Flávio Azevedo
Não é possível passar um 1º de maio sem comentar a trajetória de um dos maiores mitos do esporte brasileiro: Ayrton Senna, personagem que animava as nossas tediosas manhãs de domingo até o ano de 1994, quando morreu prematuramente aos 34 anos. Num tempo em que o Brasil vivia ainda sob os efeitos amargos da Ditadura Militar, contar com as espetaculares vitórias de Senna era um alento para nós brasileiros. O piloto dava demonstrações de que aquele povo que por muitos anos foi treinado para ser colonizado e dominado reunia condições de vencer os seus dominadores.
Era comum ouvir a admiração, principalmente dos mais velhos, comentando as façanhas do brasileiro que vencia, com naturalidade, pilotos ingleses, norte-americanos, franceses e alemães. A admiração nascia da convicção de que indivíduos dessas nacionalidades eram superiores a nós brasileiros. Entretanto, o desempenho de Ayrton Senna do Brasil, alcunha que o piloto recebeu do narrador Galvão Bueno, além de transformar o desportista num mito, também deixava clara a possibilidade de que não somos inferiores a ninguém.
A imagem de Ayrton Senna é reconhecida mundialmente por conta do seu talento, da sua determinação e/ou por seu desempenho, às vezes, inacreditável nas pistas. Ele é um mito do automobilismo mundial e está entre os melhores pilotos de todos os tempos. Mas naquele dia 1º de maio, de 1994, a carreira que incluía 41 vitórias, 65 pole positions e três campeonatos mundiais foi interrompida diante de milhares de brasileiros.
O último dia que Ayrton Senna foi visto com vida amanheceu tranquilo igual ao demais. A corrida acontecia no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola (ITA). O piloto, que não havia tido bom desempenho nas duas corridas anteriores, deu declarações de que essa seria a sua primeira corrida na Fórmula 1 daquele ano. Ele conquistou a pole, mas o fim de semana foi sombrio. Senna, particularmente estava apreensivo com dois problemas.
Um deles era o acidente da sexta-feira que antecedeu o GP. A vítima tinha sido o piloto brasileiro Rubens Barrichello, que envolveu-se num grave acidente com sua Jordan. Senna visitou o amigo no hospital e ficou convencido de que as normas de segurança determinadas para as pistas deveriam ser revistas. Na manhã seguinte, um dia antes da corrida, o austríaco Roland Ratzenbegger, da Siimtek, bateu na curva Villeneuve e morreu no Hospital Maggiore, de Bolonha.
Ayrton Senna convenceu os oficiais de pista a levá-lo ao local do acidente para que ele avaliasse o que poderia ter ocorrido. A sua postura resultou em desgaste com os dirigentes da Federação Internacional de Automobilismo (FIA). Senna passou o fim da manhã reunido com outros pilotos. Ele estava determinado a recriar a antiga Comissão de Segurança dos Pilotos. O objetivo era melhorar a segurança na F1. Como um dos pilotos mais experientes e mais respeitado pelo histórico de vitórias e conquistas, ele se ofereceu para liderar o movimento.
A corrida começou e na setima volta, ao entrar na curva Tamburello, Ayrton Senna perdeu o controle do carro e bateu com violência contra o muro de concreto. O impacto causou um profundo dano cerebral no piloto. Ele foi atendido pelo neurocirurgião Sidney Watkins, da Comissão Médica e de Segurança da Fórmula 1. Os primeiros socorros foram feitos ainda na pista e ele foi levado de helicóptero para o Hospital Maggiore, de Bolonha, onde foi declarado morto.
No carro de Ayrton Senna, os fiscais de prova encontraram uma bandeira austríaca, que seria empunhada por Senna, em homenagem ao austríaco Roland Ratzenberger, morto um dia antes, caso ele vencesse a prova. A imagem de Ayrton Senna apoiado na sua Williams, flagrado pelas tevês, com o olhar distante e perdido, pouco antes do início da fatídica corrida em que perdeu a vida, ficaria marcada para sempre entre seus fãs.
De acordo com o jornalista e comentarista de Fórmula 1, Reginaldo Leme, num documentário sobre a morte de Ayrton Senna, o piloto não queria correr aquele dia. Ele teria, inclusive, dito aos amigos que anteciparia a sua aposentadoria caso as normas de segurança das pistas não fossem revistas pela FIA. Que o exemplo de determinação e preocupação com o semelhante, demonstrados por Senna ao longo da sua carreira, possam ser o grande legado deixado por ele. A leitura diária da Bíblia, outro costume do piloto, também deveria ser um hábito que também deveríamos cultivar.
terça-feira, 1 de maio de 2012
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