domingo, 14 de abril de 2019

Debates sobre barragem ofuscam o desmatamento e o desaparecimento dos mananciais

Flávio Azevedo
Hoje eu participei da Audiência Pública que debateu a construção de uma barragem na divisa dos municípios de Rio Bonito e Tanguá. Um fala de lá, outro fala de cá, “a Cedae quer”, “Maricá precisa”, “Rio Bonito não soube”, “Tanguá não sabia”, “é preciso ser solidário”, “a água não tem dono”, #barragemnão, “isso é uma bomba relógio”; todas essas frases foram proferidas pelos presentes na Audiência. Todavia, ninguém por lá pensou na principal atração da audiência: a água. Quem pensou o fez timidamente.

Minha gente, sem água não adianta fazer barragem. Aliás, só estão pensando em fazer esse empreendimento, porque está faltando água. Barragens, represas, diques e qualquer tipo de debate sobre esses equipamentos se tornam uma discussão cretina, quando não abordamos o cuidado com o conteúdo que se pretende armazenar nesses instrumentos.

A água está acabando! Há anos estou produzindo reportagens, textos e matérias; apontando para essa realidade que é tão desalentadora, que as autoridades e a sociedade preferem passar batido sobre o assunto. Estamos desavergonhadamente destruindo a Mata Atlântica. Na cara de pau estamos devastando a Serra do Sambê em toda sua extensão. Os principais estertores de produção hídrica da nossa Região estão nas matas que começam em Cachoeira de Macacu, passando por Tanguá, Rio Bonito, Silva Jardim e se estendem até Casimiro de Abreu.

Todavia, quantas campanhas de reflorestamento, perenes, sérias, honestas, decentes, com prazos, metas, planejamento e objetivos alcançados; nós já vimos serem fomentadas pelo governo do estado e pelas Prefeituras? Nenhuma! Não estou falando de projetos desenvolvidos por amigos de alguma autoridade que visa unicamente botar dinheiro no bolso de alguém. Falo daquela conversa de distribuir camisa e boné, carro de som, plantar meia dúzia de árvores em qualquer lugar para dizer que está conscientizando sobre a importância do Meio Ambiente. Estou falando de coisa séria e não de picaretagens.
Vale ressaltar que a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), que trabalha ‘vendendo água’, não move uma palha no sentido de preservar as nascentes. A Cedae nunca plantou um camará em lugar algum. A Cedae pertence ao governo do estado e esse ente não trata disso. Os setores que dizem tratar de Meio Ambiente geralmente abrigam uma patota preguiçosa que nada produz. E a fiscalização? Essa é omissa, vendida ou não querem se aborrecer, porque quem mais destrói são os graúdos e integrantes dos poderes, Legislativo, Executivo e principalmente o Judiciário. 

Ricaços e gente importante são os primeiros a desviar o curso dos rios para irrigar suas aprazíveis piscinas naturais. Aqui em Rio Bonito, por exemplo, no sítio de um bacana a água desviada do rio passa por dentro da casa do ‘granfino’. O espetáculo é maravilhoso para ele, mas dantesco para a natureza. Quem duvida disso visite a humilde residência do ex-deputado, Paulo Melo; em Lavras. Repito: o espetáculo é belíssimo, mas uma agressão a natureza.

E onde estava a fiscalização quando isso aconteceu? Por outro lado, se a fiscalização chegasse lá e embargasse essa nababesca obra? A decisão do fiscal seria respeitada ou um telefonema afugentaria o ‘abusado e enxerido’ fiscal da propriedade do graúdo?

Debates sobre barragem, piscina, dique, torneira, bica e afins; é apenas uma cortina de fumaça que mostra o quanto as pessoas não estão atentas a uma necessidade que está batendo em nossa porta. Concluo destacando que se seguirmos nessa velocidade destrutiva em poucos anos não teremos água nem para nossas cisternas e caixas d’água, imagine para abastecer barragem!

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