segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O riobonitense e a falta de reservatórios de água

Flávio Azevedo
Ainda sobre os casos da falta d’água em Rio Bonito, o último texto da trilogia a respeito do assunto vai abordar a questão do RESERVATÓRIO, necessidade que culturalmente nós não damos importância. É claro que a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (CEDAE) deixa a desejar em vários aspectos, a classe política e seus maus hábitos acabam influenciando a prestação de serviço, a estiagem e o desmatamento diminuem o volume de água disponível, mas a falta de reservatório, leia-se, caixas d’água e cisternas é um aspecto que também precisa ser analisado.

Anos atrás uma moradora de Rio Bonito me chamou na casa dela para tratar de falta d’água. Chegando na residência perguntei pela caixa d’água. Ela disse que não tinha, “porque aqui em casa não falta água”. Minha gente, eu nunca tinha visto uma casa sem caixa d’água, mas aquela moradia era ligada direto na água da rua. Eu fiquei com cara de besta olhando para aquela senhora e sem saber o que dizer diante de tamanho absurdo. 
O pior de tudo é que eu não sei ser cínico. Diante daquele descalabro, para parecer simpático, eu tinha que dizer que ela tinha razão e que a falta d’água era um absurdo. Mas eu disse que ela precisava ter caixa d’água e cisterna. Contudo, a senhora insistia comigo que não precisava de reservatório, repetia o tempo todo que “na minha rua nunca faltou água” e ignorava por completo qualquer orientação no sentido de que os tempos são outros, o município está crescendo e que determinados “confortos” típicos de ‘cidade de roça’ não são mais possíveis por conta do aumento do número de habitantes.

Minha gente, se nós ainda temos pessoas que não se importam com o principal reservatório de água de uma moradia, a caixa d’água, imagine se essas pessoas terão o cuidado de construir uma cisterna. Boa parte das casas não tem reservatório suficiente para o número de pessoas. É comum uma moradia com cinco, seis, sete, oito pessoas ter uma caixa d’água de 500 litros. Sobretudo em tempos de pandemia quando a orientação é a constante higienização, como 500 litros de água darão para tanta gente? Hoje, é imprescindível ter uma caixa d’água de pelo menos 2 mil litros e uma boa cisterna para ser acionada naqueles dias que a CEDAE com suas manobras nos deixa sem água.

Outro aspecto importante que pouca gente conhece é que a CEDAE é responsável por colocar água no nível do terreno e não na caixa d’água que por vezes fica no quarto piso da moradia. Isso mesmo. Os filhos vão casando, vão construindo em cima da casa dos pais e a caixa d’água vai ficando cada vez mais no alto dificultando a chegada da água. Por vezes a água chega no terreno, “mas não tem pressão para subir até a caixa d’água”, o que não é responsabilidade da CEDAE. É a mesma lógica dos serviços de energia elétrica e internet. As empresas cuidam do fornecimento até o medidor de energia e/ou até o roteador. Dali para frente a responsabilidade é do dono da casa, que, inclusive, precisa contratar profissional da área para resolver problemas que surjam.

O brasileiro é surreal e em cidades de menor porte esse comportamento é ainda mais evidente. É claro que esse é um tipo de texto que não agrada a população, que só acha bacana quando metemos o pau na CEDAE, na classe política e se recusa a reconhecer que alguns hábitos precisam ser mudados. Não irei vender um peixe podre para os meus leitores e seguidores. Os três textos que escrevi sobre o assunto abordaram de forma abrangente a prestação de serviço que precisa melhorar muito, o aspecto político que deve mudar imediatamente, mas não posso deixar de fora os nossos usos e costumes que por vezes são a principal razão de inúmeros dissabores que enfrentamos.

OBS: tem ainda a prática moderníssima e consciente de colher e armazenar a água da chuva (foto), mas isso aí já é evolução demais. Vamos em frente! #flavioazevedo

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