segunda-feira, 2 de julho de 2018

O Futebol está ficando chato

Flávio Azevedo
Jogadores brasileiros comemoram o gol escondendo o rosto numa suposta referência ao Quico do seriado mexicano Chaves.
O atacante Neymar tem sido duramente criticado por cair, rolar, simular situações, enrolar... Beleza! Em meio a toda discussão sobre o comportamento do Neymar começa a partida Bélgica e Japão. A equipe japonesa mete 2x0, mas permite que os belgas virem o placar para 3x2. Diante do resultado, os mesmos caras que criticam as simulações do Neymar são os primeiros a chamar os japoneses de “inocentes”. Dizem que quando os japoneses fizeram 2x0 eles tinham que acabar com o jogo, “porque o importante é conseguir classificar para a próxima fase”.

Cresci vendo equipes argentinas, sobretudo na Taça Libertadores, levando vantagem sobre os times brasileiros. Terminados os jogos, eu me lembro dos comentaristas enchendo a boca para dizer que “o jogador brasileiro precisava aprender de malandragem e catimba com os argentinos”, especialistas em conquistar classificação em competições mata-mata. O curioso é ver esses mesmos comentaristas criticando Neymar porque ele cai, rola e faz ‘migué’ para tapear a arbitragem e esfriar a partida.

No auge da carreira com a camisa do Flamengo, o irreverente Renato Gaúcho sempre pedia silêncio quando desequilibrava a favor do seu time.
Outra coisa: eu cresci vendo Romário, Edmundo, Túlio Maravilha, Renato Gaúcho e outros craques; promovendo os clássicos entre os principais clubes cariocas com frases de efeito, sarro, tirando onda um com o outro... Todos esses jogadores em algum momento, ao comemorar o gol, implicaram com a torcida adversária. O dedo em riste pedindo silêncio ao torcedor do outro clube eram marcas registradas de Romário e Renato Gaúcho.

Quem não se lembra de Viola, folclórico atacante do Corinthians, imitando um porco, logo depois de fazer o gol da vitória do “Timão” sobre o Palmeiras? O clube paulista é simbolizado por um porco. Na vitória de hoje contra os mexicanos, os jogadores brasileiros pareciam imitar o choro do Quico, o colega do Chaves, do célebre seriado mexicano.Rapidamente a CBF e alguns jogadores saíram dizendo que “não, aquela brincadeira era uma referência a um jogo de videogame que eles jogam”.
No seriado "Chaves", o menino Quico, quando está triste, se machuca ou enfrenta algum problema vai chorar num cantinho especial da vila em que mora.
Que pena! A ideia de representar o Quico naquela hora foi extremamente original, divertida e eu não estou nem aí para a explicação da CBF! Vou ficar com a versão que aponta a comemoração como uma referência ao Quico, um personagem mexicano. Repito: a ideia foi extremamente original!

Nos últimos 20 anos, o aspecto físico vem acabando com a beleza e a plástica do Futebol. Agora, nem comemorar os caras podem! Gente, Futebol é diversão, é lazer é alegria. Eu concordo que esse Esporte é um dos ativos mais importantes do Brasil, é preciso haver respeito com o outro, mas para continuar valorizado, a alegria, essência do futebol, tem que ser mantida. Os nossos atletas precisam ser disciplinados como os europeus, mas não podem perder a alegria e o ‘migué’ sempre fará parte do Futebol.
Viola imita porco no primeiro jogo da final do Paulistão de 1993 (Foto: Agência Estado).
Curiosamente, logo eu que sou tão chato e avesso a brincadeiras; tenho que ir para o outro lado do balcão para alertar sobre esse excesso de bom mocismo que estão exigindo dos nossos jogadores e criticar a ditadura do politicamente correto, que já está chato! #flavioazevedo

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