Flávio Azevedo
Marielle Franco estava no seu primeiro mandato. Ela recebeu 46 mil votos nas eleições municipais de 2016. |
Um sorriso largo, boa formação acadêmica, muitas ideias na cabeça. Alguém que usava o mandato para amparar e empodeirar as minorias... É como enxergo a vereadora Marielle Franco; executada na cidade do Rio de Janeiro, na noite dessa quarta-feira (14/03), por volta das 21h. Para mim o que menos importa, agora, é o seu partido (Psol), o fato de ela ser negra e ser mulher. A sua condição de ativista que se colocava em posição de enfrentamento da violência também não acho relevante.
O que atrai a minha atenção para mais essa triste história é que mais uma pessoa morre por conta da Violência, fenômeno social que Marielle conhecia bem, seja pela sua condição de socióloga, seja por conta da sua origem: a comunidade da Maré. Enquanto especialistas darão as repetidas opiniões sobre violência, enquanto ativistas de esquerda e direita estarão oferecendo pensamentos raivosos e deselegantes, a realidade é que Marielle ingressa na estatística que tem jovens pobres e negros de comunidades cariocas e dezenas de policiais.
Se especialistas, sociólogos, antropólogos, políticos e a própria sociedade, não conseguem encontrar um caminho para frear a escalada da violência no Rio, um ilustre cidadão carioca, preso na penitenciária de segurança máxima de Porto Velho, em Rondônia; tem soluções. Formado pela universidade da vida, a mais eficaz que se tem notícias, Antônio Bonfim Lopes, o “Nem da Rocinha”, em entrevista ao jornal El País (Espanha) apontou caminhos para solucionar o problema.
Nem da Rocinha é uma "Caixa de Pandora". Se fizesse delação premiada incriminaria muito vagabundo engravatado com pose de honesto. |
Condenado a 96 anos de prisão pelos crimes de formação de quadrilha, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, Nem da Rocinha disse que “para acabar com o tráfico, é preciso legalizar as drogas”. Ele acrescenta que “não adianta” apenas legalizar as drogas, é preciso falar sobre isso nas escolas, explicar desde cedo o que é a droga e seus efeitos. Numa demonstração de que sabe o que está falando, o condenado faz um alerta: “Dizer apenas “droga é ruim, não use”, não resolve, porque o jovem “tem curiosidade” sobre o assunto”, frisa o traficante, reiterando que “o Estado pode lucrar com a venda ou cobrança de impostos de um comércio legal”.
Na entrevista ao El Pais, o traficante critica a intervenção na Segurança Pública do Rio e afirma que “vai dar em nada”. Na sequência ele faz outra revelação que é do conhecimento de todos, mas poucos têm coragem de falar.
– Os políticos sabem como resolver o problema da violência, mas “sabem que não serão reeleitos”. Para acabar com a violência é preciso investimento em educação e políticas sociais que não têm retorno na urna em curto prazo – disse o traficante.
Diante das declarações de Nem da Rocinha e da nítida conivência das autoridades em relação a essa multinacional que importa e exporta drogas, a pergunta, “quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?”, ecoa no ar. Finalizo acrescentando que entre tantos remédios apresentados sobre o assunto, o único que me parece razoável, curiosamente, parte de Nem da Rocinha... Talvez seja por isso que ele esteja preso.
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