quarta-feira, 3 de outubro de 2018

O Fenômeno BOLSONARO

Flávio Azevedo
O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) é deputado federal.
É inacreditável que um candidato a presidente da República de um partido nanico, sem tempo de TV, que na maior parte da campanha esteve hospitalizado, que usa um discurso conservador, severo e nada “politicamente correto”; esteja garantido no 2º Turno das eleições e com chances reais de levar a disputa ainda no 1º Turno. Enquanto parte da população esperneia diante do cenário apontado pelas pesquisas, fazem passeatas e manifestações contra o deputado federal, Jair Messias Bolsonaro (PSL); eu prefiro analisar as causas daquilo que eu chamo de “Fenômeno Bolsonaro”.

Uns falam em descrença, outros em desespero, há quem culpe a Educação, há quem culpe o voto da revolta... E sobre esse quesito eu gostaria de estacionar minhas reflexões. Com o que exatamente boa parte da sociedade está revoltada? Que fatos e fatores levaram tantas pessoas a se revoltar? Há quem aponte a corrupção, outros citam a violência, há quem destaque o porte de arma... Minha gente, o “Fenômeno Bolsonaro” é sustentado sobre esses pilares, mas a tradição e os usos e costumes são os seus pilares principais.

A crença em “Deus” e a valorização da “família” palavras muito utilizadas pelo presidenciável são as torres de sustentação do “Fenômeno Bolsonaro”. Eu arrisco dizer que 70% do eleitorado do capitão da reserva não é Bolsonaro, mas as circunstâncias os levaram a encampar o seu discurso. Poucos estão preocupados com a acusação de “fascistas”, porque Bolsonaro conseguiu materializar em seu projeto valores morais que muitos julgavam extintos, mas que na verdade estavam apenas adormecidos.

Ao contrário do que se pensa, corrupção e violência apenas emolduram a tela onde os pensamentos tradicionais e conservadores se misturam para formar essa pintura que está diante de nós. A mídia e as minorias (são menores, mas fazem mais barulho) não percebem que a maior parte da sociedade é conservadora, tradicional e discorda de tudo aquilo que tem invadido as programações de TV a qualquer hora do dia ou da noite sob o argumento de que as liberdades individuais precisam ser respeitadas.

Corrupção sempre houve, violência existe desde a criação do mundo, mas nunca na história desse país os conteúdos de novelas e séries foram tão erotizados. A questão da sexualidade e gênero expostos na grade televisiva, em músicas e textos, não agrada a maior parte da sociedade. Por mais que muitos tenham no seu íntimo uma boa dose de perversão e devassidão, o conservadorismo faz com que sejam contrários a exposição daquilo que praticam em segredo.

Há quem classifique essa postura como “século 19”, outros discordarão com veemência da presente narrativa, alguns irão discordar, embora no íntimo concordem com as reflexões aqui elencadas... Minha gente a situação é tão complexa que tanto quem integra o grupo libertário quanto os conservadores se recusam o tempo todo a pensar no tema, porque ambos ficam constrangidos quando olham para o próprio umbigo e enxergam um “libertino” ou um “carola”.

Diante desse cenário que ambos os grupos preferem deixar trancafiado, o melhor a fazer é bancar o desentendido, culpar o Partido dos Trabalhadores “pela bagunça que impera no país”; e não reconhecer que a sociedade é conservadora, tradicional e frontalmente contrária ao que se convencionou chamar de “liberdades individuais”. O deputado Bolsonaro fez uma aposta. Ele conseguiu identificar esse cenário, passou a pregar aquilo que a maioria conservadora quer ouvir, fez o grupo que nutre valores tradicionais ter ojeriza pelos libertários e de pé sobre esses pilares pode chegar despretensiosamente a presidência do Brasil.

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