Flávio Azevedo
Algumas reportagens me irritam antes de ler. Essa, por exemplo, veiculada pelo jornal O Globo desse domingo (15/07), só o título e a pequena narrativa da primeira página me deixa com náuseas. Não precisa ser especialista, pesquisador e ler a íntegra da matéria para ter certeza do óbvio: o professor é o profissional mais agredido no Brasil. É agredido por alunos mal criados, por responsáveis imbecis e por governos corruptos, que descaradamente roubam e desviam recursos da Educação.
O mais grave é que a sociedade assiste esse cenário dantesco sem achar estranho. No Brasil, boa parte das pessoas acredita que os policiais estão aí para morrer. Isso se comprova quando não existe qualquer indignação da sociedade diante das notícias de que em seis meses, somente no Rio de Janeiro, quase 70 policiais já foram assassinados.
Com o professor é igual. Muita gente boa acredita que o professor está aí para ser bucha! Essa gente pensa que o profissional de Educação tem por função receber agressão de alunos sem educação familiar; pais desajustados que transferem suas responsabilidades para a escola; e por políticos vagabundos que infestam os governos em todas as suas esferas de poder.
Mas a agressão institucional é a mais grave. Salários ridículos, escolas sucateadas, políticos roubando o recurso da Educação; formam um tripé para destruir a Educação, mas nós fingimos não ver. Pior que isso tudo é a agressão que parte da própria categoria. Estou falando de pessoas de personalidade enfraquecida que se aliam a estrutura corrupta para dar normalidade ao cenário de destruição que governantes ladrões provocam e o mais incrível: perseguir os seus iguais.
No melhor estilo “Capitão do Mato” – para quem não sabe, o capitão do mato que castigava negros rebeldes e fujões era negro – professores por todo Brasil assumem gestão escolar, cargos de coordenação, Secretarias de Educação; com o único propósito de desconstruir a Educação, pregar que é normal o sucateamento das escolas, que é legal o aparelhamento do setor, que é necessário o desvio de recursos da Educação para outros setores da administração pública; e para perseguir quem resiste a essa estrutura de violência contra o professor.
A indignação com as notícias de professores agredidos por alunos se avoluma quando se percebe que o Estado, a sociedade e para nosso horror, a própria categoria também agride os profissionais de Educação de forma muito mais sórdida, dolorida e bem mais profunda que se imagina!
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