Flávio Azevedo
Por conta das minhas
postagens que noticiavam a “Marcha Para Jesus”, evento ocorrido em Rio Bonito
no último sábado (29/06/2013), alguns comentários sobre dízimo, um assunto
controverso e polêmico acabou sendo levantado no Facebook. A verdade é que esse
assunto é interessante, por abordar aspectos como fé, desapego aos bens
materiais e o próprio aspecto religioso do tema, geralmente debatido a luz dos
valores e crenças dos debatedores. O problema dessas questões é que o contexto
histórico e o conteúdo bíblico acabam sendo deixados de lado.
Confesso que eu conheço
pouco a Bíblia, mas o suficiente para entender que o dízimo é uma ordenança
levítica que sempre aparece no Velho Testamento. O amigo leitor se lembra do tradicional
verso de Malaquias 3:8 a 10? Diz assim: “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me
roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com
maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação.
Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha
casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não
vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que
não haja lugar suficiente para a recolherdes”.
Antes, porém, de
entrar especificamente no assunto, convém destacar que os israelitas, quando
guiados por Moisés, seguiam quatro leis. A “Lei Moral” (os 10 mandamentos); a “Lei
Cerimonial” (conhecida como “Lei de Moisés”, que determinava sacrifícios de
animais e feriados sagrados, que apontavam para a morte de Jesus no futuro); a “Lei
Civil” (direitos e deveres); e a “Lei de Saúde” (que determinava hábitos de
higiene).
O polêmico “dízimo”,
figura, com outras ordenanças, na Lei Cerimonial, que tinha como base acordos ou
alianças que eram celebrados entre Deus e os israelitas (esse verso de
Malaquias 3:8 a 10 é um exemplo clássico disso). Depois, porém, que Jesus foi
crucificado, os símbolos que lembravam o seu sacrifício, já não eram necessários,
porque já haviam se cumprido. Por exemplo: ninguém, hoje, sacrifica ovelhas para
pedir perdão pelos pecados, porque o “Cordeiro de Deus”, que é Jesus, já foi
sacrificado em nosso lugar. Você ora, reza, confessa, sempre “em nome de Jesus”.
Se formos verificar
com atenção os livros do Novo Testamento, a partir de Atos, nós veremos que a
Igreja Apostólica não usava o sistema de dízimos. O empenho era na coleta de
ofertas, que pode ser, inclusive, superior aos 10% do dízimo. Aliás, o Novo
Testamento contêm relatos de pessoas que doaram tudo, ou seja, 100% dos seus
bens. E isso tinha que ser levado a sério. O livro de Atos, capítulo 6, conta a
história do casal “Ananias e Safira”, que morreram por fraudarem a oferta que
prometeram para a igreja. Mas a palavra dízimo não existe no relato.
O apóstolo Paulo, na
carta que escreveu a igreja de Corinto, disse: “cada um contribua conforme propôs
no seu coração; não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama quem dá
com alegria” (2º Coríntios 9:7). Os apóstolos sempre faziam campanha pelas
ofertas, sem falar em percentual, que poderia ser até superior a 10%, mas eu não
me lembro de alguma passagem onde eles falam do “dízimo” como lei ou uma
espécie de obrigatoriedade.
Se as igrejas, seja
lá ela qual for, perceberam nessa ordenança levítica, uma maneira de arrecadar para
se manter e os membros concordam (como sempre vejo), ótimo! Mas que o dízimo
não é observado no Novo Testamento e não era usado pela Igreja Apostólica, isso
é fato!
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