Flávio Azevedo
Embora as organizações Globo tenham o hábito de colocar sensação em tudo que ela dirige e traz ao conhecimento do público, a entrevista da apresentadora Xuxa está longe de ser apenas uma conversa sensacionalista ou um simples quadro do Fantástico para manter a audiência. A revelação dos abusos que ela sofreu durante a sua infância e pré-adolescência expõe uma realidade vivida por inúmeras crianças brasileiras.
O depoimento da apresentadora foi a ao ar no Fantástico do último dia 20 de maio, no quadro “O Que Vi da Vida”, que é dirigido por Cláudio Emanuel, integrante do “Casseta & Planeta”. A falta de incentivo ao senso crítico por parte da TV Globo fica explícita quando o programa deixa de colocar na sequência, uma reportagem, padrão Eduardo Faustini, sobre a questão dos abusos em nosso país.
A revelação de Xuxa deixa claro que o abuso é uma realidade, mas por conta do nosso comportamento provinciano, do nosso falso ‘bom mocismo’ e do hábito perverso e cínico de varrer para baixo do tapete as nossas mazelas, medos e pecados, esse tema segue como uma espécie de tabu que permanece guardado sob sete chaves.
Talvez isso ocorra, porque de Norte a Sul do Brasil, muitos homens importantes e de destaque da nossa nação curtem a exploração infantil em todas as suas modalidades. Podemos começar falando de mão de obra escrava e terminar com os famosos favores sexuais que meninas na flor da idade são obrigadas a oferecer a velhos babões que por terem dinheiro e, naturalmente, a Justiça e a Imprensa na folha de pagamento, os temas não são abordados como deveriam.
Realidade local
Trazendo o tema para o ambiente doméstico, o programa “O Tempo em Rio Bonito”, da Rádio Sambê FM (98,7), recebeu no último dia 26 de fevereiro, três conselheiros tutelares de Rio Bonito. Apesar do sigilo das ocorrências que chegam ao órgão, o presidente da Casa, Alessandro de Brito, informa que boa parte das denúncias que chegam ao Conselho Tutelar é de abuso sexual.
– Os abusos não estão presentes apenas nas famílias pobres e humildes. Essas situações acontecem em todas as classes sociais. A maior parte dos casos estão dentro de casa e são praticados por pessoas que estão próximas da criança e tem a confiança delas – alerta o presidente.
A conselheira Josiane Oliveira dos Santos, que também participou da entrevista, comentou que em muitas oportunidades o conselho é acusado de não demonstrar interesse por essas questões. Entretanto, segundo ela, “sem provas e sem a família ajudar não é possível resolver a questão”. A conselheira comenta que não são poucas as oportunidades que as mães, por exemplo, não acreditam na denúncia da filha, não percebem os sinais oferecidos pela vítima e, logicamente, não afasta o abusador da criança, “que, às vezes é o próprio pai”, comenta.
Engajada numa campanha contra o “Abuso Infantil”, a “Rainha dos Baixinhos” trás a tona um tema espinhoso, “tabu”, mas que precisa ser debatido, pensado e resolvido pela sociedade brasileira o quanto antes.
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