Flávio Azevedo - Reflexões
Nos últimos dias de dezembro, diante da notícia de que o Centro de Oncologia de Rio Bonito (CORB) entraria em funcionamento, no dia 2 de janeiro, publicamos, no Facebook, o seguinte comentário: “Os “assistencialistas” e “aproveitadores” estão com os dias contados! Com o tratamento do Câncer em Rio Bonito, o leva e trás de doentes (assistencialismo) e aquele monte de gente pendurado em porta de político pedindo carona (aproveitadores) tende a acabar. Que bom!”.
Diante da afirmação, o nosso amigo e colaborador Christiano Oliveira, o popular Kit, deu a seguinte opinião: “não sei se o seu é comentário é direcionado a alguém especificamente, mas assistencialismo e “aproveitadores” existe em todas as esferas políticas. Acho que nesse ponto todos os pré-candidatos têm culpa no cartório. Porém, há que se destacar o benefício do Centro de Oncologia na nossa cidade e pronto! Ou você acha que os aproveitadores do governo não irão se aproveitar dessa instituição?
Diante da postagem firme e verdadeira do amigo Kit, eu decidi me aprofundar no assunto, a fim de reparar algumas injustiças e justiçar ações que são repreensíveis, mas que se tornaram corriqueiras nessa relação de amor e ódio entre políticos e eleitores.
Em Rio Bonito, quando se fala de assistencialismo, é comum as pessoas se lembrarem de imediato o nome da ex-prefeita Solange Almeida (PMDB), que é rotulada como assistencialista, como se somente ela utilizasse esse instrumento. Para mostrar que o problema é geral, transcende as fronteiras riobonitenses e se alastra de Leste a Oeste e de Norte a Sul em nosso país, eu começo perguntando: “qual é o político que nunca deu uma cesta básica (o elemento mais manjado do assistencialismo)?
O oferecimento de cestas básicas por entidades e organizações não governamentais e/ou pessoas físicas e jurídicas (desinteressadas), eu entendo como caridade. Entretanto, conta o folclore político local, que políticos importantes utilizariam a Secretaria de Bem-Estar Social (hoje e antigamente) para fazer oportunistas doações (de cestas básicas a material de construção). Pergunto: “isso é o que?”. Desculpe, mas para mim isso não passa de um deslavado assistencialismo!
Engana-se, porém, quem pensa que só existe assistencialismo na Saúde e no setor de Bem-Estar Social! Temos, por exemplo, o "Assistencialismo de Porta de Cadeia". Isso acontece quando determinado político mantém um advogado de plantão para que ele salve a pele de “ladrõezinhos de galinha” e de “esticas e aliciadores”. Geralmente, eles são filhos daquele casal humilde que recorre ao tal político pedindo: “pelo amor de Deus ajuda o meu filho”. Resultado: o pilantra fica solto, e a família encabrestada.
No dia 21 de fevereiro de 2011, um estudante da rede municipal, um menino de 13 anos, foi surpreendido em sala de aula com um revólver. O caso parou na 119ª DP, mas por interferência de assessores de um figurão da política local, a situação foi acomodada. Esse é um exemplo clássico de assistencialismo de porta de cadeia. E, detalhe, nesse caso, o assistencialismo está contribuindo para a formação de deliquentes. Parabéns ao figurão!
Outro assistencialismo desavergonhado é o tal do Contrato. Sobretudo quando as eleições se aproximam, o volume de gente absolvida pela máquina é gigantesco. Isso acontece em qualquer Prefeitura, já se tornou cultural e o pior: as pessoas continuam se deixando enganar. A esperança do assistido é que “se fulano ganhar, eu vou continuar trabalhando”. Como não dá para manter todo mundo, o cara é demitido. Resultado: em alguns meses aquele apaixonado eleitor é encontrado falando mal do político que até recentemente ele defendia com unhas e dentes. O problema é que passados três anos, o sujeito volta a cair na mesma armadilha, porque o assistencialismo aliena.
Outro assistencialismo importante – talvez o mais venal – é o que classifico como “Assistencialismo de Grife”. Nesse caso, o favorzinho dá lugar às barganhas políticas. Os envolvidos, porém, são os formadores de opinião (gente que tem largo círculo de amizade e/ou recursos financeiros). Eles são médicos; empreiteiros; dentistas; industriais; comerciantes; pecuaristas e fazendeiros; advogados e serventuários da Justiça; empresários, principalmente aqueles que militam no setor de alimentos, transporte, postos de combustível, clínicas e laboratórios; jornalistas e pessoas ligadas a Comunicação Social; contadores, corretores, construtores, farmacêuticos, entre outros profissionais.
No Assistencialismo de Grife, o favor nem sempre é absolvido diretamente. Ele pode ser indireto, através da indicação da esposa do “beneficiado” para a direção daquela escola (um dos motivos para não termos eleições para diretor); ou a nomeação do filho(a) ou sobrinho(a) do “beneficiado” para a coordenação daquele setor ou programa do município.
Tem ainda aquele projeto de obra, loteamento ou abertura de um negócio que está travado na burocracia municipal, mas ganha repentina celeridade porque um apoio foi negociado. Também é muito comum a liberação daquele pagamento por serviço que já foi prestado. Isso sem falar na tradicional e comum vista grossa para determinadas situações que são praticadas pelo correligionário. Tudo em nome da política de boa vizinhança, mas que não passa de um tremendo assistencialismo!
O interessante é que o “Assistencialismo de Grife não é muito abordado, porque assiste uma parcela importante da sociedade. Diante dessas análises, a minha sugestão é que “atire a primeira pedra quem não tiver pecado”! E já que impera a hipocrisia, é salutar que nós olhemos para o nosso próprio umbigo, façamos um exame de consciência e comecemos a mudar essa triste realidade a partir de nós.
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
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