sábado, 28 de abril de 2012

Faltam médicos e respeito

Flávio Azevedo

E continuam pipocando as reclamações sobre o funcionamento dos equipamentos de Saúde em nossa cidade. Estão no olho do furacão, a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e o Hospital Regional Darcy Vargas (HRDV). As fantasiosas declarações que colocam a Saúde de Rio Bonito entre as cinco melhores do estado ajuda a aumentar a indignação do povo. Se o governo é hipócrita ao amplificar essa informação como se a Saúde da nossa cidade oferecesse padrões europeus; a oposição, também hipócrita, pinta o Diabo mais feio do que ele parece.

Diante disso, eu provoco os órgãos de Saúde do nosso município (Secretaria de Saúde e Conselho de Saúde) a vir a público, sem rodeios, esclarecer as constantes faltas de médico. A verdade é que o problema se inicia a partir do momento que os profissionais médicos não estão disponíveis para serem contratados. Outra questão é que boa parte deles não quer trabalhar nos fins de semana e feriados prolongados. Mas por que ninguém trás esse assunto a baila?

Em Rio Bonito, por exemplo, a última grande reclamação sobre falta de médico foi no feriadão de Tiradentes e São Jorge (21 e 23/04). Nesse fim de semana (28 e 29/04), quando estamos dentro de outro feriadão (Dia do Trabalhador), as notícias de falta de médico voltam a dominar as redes sociais. O pior é que como nós conhecemos bem essa questão, já podemos prever o que acontecerá: nada... Porque se os tais profissionais faltosos forem demitidos não terá médico também nos dias normais!

Muito se fala da questão de aprendermos votar. Eu concordo, mas sinceramente penso que esse problema deve ser olhado com mais amplitude e não deve ser debatido de maneira passional. A minha formação de técnico de enfermagem, por exemplo, me obriga ter outro olhar sobre esses quase insolúveis problemas. Fica muito nítido, porém, que não é só uma questão política. Vejo bastante mal caratismo, irresponsabilidade, espírito mercenário (não só dos médicos) e desrespeito para com o sofrimento alheio.

Outro ponto que não podemos deixar de comentar é que as universidades de Medicina não estão formando médicos em volume suficiente para atender o número de UPAs, PSFs, SAMUs e hospitais que foram abertos nos últimos anos. E quem são esses formandos? Que valores preservam? Gostam de gente? Ou são filhinhos de papai que estão trabalhando mais por Hobby do que por necessidade? Por que esse tema não é debatido nas mesas que discutem os problemas da Saúde em nosso país?

Penso que devemos nos aprofundar no assunto sem medo das carinhas feias que alguns farão com o restante desse texto. Se observarmos o contexto histórico da Educação em nosso país, o amigo leitor irá perceber que alguns segmentos – entre eles as faculdades de Medicina – são instrumentos classistas, separatistas e de confirmação da desigualdade social, uma das chagas da sociedade brasileira. A profissão de médico sempre foi enxergada como ocupação para filhos de famílias ricas.

O problema é que os filhos desse setor da sociedade são pouco interessados nas causas alheias. Penso que uma profissão apelidada de “sacerdócio” não pode estar povoada por pessoas querem “status” e pensam apenas em dinheiro. Nesse momento, algum hipócrita irá usar o argumento das universidades públicas. E elas existem... Mas segundo pessoas que tentaram ingressar recentemente, a vaga para o curso de medicina custa algo em torno de R$ 100 mil.

Quem duvida vá ao estacionamento da Universidade Federal Fluminense (UFF) e observe os “carrinhos” que estão estacionados por lá. Eu te dou um prêmio se você achar algum fusquinha. Os carros demonstram o nível financeiro dos alunos e poder dos seus pais. Resumindo, a hipocrisia da Saúde é uma doença que só pode ser curada com a combinação de antibióticos potentes como Educação, igualdade e respeito ao ser humano.

4 comentários:

  1. Flávio, você falou tudo. Acredito que "busca por status" é a chave para o seu texto. Infelizmente, hoje no nosso país é mais importante vestir um jaleco e tirar uma foto para postar no facebook, do que se formar pensando em salvar vidas.
    Parabéns pelo texto!

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    1. achei seu texto tendencioso e raso na avaliação. Você já foi a uma unidade de saúde conversar com o médico sobre as dificuldades de se trabalhar naquele local, e o que vcs, cidadãos poderiam revindicar de vossos governantes para manutenção do profissional nas vossas unidades? hoje o médico é um profissional que ganha mal no serviço público e nos convênios, trabalha até em SETE empregos para poder dar aos filhos e à sua profissão os cuidados necessários, as secretrarias de saúde desviam o dinheiro das unidades, falta remédios, materiais, aparelhos, transporte de pacientes, enfermiros qualificados, etc. Que tal unir os médicos aos cidadãos usuários dos serviços para defender a mesma causa:uma saúde pública digna!

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    2. Fui tendencioso sim. Aliás, estou relatando as experiências que coletei e vivi. Em várias unidades de Saúde eu não conversei com o médico, porque o profissional não estava. Entretanto, eu encontrei, em minhas andanças, vários profissionais, que me deram argumentações do tipo: “por R$ 4,5 mil eu não trabalho na emergência do Hospital Darcy Vargas” (Rio Bonito/RJ). Também ouvi gente dizendo que até trabalharia, “mas se puder ocupar três funções num mesmo plantão e recebendo por três especialidades” (cirurgião, anestesista e pediatra, por exemplo), o que aumentaria o salário para cerca de R$ 15 mil.

      Fora isso, eu sou técnico de enfermagem. Por cerca de 15 anos eu trabalhei em várias unidades, públicas e privadas, e conheço bem o que estou escrevendo. Sinceramente, eu não preciso conversar com outros profissionais que trabalham mais que os médicos e recebem menos que eles. Aliás, o paciente que chega a uma emergência, geralmente ganha, por mês, R$ 678,00 e trabalha infinitamente mais que 24h semanais do médico.

      Junte-se a essa realidade medonha e perversa, o cara que no consultório médico da unidade pública recomenda que o paciente se dirija ao seu escritório particular para que ele seja mais bem atendido e melhor avaliado. Não foram poucas as vezes que eu vi isso ocorrer!

      Mas eu respeito a sua opinião e concordo que os cofres são diariamente assaltados por políticos e médicos politiqueiros. Sendo assim, fique sempre muito a vontade para comentar os nossos textos e matérias! Um abraço!

      Sugiro que leia outro texto que escrevi sobre a Saúde, onde eu narro a história de um jovem casal que lutam para conseguir ver o filho nascer com dignidade.

      O link: http://jornalistaflavioazevedo.blogspot.com.br/2012/07/um-caso-bizarro-na-saude-de-rio-bonito.html

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