domingo, 17 de janeiro de 2016

O “carnaval” com o nosso dinheiro precisa acabar

Flávio Azevedo 
Nos últimos anos ganhou força a história de que as prefeituras não farão Carnaval, por preferir investir os recursos destinados aos festejos de Momo, a setores como Saúde e Educação. Diante de argumentação tão fidalga, ninguém reclama! Pelo contrário, os prefeitos que tomam essa decisão recebem rasgados elogios. Milhares de compartilhamentos prestigiam a "bem intencionada iniciativa". Confesso aos amigos, que inicialmente até eu fui seduzido por essa ideia, mas com o passar do tempo, eu fui percebendo que isso é uma tremenda enganação. Eu não me lembro de ter visto esses prefeitos mostrando onde o dinheiro do Carnaval foi aplicado e muito menos prestando contas do que está sendo feito com os recursos originais da Saúde e Educação.

Outra iniciativa que enche os olhos é aquela em que o prefeito, com cara de preocupado, reúne a imprensa para anunciar que reduziu o salário dele, dos secretários e dos que ocupam cargos comissionados. Essa decisão também me deixava empolgadíssimo, até eu perceber ser outro papo furado e puro jogo de marketing. A verdade é que a classe política insiste em achar que nós somos trouxas. E eu já vou explicar as minhas razões.

A escassez de recursos não é provocada por salários. A remuneração do prefeito, do vereador ou do auxiliar de serviços gerais, não desfalca os cofres públicos. O dinheiro da União, dos Estados e Municípios é sorvido pelas sacanagens engendradas por quem comanda a máquina pública. O hábito de superfaturar, compras e contratações, assim como entender a coisa pública como uma extensão dos seus quintais é o que faz sumir o dinheiro público.

Quantos projetos sociais e culturais, por exemplo, deixaram de receber financiamento da Petrobras nos últimos anos, sob o argumento de que “a estatal tinha outras prioridades”? Anos despois, nós descobrimos que as tais prioridades eram permitir que os Serverós, os Youssefs, os Bumlais, os Cunhas, os Renans e Delcídios assaltassem os cofres da estatal.

Ou seja, a Petrobras não reunia condições de fomentar projetos culturais e esportivos, porque precisava irrigar contas na Suíça. Mais importante que prestigiar projetos sociais era o projeto de levar esposas e amantes para jantar em Paris. Mais significativo que os projetos assistenciais era o custeio de aulas de tênis em Londres para os filhos e namoradas. A grana que financiava os fins de semana em Veneza, em Mônaco, no Caribe ou em qualquer outro lugar mixuruca desse – rotina semanal na vida desses ladrões – sempre foi proveniente dos cofres públicos.

Mas voltando aos cancelamentos do Carnaval, eu garanto que se a classe política não se apropriar do dinheiro público, não faltarão recursos para a Saúde, para a Educação, para a Mobilidade, para a Segurança e para o Transporte. Também não faltará dinheiro para estimular o Turismo, a geração de emprego e renda. Sem os roubos e sacanagens, os servidores públicos poderão ser remunerados dignamente e hospitais e escolas funcionarão decentemente.

Todavia, essa realidade só será concretizada se o povo também entender que a coletividade é mais importante que os interesses individuais. Sim... Não é só a classe política que entende a coisa pública como extensão dos seus quintais. O povo também pensa assim. Por isso, quando um novato assume um cargo público, tudo continua como dantes. O novato pensa igual o antecessor e quem votou nele também. Então como haverá mudança, se as expectativas são iguais? Por isso, as mudanças devem começar a partir de nós.


Feito isso, nós teremos recursos para Carnaval, Saúde, Educação, Segurança, Transporte, Turismo, Lazer, Cultura e tudo mais. É um desafio, mas esse é o único caminho a ser percorrido se quisermos mudar a realidade de horror em que está metido o Brasil!

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