segunda-feira, 2 de abril de 2012

Caminhada pelo “Dia Mundial do Autismo” mobiliza educadores e comunidade de Rio Bonito

Flávio Azevedo

Para comemorar o Dia Mundial do Autismo, um grupo de pais e profissionais de Educação, liderados pela professora Rosangela Martins da Silva, organizou uma caminhada envolvendo pais, crianças, professores, simpatizantes e autistas. A caminhada aconteceu na tarde dessa segunda-feira (02/04), no Centro de Rio Bonito. Dezenas de pessoas vestidas de roupas azuis percorreram as principais ruas da cidade mostrando que “ser uma pessoa com autismo não é estar num mundo separado”, como apontava um folhetinho que foi distribuído durante a caminhada.

A concentração dos caminhantes aconteceu na Av. Sete de Maio, em frente a Igreja Católica Auxiliar, de onde saiu por volta das 17h45min. O grupo portava uma faixa, balões azuis e muita descontração. A caminhada, iniciada na Sete de Maio, passou pela Rua Major Bezerra Cavalcante, Dr. Mattos, Praça Drº Astério Alves de Mendonça, Rua Getúlio Vargas e concluiu na Praça Fonseca Portela.

Após agradecer a participação de todos, ressaltando a colaboração de amigos, patrocinadores e das famílias que participaram da caminhada, a professora Rosangela pediu que Giuseppe Romagnole, pai de um autista de 15 anos (Marcos), falasse algumas palavras sobre o evento. Ele começou destacando a cor azul, que classificou como “uma onda azul que invadiu a praça”; comentou que “até o céu é azul”; e destacou que “dos muitos trabalhos que se faz com o autista, o principal é feito em casa, pelos pais, pela família”.
– Tranquilidade e calma no trato com o autista é importante. Ele tem vontades, não gosta de determinadas coisas e essa fita estampada na camisa do evento simboliza bem isso. Ela simboliza a doença, os seus mistérios e a diversidade de pessoas que tem a doença – comentou Romagnole, que comentou a história da autista Temple Gradin, que, hoje, é PHD em veterinária e criou a “máquina do abraço” por conta da sua aversão aos abraços, comportamento comum ao indivíduo altista.

Trabalhando há 15 anos com Autismo, 12 deles em Rio Bonito, a professora Rosangela ressaltou que o autista tem comprometimento de relação pessoal e comportamental. “Os autistas no Brasil são 2 milhões. Em todo mundo eles são 70 milhões”, disse a professora destacando que a doença atinge principalmente os meninos (4/1), “por conta disso a cor azul foi escolhida para o Autismo”, revela.

O Rio Bonito Atlético Clube desenvolve um projeto para autistas junto com a professora Rosângela Martins Silva. O projeto acontece de 4ª a 6ª feira, em dois períodos (8h às 11h e 13h às 14h). Os interessados podem contatar a secretaria do clube através do telefone 2734 – 2130.

Emoção

Também emocionou a todos a música apresentada pela professora Márcia Cristina Pereira, chamada carinhosamente de “Tia Cigarra”. Munida do seu violão, ela cantou uma música que foi escrita para a filha Gabi (ela não é autista, mas desenvolve comportamentos similares aos da doença), quando esta completou 15 anos (atualmente ela tem 17). “Você é nossa eterna criança/O seu sorriso nos faz renascer/Com você aprendemos que o belo e simples da vida é amar sem esperar nada receber”, diz o refrão da melodia que foi cantada em uníssono pelos presentes.

Assistiam o evento, acompanhadas de uma intérprete, as surdas Aline Martins Batista (30) e Lívia Souza Soares (34). Aproveitando o espírito de inclusão da tarde, a nossa reportagem perguntou a Aline e Lívia o que acharam do evento e o que poderiam falar sobre inclusão. Através da linguagem de Libras, as amigas responderam que “a vida seria mais fácil para as pessoas que tem algum transtorno ou limitação, se eventos dessa natureza acontecessem com mais frequência”, sinalizaram as surdas, que aproveitaram para pedir a realização de um evento direcionado especificamente aos surdos.

Temple Gradin


Professora do Departamento de Ciências Animais da Universidade do Colorado/EUA, Temple, hoje, corre o mundo para divulgar as peculiaridades e os direitos dos autistas. Ela tenta mostrar que as características negativas da doença podem ser controladas para garantir vida digna a seus portadores. A tese é clara e concisa: crianças autistas apresentam tanta variação de talentos, gostos pessoais e mesmo de inteligência quanto os ditos normais.
– Cabe a pais e médicos criar estratégias para desenvolver as habilidades desses seres especiais. Ajudar crianças a descobrir qualidades ocultas seria o caminho mais eficiente para torná-las menos estranhas – pondera Temple em matéria produzida pela Revista Época.

Em sua campanha de conscientização, a americana exibe uma criatividade acima dos padrões. Estudando a mecânica de instrumentos e ferramentas utilizados na pecuária, ela inventou a “máquina do abraço” para vencer a aversão ao contato físico, característica percebida na maioria dos doentes. O aparelho é capaz de exercer pressão sobre o corpo do autista, mas segundo ela própria o testou, “a pressão exercida pelo equipamento é, ao mesmo tempo, estimulante e relaxadora. Em vez de se sentir ‘engolido’ pela afeição sufocante dos humanos, o autista escolhe o grau tolerável de pressão mecânica e habitua-se, aos poucos, às sensações táteis”.

A máquina foi adotada por uma clínica especializada em pessoas hiperativas. Vinte minutos de uso permite os pacientes recuperarem a serenidade. Especialistas em Autismo como Temple afirmam que sempre será preciso descobrir o que desperta a fantasia de cada autista.
– Os pais devem observar os filhos em busca de pistas que revelem interesses ocultos. Se a criança passa o dia acionando a descarga da privada, deve-se investigar o que motiva o gesto repetitivo: o som, o funcionamento da peça hidráulica, a relação de causa e efeito – orienta Temple, que hoje tem mais de 60 anos, escreveu livro, é famosa mundialmente, mas continua se classificado como autista.

No cinema

A história de superação de Temple Gradin (nome do filme) chegou aos cinemas em 2010, através de um filme produzido pela HBO. O longa mostra a vida de Temple desde quando ela teve a sua doença diagnosticada aos 4 anos, o seu desenvolvimento infantil, até a vida adulta, quando ela se forma em psicologia. A sua luta contra o preconceito por conta de ser autista também é apresentada. E assim, “abrindo uma porta de cada vez”, como dizia o professor de ciências de Temple, ela vai conquistando o seu espaço e ajudando a desmistificar a sua doença junto à sociedade.

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