Flávio Azevedo
Hoje, durante o Programa Flávio Azevedo, ao noticiar a operação da Polícia Civil e MPRJ que prendeu um miliciano em Rio Bonito (ele morava no bairro Green Valley), eu repeti o meu antigo entendimento: eu não acredito que esses maus policiais e traficantes sejam donos de nada que eles dizem ser deles. Ninguém vai me convencer que meninos pobres, sem estudo, sem nenhuma noção de administração sejam donos de morro e comandantes do tráfico. Também não irão me convencer que policiais mal remunerados, deprimidos, estressados e oprimidos (e picaretas); sejam os verdadeiros comandantes dos grupos paramilitares. Essa gente é apenas a cara do crime, que para funcionar precisa ter na retaguarda a política, os militares e o poder Judiciário.
É claro que um monte de gente que parece viver num mosteiro ou num convento vai aparecer aqui para dizer que eu não posso falar isso, que eu estou viajando, que eu sou muito falador... Mas eis que depois da operação de hoje, a Polícia Civil revelou que está negociando com os advogados dos milicianos do alto escalão do grupo paramilitar um acordo de delação premiada. Caso isso realmente ocorra finalmente será possível desbaratar toda organização criminosa e o mais importante: expor quem está na retaguarda desses criminosos do front.
O assunto está sendo tratado em sigilo e tem coordenação da delegada, Patrícia Alemany; chefe do Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD). Segundo ela, as conversas estão adiantadas. A delegada explicou que foi procurada depois que os acusados tiveram os seus bens e contas bancárias sequestradas por ação da DGCOR-LD.
Estão passando um pente fino nas contas de 5.472 pessoas físicas e jurídicas que apresentaram movimentações atípicas da ordem e R$ 151 bilhões em recursos somente no estado do Rio. É a primeira vez que policiais civis trabalham com uma estrutura voltada para combater o poder financeiro do crime no estado. Em valores, a Justiça já sequestrou cerca de R$ 15 milhões das quadrilhas.
Finalmente alguém aderiu ao mantra que eu repito desde o tempo em que eu atuava na Enfermagem. Tomara que os milicianos façam como fizeram os doleiros pegos na operação Lava Jato. Que abram o bico e revelem tudo. Assim como na Lava Jato chegou-se a ricos empresários, deputados, senadores, governadores, ministros e presidente da República; que a delação dos milicianos revele quem são os bacanas com pose e cara de gente honesta por trás do tráfico de drogas e dos grupos paramilitares.
Encerro pedindo a você que vive xingando traficantes e milicianos, por pensar que eles são donos do pagode, que largue de ser bobo. Esses pobres diabos são apenas a parte mais fraca da cadeia alimentar do crime. Quando morrem ou são presos são rapidamente substituídos por gente substituível. Se as delações realmente acontecerem e a equipe de investigação for fiel aos seus propósitos, eu não tenho dúvidas que nós teremos muitas surpresas nos próximos meses.
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