domingo, 5 de abril de 2020

Tragédia anunciada na Saúde de Rio Bonito

Flávio Azevedo
Na manhã desse sábado (04/04) eu acompanhei uma ‘live’ onde médicos do Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) de Rio Bonito deram orientações sobre o Covid-19. Esclarecimentos para lá, informações pra cá, o tema que mais chamou minha atenção veio do médico, Estevão Braga (na foto de jaleco); que enfatizou alguns problemas que os profissionais de Saúde estão enfrentando. São eles: a escassez de insumos, a falta de material de trabalho, a desvalorização profissional e a consequente insegurança para exercer suas funções.

Desde sempre os profissionais de Saúde atuam na lógica do “fazer o melhor na condição que têm esperando que as coisas melhorem para fazer melhor ainda”. Todavia, como nós estamos falando de Corona Vírus, se não tivermos uma atenção especial para questão da proteção das equipes de Saúde, quando as coisas melhorarem não haverá profissional para fazer o melhor, porque eles estarão doentes, em quarentena e alguns podem até ter morrido.

Alguém do HRDV me confidenciou que a direção da unidade está encontrando dificuldades para contratar médicos, porque esses profissionais estão sendo muito disputados no mercado por conta dos Centros de Triagem (hospital de campanha) que estão sendo construídos em vários lugares. Sobretudo os médicos tarimbados e experientes estão sendo disputados a peso de ouro.

Acontece que quando o HRDV entra na fila de contratações, a unidade é preterida pelos profissionais, porque os salários praticados no Darcy estão abaixo do que é indicado pelos órgãos de classe, nessa unidade o profissional trabalha sobrecarregado, a notícia das constantes faltas de insumos e material de trabalho assusta os profissionais e o mais grave: o Hospital Regional Darcy Vargas é conhecido como a unidade onde o presidente da instituição tem o costume de não pagar direitos trabalhistas como insalubridade, adicional de periculosidade, adicional de ambiente fechado, entre outros.

Na lógica do “cada cachorro que lamba a sua caceta” (o termo chulo é para ver se finalmente você se toca sobre o que está acontecendo), a maior parte da população está preocupada com o aumento dos preços nos mercados, com as contas que estão chegando e não há dinheiro (e não estão errados), com as igrejas e bares que estão abertos, com a fila que se forma em determinados pontos da cidade, se o hospital tem respiradores e leitos suficientes etc. 
A impressão que tenho é que as pessoas ainda não perceberam que se seguirmos nesse roteiro onde faltam insumos, medicamentos e equipamentos de proteção individual (EPI); quando ficarmos doentes não haverá profissionais de saúde suficientes para nos socorrer. E aí? O que adianta ter CTI, leito, respirador e vaga, se não tem profissional de Saúde para atender o doente? Vai ser você morrendo de um lado e o medico morrendo do outro, numa competição para ver quem chega primeiro na porta do céu ou no caldeirão do capeta.

Espero ter sido claro a respeito do que está acontecendo. Os médicos na sua polidez e fineza não conseguem dizer abertamente o que está havendo. Mas como eu entendo que essa parada de polidez é para carro chique envernizado, eu prefiro usar o meu método claro e pragmático de comunicar – eu chamo de tecla sap – para você entender o que está acontecendo em Rio Bonito.

O pedido de socorro é dos médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas, assistentes sociais, psicólogos, aqueles que varrem o chão, aqueles que servem o alimento dos internados, quem entra no setor contaminado para consertar o chuveiro ou a cama que está subindo e descendo entre tantos outros. O cenário é extremamente sombrio, mas precisamos ir em frente! #flavioazevedo


Um comentário:

  1. Eu,como voce,que somos conhecedores dos bastidores da saude,sabemos,que neste momento em que a sociedade encotra-se vulneravel,a preocupacao dos gestores nao é fazer o melhor para populacao,e sim,pra eles,sao poucos os que realmente estao preocupados com a situacao.
    Infelizmente acabou a lua de mel do hospital com a prefeitura

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