Flávio Azevedo
O programa “O TEMPO EM RIO BONITO” do último dia 1º de abril abordou a sobrevivência do homem do campo; os investimentos no setor Agropecuário de Rio Bonito; os estímulos a lavoura branca; e a Citricultura, um dos motores da economia local na década de 70 e 80. Para comentar o assunto, os entrevistados foram os empresários Anderson Tinoco, um dos diretores da Central de Abastecimento (Ceasa) de São Gonçalo; e Felipe Braga, lojista do setor de Hortifruti Granjeiro, do Centro da cidade.
– O homem do campo está esquecido! Já há algum tempo ele não pode sobreviver da produção da sua lavoura. Os estímulos e incentivos para que ele fique na Zona Rural inexistem e isso é determinante para o Êxodo Rural. Esse fenômeno incha as cidades e contribui de forma significativa para ampliar os índices de desemprego, violência e favelização dos grandes centros – apontam os entrevistados.
Em Rio Bonito, uma suposta e eterna queda de braço entre a Prefeitura Municipal e a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) é outro ponto apresentado pelos empresários como um dos problemas enfrentados pelo homem do campo. “Existe uma velada troca de farpas entre as partes. Se a Secretaria Municipal de Agricultura se queixa que os técnicos da Emater não atendem a contento os produtores rurais, os técnicos da Emater se queixam que a Prefeitura não cumpre a sua parte na parceria que deveria existir entre eles”, alertam.
Estradas em péssimo estado de conservação, o que dificulta o escoamento da produção; a insegurança, os episódios de assaltos a propriedades distantes são corriqueiros; e a falta de uma cooperativa forte; são pontos também apresentados por Anderson e Felipe como responsáveis pela falência do setor agropecuário. “É difícil investir nessa atual conjuntura. A própria Secretaria Municipal de Agricultura não tem orçamento e pessoal para que o secretário consiga desempenhar bem o seu papel. O resultado é esse que acompanhamos em nossa Zona Rural”, comentaram.
“Como que pode?”
Para o empresário Felipe Braga, se existe uma coisa que é de impossível compreensão é o fato do nosso prefeito (José Luiz Mandiocão) ser ruralista, proprietário de várias fazendas, um homem identificado com o campo, que faz questão de mostrar a sua origem caipira, “mas que não investe no setor como deveria”.
– Nós temos vários programas do governo do Estado em conjunto com o Ministério da Agricultura, que se houve interesse da Prefeitura Municipal estariam dando resultados positivos para a nossa economia. Podemos citar o Prosperar, o Florescer, o Cultivar Orgânico, o Rio Carne, entre outros que deveriam estar sendo amplamente divulgados e estimulados – comenta Felipe.
A falta de um Matadouro Municipal é outro apontado pelo empresário como responsável pelo enfraquecimento do homem do campo e do setor Agropecuário de maneira geral. “Do boi só não se aproveita o berro. Eu tenho certeza que o Matadouro iria dinamizar e revitalizar o setor, mas infelizmente a classe política não se entende e quem paga o pato é a população”, discorre.
O empresário ressalta também que “infelizmente, vagabundo nós temos em todo em todo lugar e setor!”, numa referencia aos proprietários que preferem permanecer na ociosidade e não querem participar dos programas quando eles são apresentados. “Tem gente que pensa ser a Prefeitura o seu provedor, mas não é assim. E esses casos existem. Porém, não são todos que tem essa postura! Eu conheço um volume grande de sitiantes e lavradores que estariam dispostos a ingressar num programa que fosse sério e efetivamente estimulasse o setor”, pondera Felipe.
O empresário Anderson Tinoco ressaltou a sua experiência com o cultivo de banana. Ele disse que a sua propriedade, na localidade de Cachoeira dos Bagres, têm 15 mil bananeiras, todas irrigadas com uma técnica que ele buscou com produtores de Santa Catarina e do Espírito Santo. Durante a sua fala, além de comentar a falta de apoio, o empresário deu um desabafo.
– Desconheço qualquer iniciativa da Emater ou da Prefeitura para incentivar o produtor rural. Eu não tive nenhuma ajuda. Apanhei bastante e sempre caminhei sozinho. A experiência que adquiri no cultivo da banana foi com os meus próprios esforços e iniciativa. Depois que me consolidei no setor, eu nunca fui procurado para que transmitisse a outros produtores, as técnicas que desenvolvo em minha propriedade, o que seria interessante, sobretudo para os produtores de menor porte – concluiu.
Relembrando a polêmica do Matadouro (matéria de julho de 2007)
Projeto do Matadouro Municipal cria polêmica em Rio Bonito
O projeto de construção do Matadouro Municipal de Rio Bonito tem dividido opiniões na cidade. Enquanto o prefeito José Luiz Antunes e seu grupo político classificam a obra – que seria realizada no Condomínio Industrial, no Basílio – como de vital importância para o desenvolvimento do município, outra corrente, liderada pelos vereadores de oposição ao governo, argumenta que existem outras prioridades, como a área de Saúde e a geração de empregos na cidade, que poderiam receber o investimento de R$ 1,6 milhão que seriam destinados ao matadouro.
O prefeito José Luiz Antunes, que também é produtor rural, disse que os animais de Rio Bonito e região são levados para Campos, Itaperuna, Valença e Cantagalo para serem abatidos, em percursos que chegam a 300 quilômetros. O prefeito também destacou o prejuízo dos produtores, que, segundo ele, pagam pelo frete do caminhão frigorífico, que traz a carne, o valor referente a três fretes de boi vivo. De acordo com ele, o matadouro iria atrair também os produtores dos municípios vizinhos e a sua preocupação é ajudar o pequeno e médio produtor que não tem gado suficiente para fretar uma carreta e levá-lo para o abate.
– O grande produtor tem condições de fechar um carregamento sem perder muito, mas e o pequeno e o médio produtor? Minha preocupação é com esse grupo. Por isso, eu estou pedindo aos vereadores que votaram contra o projeto, que eles sugiram uma alternativa, porque do jeito que está não pode continuar. Eles estão incentivando o abate clandestino – explica José Luiz.
O então presidente da Câmara Municipal, Carlos Cordeiro Neto (Caneco), disse que os vereadores reconhecem a dificuldade dos produtores rurais, mas que o momento não é oportuno, pois existem outras prioridades no município. “Nós precisamos investir na criação de cursos profissionalizantes, porque o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) está chegando para a região, e nossos jovens precisam ser qualificados para conseguirem os empregos. Outra prioridade é o Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) funcionar satisfatoriamente. Mas, para que essas ações se concretizem, é preciso que o poder público ajude”, disse.
Projeto tem apoio da Cooperativa e dos produtores rurais
O Diretor Administrativo da Cooperativa Agropecuária Regional de Rio Bonito, Carlos Alberto Picorelli, além de elogiar a iniciativa do prefeito José Luiz Antunes, afirmou que o projeto tem total apoio da Cooperativa, porque vai gerar empregos, acabar com o êxodo rural e conseqüentemente com o processo de favelização da cidade. Além disso, Picorelli criticou a postura dos vereadores, ressaltando que motivações políticas, têm impedido o crescimento de Rio Bonito.
– Esse projeto tem que sair o mais rápido possível e espero que seja logo. A Cooperativa apóia a iniciativa, porque o comercio será fortalecido e cerca de 100 a 200 empregos podem ser gerados, sem falar nas empresas que seriam atraídas para a cidade, porque não é só matar os animais. Tem seguimento que comercializa os resíduos, o osso, o couro, a gordura, e ainda tem a estação de tratamento de água usada no Matadouro – afirma Picorelli, acrescentando que “o dinheiro que parou de circular na cidade, com a queda na produção da laranja, vai voltar a circular, porque além dos fazendeiros contratarem mais funcionários para cuidar do gado, tem os caminhoneiros que fariam o transporte dos animais”, defende.
O diretor acrescenta que “aumentando o número de caminhões, cresce o serviço nas oficinas, nos postos de combustíveis, nas lojas de peças e pneus para os caminhões, e até nos restaurantes. Como produtor rural, eu acho que uma boa administração e grandes realizações incomodam os incompetentes por um único motivo, o destaque alcançado pelos secretários municipais que respondem pelo projeto. Isso não interessa aos vereadores, porque esses secretários, geralmente são candidatos a vereador e podem tomar a cadeira deles. A idéia deles, é impedir a concorrência”, conclui.
Natural de Mato Grosso do Sul, o fazendeiro José Marinho Falcão Neto, de 66 anos, tem uma propriedade em Braçanã. Ele comentou que apesar de considerar Rio Bonito um pólo pastoril, para ele foi mais viável mudar para a agricultura, “porque trabalhar com gado nas atuais condições que a região oferece é muito dispendioso”. O fazendeiro revelou que “o matadouro pode aumentar a qualidade do rebanho da região, com os prováveis investimentos que seriam feitos na genética do gado, para que alcancem um melhor crescimento, reproduzam mais e tenham uma carne de melhor qualidade. Além disso, o preço da carne ficaria mais em conta para os consumidores”.
– Eu tenho duas famílias que moram na minha fazenda trabalhando, se eu aumentar o meu rebanho terei que contratar mais gente, ou seja, estaremos gerando mais emprego – ressaltou Marinho, que previu a revitalização da zona rural de Rio Bonito e região. “Muitas fazendas, que hoje estão abandonadas, encontram-se dessa maneira, porque o proprietário não lucra com a propriedade, mas se esse projeto for concretizado, vai haver uma revolução em nossa região”.
Caminhoneiro há cerca de 20 anos, Jorge Martins Marinho, de 51 anos, afirmou que na sua profissão já foi possível ganhar dinheiro, “mas hoje não dá mais, porque é prejuízo ter um caminhão com gaiola para o transporte de bois”. Ele ressaltou que com o matadouro, o movimento de caminhões teria um aumento tão significativo, que poderia gerar no mínimo três empregos. “Até as madeireiras venderiam mais, porque iriam oferecer matéria prima, para a confecção de gaiolas de transporte de boi”, disse.
Como funciona um matadouro
De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), um matadouro só pode entrar em operação, se possuir uma autorização do Sistema de Inspeção Federal (SIF), que é o mais interessante, porque permite o estabelecimento fornecer seus produtos para todo território nacional. Ele pode também funcionar, regularizado pelo Sistema de Inspeção Estadual (SIE), que só permite a comercialização dos seus insumos no Estado; ou ainda, pelo Sistema de Inspeção Municipal (SIM), que autoriza a mercadoria circular apenas no município onde a carne foi abatida. Além de uma dessas autorizações, o funcionamento do empreendimento necessita de uma licença da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (Feema), que é concedida após a verificação de contaminação negativa do solo e da água.
Fontes ligadas ao MAPA, afirmam que um matadouro é formado por vários compartimentos, que podem variar de acordo com a quantidade de animais que se pretende receber diariamente. O primeiro ambiente é o curral, que recebe os animais vivos. Depois vêm as salas de abate e posteriormente as câmaras frias. A partir daí, vem a classificação dos miúdos. A Triparia, que lida com as tripas dos animais, a Bucharia, que trabalha com o bucho do animal abatido e a Graxaria, onde se processa a farinha de carne e o sebo.
Outro compartimento exigido é a estação de tratamento de afluentes (a água que chega) e efluentes (a água que sai). O Matadouro Municipal pode ser construído e gerenciado pela prefeitura, ou pode ser explorado pela iniciativa privada, após processo licitatório. Pode também ser gerenciado pelo município que em algumas ocasiões terceiriza apenas a Graxaria.
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