quinta-feira, 26 de abril de 2018

Joãozinho e o lobo ilustram as peraltices da juventude

Flávio Azevedo
Em virtude do principal acontecimento das últimas 48h em Rio Bonito, o desaparecimento de uma jovem, que segundo postagens de familiares não foi bem um desaparecimento (a moça já foi encontrada, está bem e em segurança), eu decidi que não darei mais publicidade a esse tipo de informação (desaparecimentos). Aliás, em virtude da trama que envolve os últimos desaparecimentos registrados nessa Fanpage, penso ser oportuno refletir numa estorinha que papai e mamãe me contavam quando eu era criança.

Joãozinho morava com a família numa aldeia próxima a uma floresta. A mata era conhecida pelos seus perigos, sobretudo pelos animais ferozes. O bichos mais temidos eram os lobos. Quando Joãozinho completou certa idade e começou andar desacompanhado, conhecedor que era das histórias envolvendo os ferozes animais, ele teve uma ideia. Subiu numa ladeira próxima a aldeia e começou a gritar por socorro.
– Acudam! Socorro! O lobo quer me pegar! Socorro! Ele vai me devorar!
Os gritos de Joãozinho chegaram a aldeia. Os vizinhos do menino, entre eles alguns caçadores, armados com suas espingardas correram para salvar Joãozinho das garras do lobo.

Encontraram Joãozinho, numa clareira, dando gargalhadas e mangando daqueles que vieram salvá-lo. Era uma peta do garoto. Com cara de poucos amigos, os vizinhos do menino, que não parava de rir, retornaram aos seus afazeres fulos da vida com aquela travessura.

Diz o relato que uma semana depois, outra vez Joãozinho subiu a ladeira e danou a gritar por socorro. Desconfiados com a peraltice do garoto, os aldeões não deram importância. Mas diante do choro e pavor na voz de Joãozinho, que dizia estar o lobo prestes a devorá-lo, alguns homens se sensibilizaram e subiram a ladeira, porque, agora, parecia ser sério.
Para desapontamento dos poucos que ainda acreditavam em Joãozinho, ao chegarem à clareira, o menino estava roxo, mas roxo de tanto rir daqueles que vieram salvá-lo. Os vizinhos juraram que o arteiro filho do seu João não lhes pregaria mais nenhuma peça e retornaram as suas atividades.

No dia seguinte, na trilha da floresta que conduzia à escola, ouviu-se um grito de dor. “É o lobo! Socorro... Ele vai me devorar! Socorro gente... Ele está me matando!”. 
Num primeiro momento o pedido de socorro impressionou os aldeões, mas eles reconheceram a voz de Joãozinho. “Dessa vez essa maroto não engana a gente”, pensaram. Os gritos de horror continuavam, mas as pessoas não deram importância ao matreiro menino que acabou ficando quieto.

Naquela noite Joãozinho não regressou para casa. Já era tarde, quando o velho seu João, pai do menino, saiu pela casa dos vizinhos em busca do filho. O garoto, porém, não estava em lugar algum. Segundo velho e preocupado pai, Joãozinho não tinha voltado da escola, não apareceu para lanchar, tão pouco veio jantar.

Iniciou-se uma busca por Joãozinho, que logo foi encontrado. Estava morto. O corpo do menino estava todo dilacerado. Sinais de garras e mordidas marcavam todo seu corpo, inclusive, a garganta. O corpo de Joãozinho estava próximo da aldeia. Os rastros na terra fofa denunciavam que ele foi atacado não por um lobo, mas por toda alcateia. Parecia que ele tentou fugir, até conseguiu, mas os lobos foram mais rápidos, alcançaram o menino e lhe tiraram a vida.

MORAL DA HISTÓRIA: por conta das brincadeiras de mau gosto, Joãozinho perdeu a credibilidade e seus gritos de socorro foram ignorados. Espero ter sido claro quanto a decisão de não fazer mais publicações sobre desaparecidos e que fique a lição!

PS: a fábula original, que tem o título “O Pastor Mentiroso”, o personagem chama-se Pedro e os lobos atacam suas ovelhas. O autor seria o grego, Esopo. Séculos depois, os irmãos Grimm reeditaram a estória. Mas essa versão escrita por mim nesse texto eu ouvia dos meus pais quando era menino. #flavioazevedo

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