Flávio Azevedo
A Igreja Verde Vale, do Centro de Rio Bonito, na noite desse domingo (24/06), celebrará um culto especial. O casal, Aila e Fabiano Santos, que no último domingo (17) perdeu o seu filho Álvaro, de 19 anos, num acidente de trânsito, no Centro de Rio Bonito, convida os amigos a marcarem presença nesse momento de “louvor a Deus pelo sacrifício de Jesus”. Essa é a definição dada ao culto no convite que Fabiano postou em seu perfil no Facebook. Os membros da Igreja Verde Vale estão mobilizados na tarefa de amparar o casal e ajuda-los a amenizar a dor da perda.
Aqui eu quero aproveitar a oportunidade, para me pronunciar sobre a repercussão que gerou um comentário que eu fiz numa postagem do coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) de Rio Bonito. Ele postou a foto de um dos acidentes de trânsito que ocorreram em Rio Bonito, nesse fatídico domingo (17), dia da estreia da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de Futebol. A foto mostrava um acidente, ocorrido a tarde, na Mangueirinha, próximo ao ambulatório Loyola.
Antes de ser jornalista eu sou Técnico de Enfermagem. Atuei nessa profissão por 15 anos. Seja a serviço do Hospital Regional Darcy Vargas ou a serviço do SAMU, as minhas experiências pessoais me dizem que acidentes de Trânsito, sobretudo em tempos festivos, e principalmente em dias de jogo do Brasil, tem o seu nascedouro no exagero. Exagero de velocidade (moto ou carro), exagero no consumo de bebidas alcoólicas e outras substâncias, exagero ao extravasar alegria que junto dos arroubos da juventude ganha contornos preocupantes e imponderáveis.
Não foram poucas as vezes que eu vi profissionais de Saúde empenhados em manter a vida de alguém que se feriu por exagero. Vi várias vezes esse empenho atrasar e/ou impedir o atendimento de outras pessoas que sofreram um mal súbito. Não vamos atender os exagerados? Claro que vamos! Mas as consequências, diretas e indiretas, desses exageros precisam ser pensadas por todos nós.
Na postagem feita pelo coordenador do SAMU, eu fiz um comentário externando exatamente o que escrevi nos dois parágrafos anteriores. Detalhe: essa não é a impressão do jornalista, mas do profissional de Saúde. Concordo que o texto foi muito duro e entendo aqueles que o classificam como cruel. Aproveito para pedir desculpas pelo desconforto que as minhas palavras causaram. Tenho certeza que eu poderia ter escrito a mesma coisa de forma menos dura e contundente.
Mas essa ainda não é a razão principal desse texto. Eu não sei com qual intenção e por quais fatores, alguém associou as minhas palavras escritas na postagem do acidente ocorrido na Mangueirinha, com o trágico acidente da noite de domingo (17), ocorrido no Centro, onde infelizmente o jovem Álvaro acabou falecendo.
A coisa ganhou proporção e dois entendimentos totalmente equivocados foram criados. Um deles sobre o meu comentário, que não é matéria nem reportagem, não foi sequer escrito em minhas mídias... Foi o comentário de um profissional de Saúde (que as pessoas podem discordar) na postagem de outra pessoa. O outro equívoco, e o mais grave, é associar as vítimas de ambos os acidentes ao quadro de exageros por mim apontados. E desculpem-me a franqueza: se falta bom senso ao meu comentário me parece que está faltando compreensão de texto e contexto a muitas pessoas.
E pior: se de um lado um monte de gente passou a pintar o Flávio Azevedo como “um ser das trevas” pelo seu duro e inoportuno comentário, de outro lado muitos passaram a classificar os acidentados do último domingo (17), a luz do que escrevi, como “bêbados, presepeiros e irresponsáveis”. Como assim, gente? Pelo amor de Deus! Embora eu tenha usado esses termos, isso não significa que essas pessoas estivessem nessa condição. Aliás, quando o meu comentário foi escrito, eu desconhecia a existência de outro acidente. O que escrevi não foi direcionado para nenhuma dessas pessoas, embora eu entenda ser importante refletirmos sobre os exageros que nessas ocasiões se avolumam.
O que dizem do Flávio Azevedo, sinceramente, não me incomoda, mas a impressão de algumas pessoas sobre os envolvidos nos acidentes, sobretudo o jovem Álvaro, me preocupa. Toda essa história deixa uma coisa muito clara: o exagero é um problema de todos nós. Eu exagerei no meu comentário e muita gente está exagerando e até deturpando o que eu escrevi. Se muitos entendem como absurdas as minhas colocações, outros adotaram o comportamento por mim descrito como o perfil desses acidentados. Não é nada disso!
As minhas impressões de 15 anos de atuação na Enfermagem apontam o exagero e incontinência juvenil como principais causas para os acidentes de Trânsito, mas isso não significa que todo acidente acontece por conta disso. Para toda regra existe uma exceção e estamos claramente diante de uma dessas exceções. Eu e mais ninguém podemos rotular como irresponsável e presepeiro (termos usados por mim no comentário) os envolvidos nesses acidentes do domingo (17), apesar das minhas experiências. Cada caso é um caso!
Penso que já me fiz entender (pelo menos aos de boa vontade) e reitero o meu pedido de desculpas pelo desconforto que eu causei, sobretudo a esses acidentados. Que o culto desse domingo (24/06), promovido na Igreja Verde Vale, seja de conforto, consolo, esperança e de recomeço para todos nós.
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