo e o olho grande nas benesses suplantam o senso de cidadania.

Quem mora no Brasil conhece essa lógica. Quem mora no Brasil consegue ver esse cenário a cada eleição. Quem mora no Brasil entende que a ‘suruba eleitoral’ é uma fraude muito mais destrutiva que qualquer desconfiança sobre urna eletrônica. Mas como muitas das pessoas que têm conversado comigo estão chegando do exterior, onde moraram por mais de 20 anos, eu entendo que não conheçam essa peculiaridade da forma de fazer campanha e fazer política no Brasil. #flavioazevedo

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