quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Polícia Federal prende deputado Marcos Abrahão, em Rio Bonito

Flávio Azevedo
Deputado Marcos Abrahão sendo levado pela Polícia Federal, em Rio Bonito.
O Rio de Janeiro acordou nessa quinta-feira (08/11) com a notícia de que a Polícia Federal deflagrou nessa madrugada a Operação Furna da Onça, que cumpre 22 mandados de prisão, sendo 10 deles contra deputados estaduais fluminenses, entre eles o deputado riobonitense, Marcos Abrahão (Avante). A operação é um desdobramento da Lava Jato no Rio e resultado da Operação Cadeia Velha, que prendeu ano passado os deputados Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi.

As viaturas da Polícia e Receita Federal chegaram à casa de Marcos Abraão, por volta das 6h e toda ação foi acompanhada por um procurador do Ministério Público Federal (MPF). Os agentes fizeram buscas na residência, nos carros de Abrahão e na empresa Metal Bonito, antiga Imebra, no bairro Praça Cruzeiro. O deputado Marcos Abrahão seria um dos proprietários dessa empresa.
Os agentes federais levaram cerca de três horas na casa de Marcos Abrahão, no bairro Bela Vista. Deixaram o local, levando o deputado, rumo a sede da Polícia Federal, no Rio. O deputado riobonitense está no seu quarto mandato e foi reeleito no último mês de outubro com 24.261 votos. Numa disputa voto a voto com o Capitão Nelson, o deputado riobonitense só teve certeza da vitória depois de apuradas as últimas urnas. Um vídeo postado nas redes sociais mostrou a apreensão e a vibração do deputado e seus correligionários depois de confirmada a vitória. Abrahão controla pelo menos cinco postos do Detran e ao lado de Paulo Melo é um dos políticos de maior influência na Região.

As investigações apontam que os envolvidos recebiam propinas mensais que variavam de R$ 20 mil a R$ 100 mil – além de cargos – para votar de acordo com o interesse do governo. Segundo a Polícia Federal, o esquema teria movimentado pelo menos R$ 54 milhões. O nome da operação é referência a uma sala localizada ao lado do plenário da Alerj onde deputados se reúnem para rápidas discussões antes das votações.

Os investigados devem responder, na medida de suas participações, pelos crimes de organização criminosa, corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro.

A Operação
O delator Carlos Miranda em depoimento que revelou o esquema que culminou com as Operação da PF.
A investida, desta vez, mira esquema de compra de apoio político de parlamentares. O alvo é o grupo político da base do MDB do ex-governador Sérgio Cabral, que comanda o estado há mais de 10 anos. De acordo com as investigações, a organização criminosa, chefiada pelo ex-governador Sérgio Cabral, pagava propina a vários deputados estaduais, a fim de que patrocinassem interesses do grupo criminoso na Alerj.

O “mensalinho” era resultado de sobrepreço de contratos estaduais e federais. De forma ilícita, os parlamentares eram beneficiados ainda com o loteamento de cargos em diversos órgãos públicos do estado, como o Detran, onde poderiam alocar mão de obra comissionada ou terceirizada. A força-tarefa afirma que o esquema continuou mesmo após as operações do ano passado.


A operação é baseada na delação de Carlos Miranda, gerente financeiro do esquema organizado por Sérgio Cabral. Miranda diz que o dinheiro do ex-governador ia para as mãos dos presidentes da Casa, Jorge Picciani ou Paulo Melo. Cabia a eles repartir a propina com outros integrantes do Legislativo.

Segundo Miranda, no entanto, alguns dos parlamentares também recebiam prêmios de Sérgio Cabral para atender os interesses da quadrilha na Assembleia. As verbas vinham de recursos desviados pelo Executivo estadual, inclusive de obras federais como o PAC.

A investigação também descobriu que os deputados recebiam como contrapartida, além da propina, a disponibilização de postos de trabalho em empresas como o Detran. Os parlamentares indicavam pessoas próximas, como parentes, para os cargos que eram "separados" pelo Poder Executivo.

A operação foi determinada por desembargadores da 1ª Seção Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) e se debruça também sobre a atual gestão do governo estadual, apesar de não haver citação direta ao governador Luiz Fernando Pezão.

Alguns dos alvos da Operação:
Os principais investigados da Operação Furna da Onça.
PODER EXECUTIVO

*Affonso Monnerat, secretário estadual de Governo – preso nesta quinta;
*Leonardo Jacob, presidente do Detran – preso nesta quinta;
*Vinícius Farah (MDB), ex-presidente do Detran, eleito deputado federal – preso nesta quinta.

PODER LEGISLATIVO

*André Correa (DEM), deputado estadual reeleito e ex-secretário estadual de Meio Ambiente – preso nesta quinta;
*Chiquinho da Mangueira (PSC), deputado estadual reeleito e presidente da escola de samba – preso nesta quinta;
*Coronel Jairo (MDB), deputado estadual não reeleito – preso nesta quinta;
*Edson Albertassi (MDB), deputado afastado – já preso em Bangu;
*Jorge Picciani (MDB), deputado afastado – já em prisão domiciliar;
*Luiz Martins (PDT), deputado estadual reeleito – preso nesta quinta;
*Marcelo Simão (PP), deputado estadual não reeleito – preso nesta quinta;
*Marcos Abrahão (Avante), deputado estadual reeleito – preso nesta quinta;
*Marcus Vinícius Neskau (PTB), deputado estadual reeleito – preso nesta quinta;
*Paulo Melo (MDB), deputado afastado – já preso em Bangu;

ASSESSORES E AUXILIARES

*Alcione Chaffin Andrade Fabri, chefe de gabinete e operadora financeira de Marcos Abrahão – presa nesta quinta;
*Daniel Marcos Barbiratto de Almeida, enteado e operador financeiro de Luiz Martins – preso nesta quinta;
*Jennifer Souza da Silva, empregada do Grupo Facility/Prol, vinculada a Paulo Melo – preso nesta quinta;
*Jorge Luis de Oliveira Fernandes, assessor e operador financeiro de Coronel Jairo – preso nesta quinta;
*José Antonio Wermelinger Machado, ex-chefe de gabinete e principal operador financeiro de André Corrêa – preso nesta quinta;
*Leonardo Mendonça Andrade, assessor e operador financeiro de Marcos Abrahão – preso nesta quinta;
*Magno Cezar Motta, assessor e operador financeiro de Paulo Melo – preso nesta quinta;
*Shirlei Aparecida Martins Silva, ex-chefe de gabinete de Edson Albertassi e subsecretária dos Programas Sociais da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia, Inovação e Desenvolvimento Social – preso nesta quinta.
*Carla Adriana Pereira, assessora de registros do Detran – presa nesta quinta.

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