Flávio Azevedo
Diante da possibilidade de Rio Bonito ganhar uma clínica de radioterapia para atender pacientes que fazem tratamento de câncer, o que representa um avanço importante para o setor social e econômico, acaba sendo mais do que necessário refletir sobre os riscos que esses equipamentos oferecem. Aos que insistem em minimizar a preocupação com a radiação e os impactos disso ao Meio Ambiente, eu acredito ser importante destacar o “Acidente Radiológico de Goiânia”, com césio-137, em 13/09/1987.
O caso ganhou as manchetes nacionais e internacionais e se tornou o maior acidente radioativo do Brasil e o maior do mundo ocorrido fora das usinas nucleares. Foram quatro mortos, 151 contaminados graves, 1.143 pessoas afetadas e uma cidade que 31 anos depois ainda é traumatizada com a história do "Acidente Radiológico de Goiânia".
Tudo começou quando os catadores de ferro-velho, Roberto Santos e Wagner Mota encontraram um aparelho utilizado em radioterapias numa clínica abandonada, na Avenida Paranaíba, no centro de Goiânia, em Goiás. Os catadores entenderam tratar-se de sucata, desmontaram o equipamento e venderam as peças, o que gerou um rastro de contaminação que afetou centenas de pessoas.
O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) era uma instituição privada e funcionou naquele endereço entre os anos de 1971 e 1985. Com a mudança de localização, um dos equipamentos foi abandonado no antigo endereço. A clínica foi demolida, mas algumas salas, entre elas a que estava esse aparelho permaneceram de pé.
A cápsula de césio foi aberta no ferro-velho de Devair Ferreira, que comprou o material de Roberto e Wagner. A ideia era reaproveitar o chumbo. O ambiente foi exposto a 19,26 g de cloreto de césio-137 (CsCl), um produto muito parecido com o sal de cozinha, mas que emite um brilho azulado em ambiente escuro. O dono do ferro-velho ficou encantado com o pó, porque ele brilhava no escuro. Devair mostrou a descoberta para sua esposa e distribuiu um pouco do produto para familiares e amigos. O irmão de Devair, Ivo Ferreira, levou um pouco de césio para sua filha, Leide das Neves, de seis anos. A criança tocou na substância e acabou engolindo partículas do césio durante o lanche.
Como as pessoas da família estavam ficando doentes com sintomas parecidos, Maria Gabriela, esposa de Devair, desconfiou que o causador da doença era o pó encontrado pelo marido. Ela e um empregado do ferro-velho levaram a cápsula de césio para a Vigilância Sanitária. Por lá o equipamento ainda permaneceu por dois dias sem ser examinado. Durante uma anamnese com médicos, Maria Gabriela revelou que os vômitos e diarreia da família se iniciaram depois que seu marido desmontou um aparelho estranho que foi encontrado na antiga clínica. Só então, no dia 29 de setembro, uma semana depois do primeiro contato com o césio-137, o alerta de contaminação foi dado.
No dia 23 de outubro, 40 dias depois do ocorrido, morreram Leide e a esposa de Devair. Dias depois, 27/10, morreu, Israel dos Santos, de 22 anos, empregado de Devair que trabalhou na fonte radioativa para extrair o chumbo. No dia seguinte, 28/10, faleceu Admilson de Souza, de 18 anos; outro funcionário de Devair Ferreira, que também trabalhou na fonte radioativa.
À época, o governo de Goiás tentou minimizar o acidente e esconder dados da população. Uma das razões para esse comportamento era a realização do GP Internacional de Motovelocidade que Goiânia recebia naquele fim de semana. O governador Henrique Santillo argumentou que não queria causar pânico aos visitantes e trazer prejuízos ao evento.
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