Flávio Azevedo
Nos últimos anos ganhou força a
história de que as prefeituras não farão Carnaval, por preferir investir os
recursos destinados aos festejos de Momo, a setores como Saúde e Educação.
Diante de argumentação tão fidalga, ninguém reclama! Pelo contrário, os prefeitos
que tomam essa decisão recebem rasgados elogios. Milhares de compartilhamentos
prestigiam a "bem intencionada iniciativa". Confesso aos amigos, que
inicialmente até eu fui seduzido por essa ideia, mas com o passar do tempo, eu
fui percebendo que isso é uma tremenda enganação. Eu não me lembro de ter visto
esses prefeitos mostrando onde o dinheiro do Carnaval foi aplicado e muito
menos prestando contas do que está sendo feito com os recursos originais da
Saúde e Educação.
Outra iniciativa que enche os olhos é
aquela em que o prefeito, com cara de preocupado, reúne a imprensa para
anunciar que reduziu o salário dele, dos secretários e dos que ocupam cargos
comissionados. Essa decisão também me deixava empolgadíssimo, até eu perceber
ser outro papo furado e puro jogo de marketing. A verdade é que a classe
política insiste em achar que nós somos trouxas. E eu já vou explicar as minhas
razões.
A escassez de recursos não é provocada
por salários. A remuneração do prefeito, do vereador ou do auxiliar de serviços
gerais, não desfalca os cofres públicos. O dinheiro da União, dos Estados e
Municípios é sorvido pelas sacanagens engendradas por quem comanda a máquina
pública. O hábito de superfaturar, compras e contratações, assim como entender
a coisa pública como uma extensão dos seus quintais é o que faz sumir o
dinheiro público.
Quantos projetos sociais e culturais,
por exemplo, deixaram de receber financiamento da Petrobras nos últimos anos,
sob o argumento de que “a estatal tinha outras prioridades”? Anos despois, nós
descobrimos que as tais prioridades eram permitir que os Serverós, os Youssefs,
os Bumlais, os Cunhas, os Renans e Delcídios assaltassem os cofres da estatal.
Ou seja, a Petrobras não reunia
condições de fomentar projetos culturais e esportivos, porque precisava irrigar
contas na Suíça. Mais importante que prestigiar projetos sociais era o projeto
de levar esposas e amantes para jantar em Paris. Mais significativo que os
projetos assistenciais era o custeio de aulas de tênis em Londres para os
filhos e namoradas. A grana que financiava os fins de semana em Veneza, em
Mônaco, no Caribe ou em qualquer outro lugar mixuruca desse – rotina semanal na
vida desses ladrões – sempre foi proveniente dos cofres públicos.
Mas voltando aos cancelamentos do
Carnaval, eu garanto que se a classe política não se apropriar do dinheiro
público, não faltarão recursos para a Saúde, para a Educação, para a
Mobilidade, para a Segurança e para o Transporte. Também não faltará dinheiro
para estimular o Turismo, a geração de emprego e renda. Sem os roubos e
sacanagens, os servidores públicos poderão ser remunerados dignamente e
hospitais e escolas funcionarão decentemente.
Todavia, essa realidade só será
concretizada se o povo também entender que a coletividade é mais importante que
os interesses individuais. Sim... Não é só a classe política que entende a
coisa pública como extensão dos seus quintais. O povo também pensa assim. Por
isso, quando um novato assume um cargo público, tudo continua como dantes. O
novato pensa igual o antecessor e quem votou nele também. Então como haverá
mudança, se as expectativas são iguais? Por isso, as mudanças devem começar a
partir de nós.
Feito isso, nós teremos recursos para
Carnaval, Saúde, Educação, Segurança, Transporte, Turismo, Lazer, Cultura e
tudo mais. É um desafio, mas esse é o único caminho a ser percorrido se
quisermos mudar a realidade de horror em que está metido o Brasil!
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