Flávio Azevedo
No Facebook, encontro um questionamento interessante do amigo François Ranieri. Ele pergunta se alguém sabe informar onde estão os carros novos comprados pela Secretaria de Saúde, pois os pacientes da Clínica de Doenças Renais (CDR), que precisam fazer hemodiálise estão, segundo ele, “sendo muito mal tratados”.
De acordo com François, “o penoso tratamento tem horário para começar, mas os veículos que buscam os pacientes, normalmente chegam atrasados, isso quando não quebram, falta gasolina, falta motorista etc. Quando termina o tratamento, onde os pacientes saem ‘arrebentados’, e precisam descansar para evitar complicações, cadê o veiculo que deveria levá-los embora, no horário correto? Dia tem, outro não, outro quebrou, faltou gasolina, faltou motorista etc.”, reclama.
Ele comenta que a sua mãe foi pega em casa às 6h40min, mas o procedimento começa às 6h10min, o que penaliza o paciente, que irá fazer menos tempo de diálise. Diante disso, ele pergunta a Secretaria de Saúde: “cadê os veículos? Por que os pacientes são penalizados? E não é só a minha mãe, acompanho isso não é de hoje. Fazer propaganda que leva os pacientes é muito bonito, mas que o trabalho seja prestado com dignidade”.
Tal relato é profundamente triste. Dias atrás nós postamos aqui, a história de Rosana, aquela mãe que foi esquecida, sem lenço e sem documento, num hospital do Rio de Janeiro. Ela e o filho só foram resgatados a noite. Depois que o problema estourou no Facebook, o caso parece ter sido resolvido. As redes sociais não são os locais mais apropriados para a busca de soluções para essas questões, mas certos problemas, infelizmente, só são solucionados depois que pipocam por aqui.
Mas diante do questionamento do amigo François, eu não posso me furtar de contar uma historieta que se passou comigo quando eu atuava como Técnico de Enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU). Aliás, quem trabalha nesses setores, descobre muito rápido que problemas dessa natureza não existem apenas por conta da incompetência ou falha do poder público. O usuário também tem culpa no cartório e pela conhecida inconsciência, falta de bom senso e egoísmo é possível que tenha mais culpa que o ente público.
Lembro que a contra gosto dos meus superiores, eu sempre chamei a minha ambulância, a Unidade de Suporte Básico nº 15 (USB-15) de “TAX”. Isso acontecia porque os serviços de TAX eram constantes. Alguns chamavam inclusive a ocorrência de “caroninha”. Lembro que eu fui a cidade de Itaperuna. Lá eu busquei uma pessoa que tinha um carro muito mais confortável do que a nossa ambulância. Lembro também de ter ido a Taubaté. No município paulista, busquei uma pessoa que também poderia ter vindo por meios próprios e com mais conforto.
Em ano eleitoral é um inferno trabalhar nesses setores. Quanto mais assistencialista é administração, mas serviços desnecessários são realizados. Se os apadrinhados usam o serviço por coisas banais, quem realmente precisa acaba não sendo contemplado com o atendimento. O programa parece ter sido idealizado para fazer média. Do prefeito aos puxa-sacos, vereadores, apaniguados e toda sorte de ponta de aterro, todos se acham seus chefes e querem posar influente.
Lembro bem de determinadas famílias, que quando a viatura chegava, todos já estavam em pé na esquina aguardando o transporte, como se a ambulância fosse o ônibus da São Geraldo ou um serviço de transporte gratuito personalizado. O paciente que estava “morrendo”, ás vezes, aparentava melhor aparência que a minha.
Lembro-me muito bem de uma mulher que, no meio do trajeto, pediu para que o motorista parasse a viatura no supermercado, porque ela precisava fazer umas “comprinhas”. Naquele estilo bem riobonitense, ela comentou: “não custa nada, dá uma paradinha aí para mim”. Diante da minha negativa, a mulher, que disse ser conhecida de Fulano e de Beltrano, ameaçou a mim e ao motorista dizendo que a minha insubordinação seria denunciada aos nossos superiores. Não deu em nada!
Penso que os carros reclamados por François, devem estar carregando esse tipo de gente. Até porque, entra governo e sai governo e essa galera do favorzinho é sempre a mesma. Pessoas que pensam ser o estado provedor e mantenedor das suas vidas. E não é por aí! Tem jeito? Tem, mas vai demorar!
Deixei o SAMU e a enfermagem em 2009, para me dedicar integralmente ao jornalismo. Sei que aconteceram mudanças estruturais e de pessoal, mas como a população e os pedintes de favor não mudaram (continuam as mesmas caras), não credito que esse cenário esteja muito diferente!
quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012
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