Flávio Azevedo
Momento em que os presentes votavam pela manutenção ou extinção da greve. |
Uma assembleia peculiar, com decisões polêmicas, presenças inéditas e uma certeza: independente do governante, sempre existirá uma guerra fria entre educadores e governo. O mais curioso é que o patrão usa a categoria contra a própria categoria. Assim como o médico cientista, Vital Brazil; desenvolveu o soro antiofídico a partir do veneno da cobra, os governantes já entenderam a desunião da classe e usam a própria categoria para frustrar os planos idealizados por ela. É a conclusão que se chega ao final da assembleia de profissionais de Educação, que ocorreu na tarde dessa segunda-feira (03/04), na Sociedade Musical de Dramática Riobonitense. O evento foi promovido pelo núcleo local do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe).
Duas propostas foram apresentadas durante a assembleia. A primeira, pela interrupção da greve, iniciada em 06 de março. A outra, pela manutenção do movimento, que apresenta uma pauta de oito reivindicações básicas, entre melhorias salariais, melhorias das unidades escolares, melhores condições de trabalho e a oportunidade de dialogar com o chefe do poder Executivo.
– O secretário da pasta é sempre muito solícito conosco quando é procurado, mas ele é apenas uma peça decorativa, porque quem manda mesmo na Educação é a vice-prefeita, Rita de Cássia; e o prefeito Mandiocão. Não temos o que reclamar da atenção do secretário, mas o poder de decisão está em outras mãos, por isso, precisamos conversar com o prefeito, que dias atrás deu com a porta na nossa cara – desabafa uma profissional de Educação.
Profissionais de Educação afirmaram durante a assembleia que o salário pago pela Prefeitura de Rio Bonito "é humilhante para o servidor". |
A presença de pessoas que não tinham participado dos encontros anteriores e sequer estavam em greve gerou descontentamento entre os sindicalistas mais antigos. O entendimento era de que os novatos estariam representando o governo para votar contra a manutenção da greve, o que realmente aconteceu. Os profissionais de Educação mais antigos no movimento votaram pela manutenção da greve, mas foram vencidos pelos novatos. Com isso, a partir dessa terça-feira (04/04), os profissionais estarão em estado de greve, mas voltarão as salas de aula de suas respectivas escolas.
– Está na cara que isso foi um golpe! É claro que os governistas se juntaram para votar contra a greve e defender o governo na assembleia. São pessoas que nunca vieram aqui e, logo hoje, aparecem para reforçar o voto contra a greve? Isso foi tudo arquitetado pelo governo – disparou uma professora, visivelmente irritada.
As declarações foram imediatamente rechaçadas por uma professora do grupo que votou pela extinção da greve. Aparentando certa liderança sobre o grupo que chegou de surpresa na assembleia, a professora disse que “o prefeito não sabe de nada que está acontecendo aqui, a assembleia é um evento democrático, e por isso todos podemos participar e votamos conforme as nossas consciências”. O desconforto de quem entendeu ser a presença dos novatos uma ação orquestrada não era maior do que os integrantes do grupo que pela primeira vez esteve na assembleia.
– Isso faz parte do jogo político, do jogo democrático, nós precisamos reconhecer quando somos voto vencido, mas no próximo dia 18 de abril nós teremos nova assembleia. Se até lá o diálogo com o prefeito não acontecer, a greve vai voltar. A suspensão da greve é trégua para que entendam não sermos nós os intransigentes – explicou uma das líderes sindicais, numa demonstração que a guerra fria, iniciada há cerca de 20 anos, está longe de ter um fim.
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