Por Flávio Azevedo - Reflexões
O livro “Educação”, da escritora Ellen White, traz a seguinte reflexão: “A maior necessidade do mundo é de homens – homens que não se comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus”.
No último dia 5 de dezembro, os torcedores do Fluminense tiveram o prazer, depois de 26 anos, de ver o Flu conquistar outro Campeonato Brasileiro. No dia seguinte, o que não faltou foram reportagens sobre os heróis desta conquista. Emerson, com o tornozelo esquerdo machucado e inchado, quase ficou fora da reta final do Brasileirão. Ele revelou que para jogar os dois últimos jogos levou oito injeções no local.
O sacrifício compensou, porque o chute para o gol do título foi exatamente com o pé esquerdo. “Vai entender! A bola passou por baixo do zagueiro e do goleiro!”, disse o atacante encabulado. Outras coisas curiosas aconteceram. Por exemplo: o gol do título, o mais importante dos 62 marcados pela equipe carioca, nasceu de uma bola que foi cruzada pelo lateral-esquerdo Carlinhos, que antes de chegar ao Emerson, raspou a cabeça do predestinado Washington, atacante que completou 15 partidas sem marcar.
Terminado o jogo, o “Coração Valente” saiu-se com essa: “uma vez eu falei que trocava o meu gol pelo título. Deus ouviu e falou: ‘Está decretado, você vai ser campeão e não vai mais fazer gol’. Pra mim, está ótimo!”. Outra lição pode ser tirada da história de Ricardo Berna, que era o terceiro goleiro do elenco. Com a contusão do titular Fernando Henrique, o treinador escolheu o arqueiro para defender a meta tricolor, de onde não mais saiu.
Outro personagem, porém, atrai a nossa atenção. Ele responde pelo nome de Muricy Ramalho, treinador que chegou ao Rio de Janeiro com fama de antipático, bronco e hostil, mas que nitidamente foi seduzido pelo calor carioca e pela contagiante alegria dos fluminenses, como coincidentemente são chamados os moradores do estado do Rio.
Em entrevista a vários jornais e emissoras, o atacante Emerson afirmou que a conquista nasceu a partir do “fico” de Muricy, que logo depois da Copa foi convidado para assumir a Seleção Brasileira. “Se ele saísse, ia complicar!”, admite o jogador. Como o técnico tinha contrato e não foi liberado, recusou o convite da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e disse “sim” ao Fluminense.
Em todas as entrevistas que concedeu, além de falar sobre o quarto Campeonato Brasileiro que conquistou, Muricy Ramalho foi perguntado centenas de vezes sobre o “não” à seleção.
Na verdade, as respostas e os motivos apresentados por esse predestinado paulista são os reais motivos que me levaram a escrever estas reflexões. “Eu fiz o que meu pai me ensinou: ‘tem que cumprir a palavra’! Quem não gostaria de treinar a seleção, mas se houvesse um acordo! Você não pode simplesmente virar as costas e ir embora. Você tem que respeitar o Clube, os jogadores, o patrocinador e principalmente ao torcedor!”, declarou o treinador, enquanto admirava a festa verde, vermelho e grená, naquela inesquecível tarde no Engenhão.
Mas não é só Muricy que abre mão da seleção pelo Flu. O argentino Conca, que em 2010, ganhou – e com méritos – todos os prêmios que pode, comentou que “se tivesse que perder um jogo do Fluminense para ir para seleção argentina, no caminho que a gente estava, eu preferia não ser chamado”. Considerado o motor e o cérebro da equipe, Conca, além de ter feito nove gols, executou 19 passes que terminaram em gols.
Que homens! Que homem esse Muricy Ramalho! Ele não se deslumbrou com o posto de treinador da Seleção! Pelo contrário... Ele ficou, conquistou o Brasileirão 2010 e tudo indica que este é o começo de mais uma história bonita entre o treinador e um clube – Murici já é idolatrado por torcedores de São Paulo e Internacional/RS.
Vale destacar que numa época de falência moral, ver o técnico tricolor pondo em prática, ensinamentos adquiridos com o pai, é uma lição para todos nós. Que filho esse Muricy! Embora tenha 55 anos, ainda preza os conselhos paternos! Que chefe de família esse Muricy! O êxtase da conquista não foi suficiente para apagar da sua mente a esposa, companheira de 32 anos, e os filhos, todos em São Paulo! Do campo, ele já conversava com a família sobre a nova conquista!
Concluímos este texto como começamos: “A maior necessidade do mundo é de homens – homens que se não comprem nem se vendam; homens que no íntimo da alma sejam verdadeiros e honestos; homens que não temam chamar o pecado pelo seu nome exato; homens, cuja consciência seja tão fiel ao dever como a bússola é ao pólo; homens que permaneçam firmes pelo que é reto, ainda que caiam os céus”.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
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