domingo, 5 de janeiro de 2020

Prefeitura de Rio Bonito e Hospital Darcy Vargas começam o “Ano Novo” em ritmo de “Ano Velho”

Flávio Azevedo
Entre as notícias velhas que continuam no Ano Novo está a queda de braço entre Prefeitura Municipal de Rio Bonito (PMRB) e Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV), relação tensa, padrão Oriente Médio, que se arrasta há pelo menos uma década. Nesses 10 anos a PMRB foi governada pelos dois grupos políticos hegemônicos do município e o hospital teve seis presidentes, quase todos oriundos de um segmento que entre os associados do hospital também é hegemônico: a Maçonaria. Apesar dessa alternância, principalmente a frente do HRDV, a relação entre Prefeitura e Hospital segue reproduzindo com exatidão o conhecido adágio popular: “da briga do mar com o rochedo quem apanha é o marisco”.

Antes de qualquer outra consideração é imperioso parar aqui e destacar em letras garrafais que o HOSPITAL DARCY VARGAS NÃO É PÚBLICO. Ou seja, ele não é da Prefeitura. Isso significa que o prefeito não tem gerência sobre suas atividades e ações. O HRDV faz parte de um conjunto de empresas prestadoras de serviço para o município. Tem empresa que faz ponte, escola e posto de Saúde. Tem empresa que diz fazer manutenção de veículos da Prefeitura. Tem empresa que fornece merenda, ornamenta praça, sonoriza eventos, oferece serviços gráficos... Entre essas empresas está o HRDV que fornece serviços de Saúde.
Todavia, como mais de 80% do faturamento do HRDV tem origem em verba pública, a Prefeitura Municipal, a Câmara de Vereadores e o Conselho Municipal de Saúde; podem e devem fiscalizar a prestação de serviço dessa unidade, sobretudo no setor de Pronto Socorro, custeado integralmente pela Prefeitura de Rio Bonito. Aliás, o estopim da queda de braço entre PMRB e HRDV é sempre o serviço de Emergência. O contrato entre as partes, chamado Plano Operativo Anual (POA), prevê que a Prefeitura pague cerca de R$ 550 mil mensais para custeio do Pronto Socorro. Se o hospital reclama que é pouco a Prefeitura garante que é muito. Entretanto, o órgão de que deve fiscalizar as ações do presidente do HRDV é o Conselho Fiscal que precisa ser chamado a responsabilidade para dar explicações a respeito da sua nítida omissão. 

Outro ponto importante nesse arcabouço de informações sobre essa queda de braço é que o HRDV é uma fonte de poder. Sim amigos! Quem meche com Saúde tem poder, tem influência e tende a ser reverenciado. Desde a antiguidade quem lida com a cura é reverenciado, às vezes, tratado como divindade. Os magos, pajés, médicos, bruxas, barbeiros (que no passado também eram dentistas), alquimistas, parteiras, farmacêuticos e pessoas com atividades relacionadas à Saúde; eram enxergadas pelo prisma da reverencia e/ou do medo.

Abro um parêntese aqui para lembrar que nos dias atuais, em plena pós-modernidade, políticos que se especializam em arrumar vaga para doentes em hospitais importantes dos grandes centros têm status de divindade e esse favor dá a essas figuras uma numerosa quantidade de devotos. Até quem somente transporta doentes para hospitais de referência do Rio de Janeiro acaba sendo colocado num patamar acima dos demais. 

Esse conjunto de cenários precisa ser exposto para entendermos a profundidade da queda de braço entre Prefeitura e Hospital. Além da natureza do hospital, que é prestar serviço no momento que o indivíduo está desesperado, com dor e/ou sofrendo, essa empresa também gera emprego, hoje, cerca de 400 pessoas, o que na equação política representa miseravelmente cerca de 1,6 mil votos (4x4=16).

O cinismo também está presente nessa queda de braço, principalmente quando os prefeitos questionam a gestão do HRDV. Eu concordo que o presidente da entidade, o ex-deputado estadual, José de Aguiar Borges, o Kaki; não é santo. Concordo que os seus atos e ações devem ser fiscalizados, principalmente pelo Conselho Fiscal do hospital. Nessa última década em análise, todos os presidentes foram questionados pela administração do município. Em várias ocasiões o prefeito lançou mão do que eu chamo de “Operação Asfixia” (deixar o hospital sem recursos) para tentar a renúncia do presidente, estratégia que nunca deu certo e que trouxe prejuízos apenas para os usuários do Darcy Vargas.
O curioso é que tanto Mandiocão quanto Solange, os prefeitos que há 27 anos se revezam na Prefeitura de Rio Bonito, integram o quadro de associados do HRDV, conhecem o estatuto que rege as ações da unidade, mas nunca se organizam para assumir o poder por dentro e abertamente. Preferem ficar nas sobras e promover uma guerra fria através dos “vietcongs e vietnamitas” que eles plantam na instituição. Não precisa dizer que também nesse caso quem é penalizado é o usuário do hospital.

Diante de todas essas considerações expostas você já deve ter entendido que a grana para custeio do Pronto Socorro que ainda não foi repassada pela PMRB ao HRDV, é uma cobrança legítima, assim como a suspensão do serviço (informe na foto acima), mas isso é um mero detalhe nessa queda de braço entre Prefeitura Municipal de Rio Bonito e Hospital Regional Darcy Vargas. Parece incrível, mas dos assuntos polêmicos existentes em Rio Bonito, provavelmente esse seja o único que não é possível dar razão a alguém ou culpar apenas uma peça dessa engrenagem. É nítido que todos têm culpa no cartório, todos são igualmente mal intencionados e juntos são responsáveis pelo mau atendimento que é dado ao usuário do hospital. Vamos em frente! #flavioazevedo

Nenhum comentário:

Postar um comentário