Flávio Azevedo
Um sarau com um leilão para arrecadar recursos para o Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV) movimentou a noite desse sábado (03/12), em Rio Bonito. O evento, realizado no salão social da Maçonaria, atraiu centenas de pessoas. Considerado nos anos 90, o terceiro melhor hospital do interior do Estado do Rio de Janeiro, o HRDV, hoje, atravessa mais um momento de turbulência. Fundado há 72 anos, a instituição é um dos orgulhos do povo riobonitense, que fica preocupado quando vê a unidade inspirando cuidados e, às vezes, precisando de uma “laparatomia exploradora” (cirurgia abdominal que procura a razão para sintomas como hemorragias, choques, dores abdominais não esclarecidas etc.). Dez quadros foram leiloados.
Com o objetivo de amenizar os problemas enfrentados pela instituição, um grupo de mulheres riobonitenses, capitaneadas pela poetisa e escritora, Maria do Carmo Soares Cordeiro (Carminha), de maneira voluntária decidiu contribuir. Elas resolveram adotar o setor de Pediatria, que precisa de mobiliários, colchões, entre outras coisas. Terminado o evento, Carminha conversou com a nossa reportagem.
– O Hospital é patrimônio nosso e não podemos deixar, nem supor, que alguma coisa possa acontecer e afetar o andamento do hospital. O que há de mais certo em nossas vidas é que um dia iremos precisar dele e não só os riobonitenses, mas todos os municípios próximos. Ao ver o Darcy Vargas precisando de cooperação, a solidariedade nesses momentos se faz necessária – destaca D. Carminha, afirmando que o grande objetivo é amenizar os problemas que o HRDV enfrenta.
Canta no evento o Coral Santa Cecília. |
Com o seu olhar voltado para a Cultura, Carminha, que também e acadêmica da Academia Fluminense de Letras, aproveitou o momento para incluir e estimular a Cultura local. Artistas já consagrados, como Reinaldo Silva; e grupos como o Coral Santa Cecília; e o Grupo de Serenata Lua Branca; participaram. O sarau também contou com a participação de jovens talentos como Léo Machado e Bruna Melo; e músicos experientes como Edmar e Janira Amaral. As poesias ficaram ao encargo de Ricardo Hoffman, Sônia Solano e Virgínia Borges. Sobre os participantes, Carminha explica como se deu a seleção.
– É interessante: você coloca “o hospital necessita” e na mesma hora contamos com a adesão das pessoas querendo contribuir. Tanto a criança quanto os mais velhos. Falou-se em hospital e a necessidade da gente chegar junto, eles comparecem e atendem antes de formalizarmos o convite – explicou Carminha, para quem o hospital precisa ser olhado de forma positiva.
Edmar canta e ganha muitos aplausos |
Diante dos problemas enfrentados nos últimos anos pela entidade, Carminha faz algumas ponderações no sentido de que é preciso contribuir e acreditar na instituição.
– Têm problemas? Têm, mas eles estão sendo resolvidos ou estão procurando resolver. Isso que acontece, hoje, é consequência de alguma coisa que aconteceu mais lá para trás, mas nada é irreversível! Você pode ouvir pessoas com opiniões distintas, diferentes da sua, mas você não pode julgar que só aquela opinião está certa e nós precisamos procurar saber, buscar ajudar... Eu acho que o hospital está saindo de uma fase difícil, mas os setores estão funcionando e as coisas irão se acertar – discorreu Carminha, acrescentando que “nós precisamos ter paciência, a diretoria está trabalhando, nós estamos tentando ajudar e precisamos todos ter esse olhar positivo”.
Questionada sobre como surgiu o grupo de mulheres que se juntou para contribuir com o HRDV, Carminha explica que tudo aconteceu de maneira muito rápida e explica que “não foi eu que consegui fazer, porque já estava determinado lá em cima”. Segundo ela, depois da última assembleia de associados do HRDV, “eu saí de lá e me cobrei (o que eu estou fazendo?)”. Carminha explica que procurou o presidente do hospital e se apresentou para ajudar no que fosse preciso.
– Nesse mesmo dia eu recebi um telefonema de Eneida Machado. Ela me disse, “Carminha o hospital passa por dificuldades e eu queria te convidar”, antes dela terminar eu disse “vamos”. No dia seguinte conversando com Terezinha Castro, eu fiz o convite e ela prontamente aceitou. Chegou Suely de Paula, com quem eu trabalho no Grupo Rio Bonito Por Amor. Aproximou-se Ana Carmem Fonseca. Chamamos Sônia Lopes, Shirley Melo compareceu, Cléia Moreira, também; e formamos um grupo de pessoas com muita disposição para trabalhar – contou Carminha.
Sonia Solano e uma poesia |
Entre os anos de 1930 e 1960, várias entidades assistenciais e agremiações esportivas foram criadas em Rio Bonito, entre elas o Hospital Darcy Vargas. Os tempos eram outros, mas as dificuldades sempre estiveram presentes. Os comerciantes e empresários daquele tempo também enfrentavam crises e dificuldades. A sociedade daquele período, porém, parecia ser mais abnegada, mais ligada às causas assistenciais e a benemerência. Questionada sobre o que mudou daquele período para os dias atuais, Carminha explica que o momento era outro, a sociedade era outra, Rio Bonito era menor e o sentimento de preservação era maior.
– Hoje, nada gira entorno da cidade e todo mundo sai. Acho que não é impossível recuperarmos essa marca e a prova disso foi o evento dessa noite, quando reunimos cerca de 200 pessoas nesse salão e elas estavam voltadas aos problemas do hospital. Eu tento trazer os mais jovens, vimos aí os músicos novos que participaram, trazemos os nossos netos e precisamos manter esse incentivo e o olhar positivo para o HRDV – concluiu Carminha.
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