terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

Saúde – A Enfermagem também comete falhas grotescas

Flávio Azevedo
Nessa segunda-feira (11/02), o jornalismo brasileiro perdeu uma das suas maiores referências: Ricardo Boechat. Eu confesso: sou fã do Boechat. Uma das caraterísticas desse profissional de Comunicação era dar voz as pessoas. Era falar exatamente aquilo que você gostaria de dizer. Quando comecei no jornalismo, eu tomei aquela postura como exemplo. 

E nessa tarefa de dar voz a injustiçados e tentar corrigir atos falhos que afetam a vida das pessoas através da minha profissão, eu gostaria de mais uma vez escrever sobre Saúde. Na última semana eu escrevi sobre os “donos das vagas de CTI” nos grandes hospitais do Rio de Janeiro. O texto repercutiu e inúmeras pessoas, inclusive, médicos, me disseram compartilhar da minha indignação.

Hoje, para minha tristeza, eu terei que falar da Enfermagem, minha primeira profissão. Embora eu esteja no jornalismo, eu tenho um enorme carinho pela Enfermagem, pelos amigos que construí nessa profissão e guardo cada experiência dos 15 anos que vivi na área da Saúde.

Na última sexta-feira (08/02), quando terminou o Programa Flávio Azevedo, eu fui procurado na Rádio Jornal 1340 AM – Leste Fluminense, por uma antiga colega de Enfermagem. Ela é funcionária da rede municipal de Rio Bonito e presta serviço para o município há 28 anos. Ela me contou que em meados de 2018, começou se preparar para fazer uma cirurgia. Descobriu um problema de Saúde e começou a bateria de exames pré-operatórios. Um deles foi um Preventivo, colhido na Clínica da Família, no mês de setembro. Um mês depois o exame estava pronto, mas a paciente não conseguiu encontrá-lo.

Começa então uma cruzada na busca pelo resultado do exame Preventivo. Ninguém localizou. Não estava na Clínica da Família, não estava na Secretaria de Saúde... Foi extraviado. Moradora do Parque Indiano, a paciente falou com um, falou com outro, até que uma Enfermeira decidiu comprar o barulho e investigar o paradeiro do resultado do exame. 

Para nossa surpresa, o resultado do Preventivo foi localizado no posto de Saúde do bairro onde ela mora. Ainda não se sabe se foi extravio ou se foi mandado para lá porque a paciente é moradora do bairro. Não há explicações. Seis meses depois, ela já tinha perdido a cirurgia e o resultado do exame foi encontrado no posto Saúde praticamente do lado da sua casa. 

Indignada, ela questionou a enfermeira, responsável pelo posto de Saúde do Parque Indiano, “por que não entregou o Preventivo, uma vez que estava pronto desde outubro de 2018”. A resposta da profissional foi reveladora. Ela teria dito que “o exame foi colhido noutro posto e por isso ela não teria obrigação de correr atrás dessa paciente”. Mas não foi só a perda da cirurgia que causou indignação. Segundo a paciente, nesse posto de Saúde tem uma pasta cheia de resultados de exames. “A enfermeira me disse ter resultados que estão lá há bastante tempo, ninguém busca e eu não vou correr atrás, porque não é minha responsabilidade”, teria dito a enfermeira.

Ao comentar com algumas pessoas que levaria o caso ao jornalista Flávio Azevedo, a paciente disse ter ouvido que não adiantaria qualquer tipo de cobrança, porque a referida enfermeira está no rol dos “protegidos” da secretária de Saúde e dificilmente alguém vai mexer com ela.

Voltando ao que aprendi com o agora saudoso, Ricardo Boechat; eu não sei se esse texto vai ajudar a resolver essa questão. Sinceramente, eu não sei se os extravios de resultados de exames irão acabar ou se a enfermeira vai tomar uma bronca. Mas o meu papel de mostrar fatos que precisam ser corrigidos e minha atribuição de narrar acontecimentos que envolvem a depauperada Saúde Pública brasileira eu não posso deixar de cumprir.

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