Flávio Azevedo
Pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição de Rio Bonito. |
Questionado, querido, dono de opiniões
que nem sempre agradam, mas um homem preocupado com a sociedade e comprometido
com sua missão. Esse é o padre Eduardo Braga, pároco da Igreja Matriz Nossa
Senhora da Conceição de Rio Bonito, que sensibilizado com os tristes acontecimentos
ocorridos na cidade essa semana, divulgou nota convidando os riobonitenses a
orar e buscar a Deus. Ele inicia o seu texto chamando as pessoas “amados filhos
e filhas no Senhor” e usa a expressão “misericórdia”, sentimento de solidariedade em relação alguém
que sofre uma tragédia pessoal ou que caiu em desgraça.
O padre Eduardo diz que após ter tomado conhecimento das tragédias o seu coração
de pastor sofre. “Somente a oração pode nos confortar, nos dar esperança e
capacidade de interceder pelas famílias em luto neste momento”. Ele afirma que “não
somos católicos em Rio Bonito por acidente; nem foi a troco de nada que
recebemos o dom imerecido da Porta Santa. Precisamos orar, profetizar e amar
ainda mais”.
Eu não sou católico, mas essa condição
não me impede de perceber o objetivo do sacerdote. Entendo o convite como uma
provocação a quem tem uma religião, palavra que deriva do latim “religare”, que
aponta “religar o homem a Deus”. Nessa sexta-feira (15/01), às 22h30min, o
padre Eduardo realizou uma missa pelas pessoas que morreram essa semana. A preocupação
do líder religioso pode ser questionada, mas eu concordo que estejamos precisando
caminhar mais decididamente a vereda do bem.
Analisando a proposta do padre e o nosso
momento, eu me lembrei de um trecho da história de Elias, quando ele enfrenta
os profetas de Baal. O texto está escrito no livro de I Reis, capitulo 18. No
verso 21, nitidamente irritado com a incredulidade dos hebreus, Elias dispara: “até
quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o! Se Baal é
Deus, segui-o!”. A narrativa termina dizendo que “o povo nada respondeu”.
E a cena de Elias se repete. Estamos
diante de dois caminhos: Deus e Baal. Podemos obedecer ou desobedecer. Está
diante de nós o bem e o mal. Está nítido, porém, que “coxeamos” entre as duas
opções. A palavra “coxear” deriva de “coxo”, signicante para pessoa com limitação
física, que manca. É como Elias classifica o povo hebreu. Eles mancavam, porque
uma hora serviam a Deus e outra hora a Baal. O grande conflito entre o bem e o
mal sempre esteve presente em qualquer período da história humana e a irregularidade
do homem, que cada hora escolhe um para servir é flagrante.
A tragédia, por exemplo, dos operários
que caíram do prédio nessa sexta-feira, é um “coxear entre dois pensamentos”. Todos
sabem da necessidade dos dispositivos de segurança, mas preferem não usar. O empregador
sabe da resistência dos operários, mas prefere não exigir. A fiscalização desse
dilema, mas prefere não intervir. Todos nós conhecemos o bem e o mal, mas
preferimos “coxear entre dois pensamentos” e essa indecisão pode ser fatal.
O clamor, “até quando coxeareis entre
dois pensamentos”, não é apenas para a vida religiosa. Ele é próprio para a
vida profissional, familiar, conjugal, pessoal, relacional e política. Desgraças,
tragédias, perdas, sofrimentos e tristezas seguirão acontecendo enquanto “coxearmos
entre dois pensamentos”.
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