Flávio Azevedo
Leonardo é acusado de ter atirado contra dois moradores, sendo um deles o policial que teria tentado impedir o confronto entre ele e o outro morador. |
Moradores do Parque Andréa ainda estão amedrontados com o tiroteio que aconteceu na localidade no fim da tarde desse domingo (15/10). Alguns aproveitam para relatar o fortalecimento do tráfico no bairro e outros afirmam ser o ocorrido fruto do descaso das autoridades com a localidade. Segundo o Registro de Ocorrência, (RO) feito na 119ª DP (Rio Bonito), o tiroteio aconteceu na Rua D, no Parque Andréa. Ainda segundo o RO, a Polícia Militar foi chamada à localidade para prestar auxílio a um policial identificado como Fábio, morador da localidade.
O policial teria sido alvo de tiros disparados por quatro homens, que inicialmente queriam atingir outro morador, identificado como Fábio da Silva Costa, de 23 anos. Ao ver o tiroteio e perceber que havia sido reconhecido como policial, Fábio foi buscar sua arma. No portão, já armado, Fábio (o policial) foi alvejado por homens que estavam em sua rua. O policial atirou de volta e os atiradores recuaram. Os bandidos, porém, retornaram e aconteceu nova troca de tiros.
O tiroteio atraiu a atenção dos policiais do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv), que junto com o policial Fábio fizeram buscas na localidade a procura dos atiradores, que seriam figuras conhecidas no bairro. Policiais militares da 3ª CIA da PM também chegaram e reforçaram as buscas pelos atiradores.
Enquanto procuravam os autores dos disparos, os policiais chegaram à casa de Leonardo Martins Pessoa, de 18 anos, suspeito de participar da ação. Na casa Leonardo, diz o Registro, foram encontradas uma das motocicletas usadas na ação. A outra motocicleta, também usada pelos atiradores, estava num beco próximo. Leonardo, os objetos encontrados, entre eles um telefone, foram apreendidos e levados para a 119ª DP. Feito os procedimentos protocolares, a ocorrência foi encaminhada a 118ª DP (Araruama), onde Leonardo ficou preso conforme o Artigo 121 do Código Penal, que versa sobre homicídio.
O Registro termina detalhando que os três comparsas de Leonardo, no tiroteio, elementos que não foram encontrados, seriam conhecidos como Cleiton, Jeferson e Jessinho. O trio está sendo procurado pela polícia.
“Fruto do descaso”
Localidade interiorana, habitada em sua grande maioria por pessoas humildes, acolhedoras e trabalhadoras, o 2º Distrito de Rio Bonito vive um momento de convulsão social como toda e qualquer comunidade do Rio de Janeiro que é vítima do descaso estatal. “Os anos de abandono e de ausência de políticas públicas efetivas começam a render os seus amargos frutos. A violência, a insegurança e o crescimento do tráfico de drogas são consequências desse descaso”, desabafa uma moradora que por medo de represálias pede para não ser identificada. Ela acrescenta que em alguns trechos, as entradas e saídas estão monitoradas por pessoas ligadas ao tráfico. Ela revela que “até a rodovia, a RJ – 124 (ViaLagos), é vigiada por jovens que trabalham com rádio transmissor”.
A “falta de dignidade e respeito com a nossa gente”, segundo lideranças do 2º Distrito, são as principais razões para o crescimento do tráfico e consequentemente a violência. Uma localidade que só é lembrada pelos políticos em época de eleição, “passado o período eleitoral nem migalhas recebemos”.
– Nos três meses que antecedem as eleições, os candidatos não saem daqui. Vemos distribuição de cesta básica, dinheiro, promessas, mentiras, laqueadura de trompas, material de construção, carteira de motorista, tapinha nas costas, caminhão pipa, até as igrejas ganham presentes. Passadas as eleições, some todo mundo e seguimos sem emprego, sem água potável, sem Saúde, sem Educação e sem dignidade – diz um antigo morador.
Outra moradora antiga do 2ª Distrito destaca que os salários e os empregos oferecidos “são um convite ao tráfico”. Ela acrescenta que os empregos são oferecidos por empresas (cerâmicas, lanchonetes e mercados) da mesma família e afirma existir um acordo entre os comerciantes para pagar baixos salários.
– Sem falar na questão trabalhista! Se alguém coloca uma empresa dessas na Justiça, nunca mais trabalha em lugar algum. Até nas empresas do Centro de Rio Bonito você fica manchado. Mas como a pessoa precisa sustentar sua família acaba se submetendo a esses salários ridículos. Um menino que se associa ao tráfico tira R$ 500,00 por semana. Em qualquer lugar que ele for trabalhar aqui, ele vai ganhar salário mínimo (R$ 937,00). Você acha que esse garoto vai preferir qual ocupação? – provoca a moradora.
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