Flávio Azevedo
Esse Facebook realmente é um ambiente
interessante e singular, sobretudo porque a mídia social deu lugar a mais coisas
do que pretendia Mark Zuckerberg, o criador do Facebook. Ele pensou estar desenvolvendo
mais um instrumento de relacionamento, mas ele estava fazendo muito mais. Sem perceber
ele criou ativistas, padres, pastores, homens de negócios, gênios da política,
cientistas sociais, sedutoras e sedutores, pessoas honestíssimas, casais
felizes, famílias estruturadas, políticos comprometidos, gente preocupada com o
bem comum... E não é nada disso! Boa parte disso tudo é um teatro artificial. É
o mundo fictício das mídias sociais. O mundo real está no reservado ou no “in
box”, onde a vida corre como ela é.
Com a chegada de um novo ano, essa
lógica fica ainda mais perceptível e o fato desse ano ser eleitoral (em outubro
estaremos escolhendo vereadores e prefeitos), deixa essa realidade ainda mais
clara. Muita gente bancando o que não é, muita gente tentando nos fazer acreditar
que elas são humanitárias e comprometidas com o bem, quando na vida real elas defendem
o contrário daquilo que externam no mundo virtual. O mais grave é que muitos acreditam
na ficção que criaram e não são poucos que acabam sendo enredados por esses engodos.
A vida real é dura, é cruel, é
injusta, é discriminadora, é preconceituosa, é leviana, é conservadora. A vida
real é comandada por forças dominantes que sabem estarem ultrapassadas, mas reconhecer
isso significa abrir mão da vida mole que levam. Por outro lado, a competição
pela sobrevivência é selvagem. Aliás, esse papo de responsabilidade social –
pelo menos no Brasil – é uma grande falácia. A política, que aliada a Educação
é o principal elemento de transformação social, é utilizada para alcançar realização
pessoal e fechamento de negócios escusos. O pior de tudo é que o cidadão insatisfeito
com isso tudo só está incomodado por não estar incluído nos esquemas (as
exceções existem).
Por fim, o nosso país sofre com a individualidade, com o egoísmo, com a infantilidade, com o “primeiro eu”, com o “dane-se os outros”, com o “não é meu parente que se arrebente”, com o “se nós estivéssemos lá, nós faríamos igual” etc. Eu estou falando de um culto a conceitos doentios que estão na contramão do que nós vemos diariamente no Facebook, onde vemos constantemente a reencarnação de São Francisco de Assis, de Jesus Cristo, de Mahatma Gandhi, de Martin Luther King Jr.; e figuras do gênero.
A verdade é que chegou a hora de sermos
honestos conosco. Nós até podemos enganar os que estão acompanhando a nossa mídia
social, mas não é possível tapear quem acompanha a nossa vida real e percebe
que aquela conversa otimista de “esqueça a negatividade e ouça o canto dos
pássaros” é um cinismo que pretende esconder indivíduos vingativos, desonestos e
corrompidos.
Que em 2016 a nossa vida real seja exatamente
igual a vida que ostento no Facebook! Que o ativista honesto e comprometido com
o bem comum que vendemos na mídia social também exista na vida real. Que os políticos
de sorrisos sedutores sejam verdadeiros e comprometidos com as suas
responsabilidades. Que os candidatos a isso e aquilo que estão distribuindo benfeitorias
a pessoas socialmente vulneráveis sejam de verdade.
Por fim, que os indignados com a corrupção, com a desfaçatez e com o cinismo, que aniquilam o país, empobrecem o estado e assolam o município; consigam finalmente transformar essa indignação em voto e não em mercadoria para ganhar R$ 50,00, alguns tijolos, sacos de cimento, dentadura, areola, agregar um veículo, alugar um imóvel, uma suposta colocação no futuro governo, cirurgia estética, carteira de motorista, combustível para o carro durante as semanas de campanha eleitoral etc.
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