quarta-feira, 3 de julho de 2013

Sobre o Dízimo

Flávio Azevedo
Apesar dos gracejos sobre o assunto, as religiões e boa parte dos cristãos levam o sistema de dízimo e ofertas muito a sério e os episódios de bênçãos atribuídas a fidelidade são sempre apresentados pelas igrejas.
Por conta das minhas postagens que noticiavam a “Marcha Para Jesus”, evento ocorrido em Rio Bonito no último sábado (29/06/2013), alguns comentários sobre dízimo, um assunto controverso e polêmico acabou sendo levantado no Facebook. A verdade é que esse assunto é interessante, por abordar aspectos como fé, desapego aos bens materiais e o próprio aspecto religioso do tema, geralmente debatido a luz dos valores e crenças dos debatedores. O problema dessas questões é que o contexto histórico e o conteúdo bíblico acabam sendo deixados de lado.

Confesso que eu conheço pouco a Bíblia, mas o suficiente para entender que o dízimo é uma ordenança levítica que sempre aparece no Velho Testamento. O amigo leitor se lembra do tradicional verso de Malaquias 3:8 a 10? Diz assim: “Roubará o homem a Deus? Todavia vós me roubais, e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, sim, toda esta nação. Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma bênção tal até que não haja lugar suficiente para a recolherdes”.

Antes, porém, de entrar especificamente no assunto, convém destacar que os israelitas, quando guiados por Moisés, seguiam quatro leis. A “Lei Moral” (os 10 mandamentos); a “Lei Cerimonial” (conhecida como “Lei de Moisés”, que determinava sacrifícios de animais e feriados sagrados, que apontavam para a morte de Jesus no futuro); a “Lei Civil” (direitos e deveres); e a “Lei de Saúde” (que determinava hábitos de higiene).

Não são poucos os gracejos e piadas que envolvem o sistema de dízimo. Apesar da seriedade do assunto, não são poucos os relatos de desconfiança quanto ao uso do dinheiro arrecadado com o dízimo e ofertas.
O polêmico “dízimo”, figura, com outras ordenanças, na Lei Cerimonial, que tinha como base acordos ou alianças que eram celebrados entre Deus e os israelitas (esse verso de Malaquias 3:8 a 10 é um exemplo clássico disso). Depois, porém, que Jesus foi crucificado, os símbolos que lembravam o seu sacrifício, já não eram necessários, porque já haviam se cumprido. Por exemplo: ninguém, hoje, sacrifica ovelhas para pedir perdão pelos pecados, porque o “Cordeiro de Deus”, que é Jesus, já foi sacrificado em nosso lugar. Você ora, reza, confessa, sempre “em nome de Jesus”.

Se formos verificar com atenção os livros do Novo Testamento, a partir de Atos, nós veremos que a Igreja Apostólica não usava o sistema de dízimos. O empenho era na coleta de ofertas, que pode ser, inclusive, superior aos 10% do dízimo. Aliás, o Novo Testamento contêm relatos de pessoas que doaram tudo, ou seja, 100% dos seus bens. E isso tinha que ser levado a sério. O livro de Atos, capítulo 6, conta a história do casal “Ananias e Safira”, que morreram por fraudarem a oferta que prometeram para a igreja. Mas a palavra dízimo não existe no relato.

O apóstolo Paulo, na carta que escreveu a igreja de Corinto, disse: “cada um contribua conforme propôs no seu coração; não com tristeza ou por necessidade, porque Deus ama quem dá com alegria” (2º Coríntios 9:7). Os apóstolos sempre faziam campanha pelas ofertas, sem falar em percentual, que poderia ser até superior a 10%, mas eu não me lembro de alguma passagem onde eles falam do “dízimo” como lei ou uma espécie de obrigatoriedade.

Se as igrejas, seja lá ela qual for, perceberam nessa ordenança levítica, uma maneira de arrecadar para se manter e os membros concordam (como sempre vejo), ótimo! Mas que o dízimo não é observado no Novo Testamento e não era usado pela Igreja Apostólica, isso é fato!

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