Flávio Azevedo
Para indignação da população local, barreiras autorizadas pela Justiça impedem o trânsito na centenária estrada de Jacundá. |
O artigo 5º da Constituição Federal estabelece o que se
convencionou chamar de “Direito de Ir e Vir” de todos os cidadãos brasileiros.
Ou seja, qualquer pessoa tem o direito de poder chegar, e com facilidade, a
qualquer lugar. Todavia, em Jacundá e Mineiros, no interior de Rio
Bonito (2º Distrito), os moradores locais, cerca de 100 famílias, não têm esse
direito respeitado há cerca de 15 anos. Por conta da privatização da RJ – 124 (ViaLagos),
a Justiça determinou que uma centenária estrada, que liga Jacundá a Mineiros, localidade
vizinha, fosse interditada.
É que com a criação da Praça de Pedágio da ViaLagos,
implantada em Palmital (Latino Melo), a estrada que liga Jacundá a Mineiros tornou-se
a única alternativa para o cidadão trafegar sem ter que enfrentar a tarifa ‘mais
cara do país’. A via ganhou mobilidade e passou a ser acessada, principalmente por
caminhoneiros. Segundo moradores, o aumento do fluxo de veículos trouxe, inclusive,
benefícios financeiros para os locais, “porque com a venda de mariola, água,
salgados e frutas, nós conseguimos obter uma renda extra”, conta um dos
moradores de Jacundá.
Uma das mais antigas moradoras da localidade, ao falar sobre
o assunto, ela comenta que há cerca de 40 anos, quando fixou residência em Jacundá,
“a estrada, hoje, considerada a principal, não existia. Isso era uma mata
virgem. Essa estrada que foi fechada já existia e todo o trânsito dos sítios e
fazendas passavam por ela”, conta a moradora. Ela acrescenta que “são situações
como essa que faz o pobre não acreditar na Justiça”.
– Afinal de contas esse fechamento favorece quem? Não
beneficia os moradores, não beneficia os fazendeiros (eles estão quietos, mas
são prejudicados), não beneficia o município... Não tem como não acreditar em
coisa errada nesse negócio. Perdemos o nosso direito de ir a Araruama e
Saquarema como sempre fizemos. Tudo nosso tem que ser feito em Boa Esperança e
Rio Bonito, porque para irmos à direção oposta tem que pagar esse pedágio
absurdo – reclama.
Coisa feia
Na segunda metade da década de 90, depois de inúmeros embates
com a concessionária, a Justiça deu decisão contrária a população. À época, em
uma das muitas manifestações idealizadas pelos moradores, dois ônibus, repletos
de policiais militares foram enviados para o local com o objetivo de sufocar a
manifestação (esses policiais são aqueles
que o governo do Estado afirma não ter em número suficiente para reforçar o 35º
Batalhão da PM e a 3ª CIA da PM de Rio Bonito. Entretanto, quando convém aos
poderosos, os tais policiais aparecem e em número que o Estado achar necessário.
Nossa reportagem esteve no local da interdição no último
sábado (23/02) e descobriu que há duas semanas os moradores abriram uma
passagem por fora da estrada, mas a ViaLagos, como se tivesse uma “bola de
cristal”, rapidamente chegou ao local e abriu uma vala no caminho alternativo. No
2º Distrito, há quem afirme existir, entre os moradores, “olheiros” que são pagos
para informar a concessionária a remoção das barreiras ou qualquer tentativa de
atravessar para um lado ou outro.
– É até difícil falar qualquer coisa sobre isso, porque nós
temos medo. Aqui todo mundo é pobre, humilde, trabalhador e essa empresa é
muito forte, tem muito dinheiro, tem gente graúda por trás dela e a Justiça sempre
dá ganho de causa para ela. Outro dia um vizinho tentou tirar a barreira. Não deu
muito tempo a polícia estava na casa dele com funcionários da ViaLagos. Agora
você vê! Esse vizinho precisa ir a Araruama regularmente, mas como pagar esse
pedágio absurdo todo dia? Ele contou que foi até ameaçado! – revelou um morador
que por medo, pede para não ser identificado.
Outro antigo morador do local aproveita a presença da nossa reportagem
para fazer mais reivindicações. “A verdade é que nós estamos abandonados! A
justiça não está a nosso favor... Sobre esse fechamento absurdo da estrada que
liga Jacundá a Mineiros, se falarmos alguma coisa está arriscado sermos até
presos... Está faltando médico no Posto de Saúde há dois meses... Cheio de
gente aí com pressão alta, diabetes e não tem médico... Nessa hora não tem
polícia! A nossa estrada não é mais cuidada... Os políticos só lembram do nosso
lugar em época de eleição... Nesse tempo, diariamente, tem um monte de gente em
nossa porta... Depois some todo mundo”, conclui pensativo o morador.
Nota da Redação: sempre tem alguém, não sabemos o porquê, duvidando da
veracidade de histórias perversas como essa. Se você está entre esses, visite
Jacundá ou Mineiros. Vá a uma das barraquinhas, e, despretensiosamente, converse
com os moradores. Temos certeza, inclusive, que você tomará conhecimento
de fatos que nós não narramos aqui. Recentemente o deputado estadual Paulo Melo
visitou o Parque Andréa. Ele bem que poderia ter dado uma chegadinha em Jacundá
e Mineiros. Certamente ele ouviria com as próprias orelhas o que nós ouvimos.
Que tal deputado?
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