Flávio Azevedo
O brasileiro, que sem motivos já é chegado a uma fila, quando tem razões aproveita a oportunidade. |
Manhã dessa segunda-feira (14/01), ao lado do Supermercado
Tinoco, uma fila imensa se formava. Alguns pensaram que as pessoas estavam de
olho numa suposta promoção do dito comércio, mas não era. Eram os eternos
apaixonados por emprego público que, enfileirados, aguardavam as inscrições para
um suposto processo seletivo da Secretaria de Educação (que funciona sobre o
Tinoco).
A tecnologia ajudou a aumentar a fila, porque de telefonema
em telefonema, de torpedo em torpedo, as pessoas foram tomando conhecimento do
fictício processo seletivo, foram chegando e a fila só aumentava. A verdade é
que não havia processo seletivo nenhum. Algum espírito de porco, nos últimos
dias, inventou a historia de um suposto processo seletivo. Como esses instrumentos
são realizados meio que “debaixo de quieto”, os interessados acharam melhor
arriscar na fila do que ficar de fora. Conclusão: o governo muda, mas as
pessoas não!
Feita a postagem do texto acima no Facebook, um monte de
gente gritou, se sentiu ofendida, sobretudo com o termo “eternos apaixonados
por emprego público”. Acredito que essas pessoas não conhecem bem Rio Bonito e não
entenderam a pretensão da postagem. O problema não é a paixão pelo emprego público
(pena que boa parte dos efetivos não tem a mesma paixão e determinação dos
contratados). A questão é que não existe apenas a Prefeitura como tábua de
salvação como querem nos fazer acreditar.
Acredito que realmente são deprimentes algumas questões,
principalmente o caso de pessoas que estão contratadas há tanto tempo, mas apesar
do bom trabalho desempenhado, correm o risco de ficar de fora porque algum
puxa-saco entrou no seu lugar. Contudo, quando eu trabalhei no emprego público,
sempre tive a expectativa de sair e não estou mais lá. Todavia, quando eu estava
cursando enfermagem (início dos anos 90), eu conheci pessoas que já eram
contratadas e, hoje, continuam do mesmo jeito... E, detalhe: reclamando sempre.
Muita gente, com condições menos favorecidas, correu atrás,
e, hoje, fazem outra coisa. Outros, aos trancos e barrancos, conseguiram concluir
o curso superior e mudaram o status de vida. Outros, porém, ainda estão nesse
sofrimento descabido de a cada quatro anos precisarem “tomar bênção” a alguém
para poder sobreviver. Como pode? Como suportam?
Tem gente que mesmo com formação, gente que pode montar o
próprio negócio, não busca, não cava, não procura... Falta disposição para
correr em busca de algo melhor. Amigo, eu sou jornalista, mas em Rio Bonito não
existe faculdade de jornalismo. Muitos colegas, filhos de famílias humildes,
que se formaram comigo no segundo grau (técnico de enfermagem), hoje, já concluíram
a faculdade de Enfermagem, Fisioterapia, entre outras; mas Rio Bonito não tem
faculdade dessas graduações.
Penso que já chega dessa nossa síndrome de vira-latas. Chega
de se conformar com a frase “a minha única opção é o contrato”. E, sobretudo os
mais jovens, precisam ser encorajados a acreditar que é possível ser alguém em
Rio Bonito sem precisar ir para Niterói, RJ, SP, Japão, Tibete, Nicarágua, Sudão,
EUA ou Austrália. A essência dessa questão são duas. A primeira é que querem
nos fazer acreditar que não é possível ser alguém em Rio Bonito sem ter
"linhagem real". A segunda é que muitos jovens, além de acreditarem
nessa falácia (tem que ter linhagem real), ainda reproduzem esse discurso
perverso.
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