segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

As lições do suposto processo seletivo


Flávio Azevedo

O brasileiro, que sem motivos já é chegado a uma fila, quando tem razões aproveita a oportunidade.
Manhã dessa segunda-feira (14/01), ao lado do Supermercado Tinoco, uma fila imensa se formava. Alguns pensaram que as pessoas estavam de olho numa suposta promoção do dito comércio, mas não era. Eram os eternos apaixonados por emprego público que, enfileirados, aguardavam as inscrições para um suposto processo seletivo da Secretaria de Educação (que funciona sobre o Tinoco).

A tecnologia ajudou a aumentar a fila, porque de telefonema em telefonema, de torpedo em torpedo, as pessoas foram tomando conhecimento do fictício processo seletivo, foram chegando e a fila só aumentava. A verdade é que não havia processo seletivo nenhum. Algum espírito de porco, nos últimos dias, inventou a historia de um suposto processo seletivo. Como esses instrumentos são realizados meio que “debaixo de quieto”, os interessados acharam melhor arriscar na fila do que ficar de fora. Conclusão: o governo muda, mas as pessoas não!

Feita a postagem do texto acima no Facebook, um monte de gente gritou, se sentiu ofendida, sobretudo com o termo “eternos apaixonados por emprego público”. Acredito que essas pessoas não conhecem bem Rio Bonito e não entenderam a pretensão da postagem. O problema não é a paixão pelo emprego público (pena que boa parte dos efetivos não tem a mesma paixão e determinação dos contratados). A questão é que não existe apenas a Prefeitura como tábua de salvação como querem nos fazer acreditar.

Acredito que realmente são deprimentes algumas questões, principalmente o caso de pessoas que estão contratadas há tanto tempo, mas apesar do bom trabalho desempenhado, correm o risco de ficar de fora porque algum puxa-saco entrou no seu lugar. Contudo, quando eu trabalhei no emprego público, sempre tive a expectativa de sair e não estou mais lá. Todavia, quando eu estava cursando enfermagem (início dos anos 90), eu conheci pessoas que já eram contratadas e, hoje, continuam do mesmo jeito... E, detalhe: reclamando sempre.

Muita gente, com condições menos favorecidas, correu atrás, e, hoje, fazem outra coisa. Outros, aos trancos e barrancos, conseguiram concluir o curso superior e mudaram o status de vida. Outros, porém, ainda estão nesse sofrimento descabido de a cada quatro anos precisarem “tomar bênção” a alguém para poder sobreviver. Como pode? Como suportam?

Tem gente que mesmo com formação, gente que pode montar o próprio negócio, não busca, não cava, não procura... Falta disposição para correr em busca de algo melhor. Amigo, eu sou jornalista, mas em Rio Bonito não existe faculdade de jornalismo. Muitos colegas, filhos de famílias humildes, que se formaram comigo no segundo grau (técnico de enfermagem), hoje, já concluíram a faculdade de Enfermagem, Fisioterapia, entre outras; mas Rio Bonito não tem faculdade dessas graduações.

Penso que já chega dessa nossa síndrome de vira-latas. Chega de se conformar com a frase “a minha única opção é o contrato”. E, sobretudo os mais jovens, precisam ser encorajados a acreditar que é possível ser alguém em Rio Bonito sem precisar ir para Niterói, RJ, SP, Japão, Tibete, Nicarágua, Sudão, EUA ou Austrália. A essência dessa questão são duas. A primeira é que querem nos fazer acreditar que não é possível ser alguém em Rio Bonito sem ter "linhagem real". A segunda é que muitos jovens, além de acreditarem nessa falácia (tem que ter linhagem real), ainda reproduzem esse discurso perverso.

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