Flávio Azevedo
A imagem de Nossa Senhora da Conceição, na Praça Fonseca Portela, colocada sobre o monumento de reinauguração da Praça, tem gerado descontentamento entre setores do meio evangélico. |
O Facebook nos permite abordar
assuntos muito interessantes. Um deles surgiu depois de uma postagem onde
apresentamos ou reapresentamos as belezas de Rio Bonito e os pontos de destaque
do município. No último dia 30/12, nós postamos uma foto que fizemos em 2010,
da Praça Fonseca Portela e da Igreja Matriz Nossa da Conceição, signos que
sempre representaram Rio Bonito. A postagem, porém, ganhou um comentário que
acreditamos ser merecedor de uma profunda reflexão. A pessoa critica a presença
da imagem de Nossa Senhora da Conceição que foi colocada na praça, em frente a
Igreja Matriz.
O comentário nos permite abordar uma
coisa feia que existe em nosso país há muitos anos. Pena que em Rio Bonito não
é diferente: estamos falando de “intolerância religiosa” (é claro que existem
exceções). Aliás, há décadas isso é uma realidade em ambos os credos. Penso,
inclusive, que os espíritas são as principais vítimas da intolerância e do desrespeito
a “liberdade religiosa e de culto”, um direito constitucional.
Um
fato histórico
Para provar a longevidade da
intolerância religiosa em Rio Bonito, vamos destacar uma história que ouvi
várias vezes do meu avô, o saudoso Joaquim Azevedo, que contava ter havido,
segundo ele, pelos idos de 1914, no Centro da cidade, uma batalha campal entre batistas
e católicos. Tudo começou porque durante uma comemoração católica, os batistas organizaram
um culto numa praça que existia na entrada da atual Rua da Conceição. Tudo
correu bem até o momento em que a procissão passou pela tal praça.
Segundo o meu avô, “alguém disse uma bobagem
pra lá, outra bobagem foi dita para cá e o pau comeu”. A Igreja Batista
funcionava no sertão da Serra do Sambê, para onde se dirigiu a polícia. O resumo
da história é que teve gente detida, interrogatórios, mas pouco se fala sobre
isso, porque como diz o adágio popular, “filho feio não tem pai”, sem falar que
em cidade pequena todo mundo é parente e o tal do “pano quente come solto”. Mas
isso é fato, inclusive, presenciado pelo vovô, que era membro da referida
igreja evangélica.
Voltando
aos nossos dias
A verdade é que não é pouco o número
de evangélicos contrários a imagem de Nossa Senhora da Conceição na Praça
Fonseca Portela. A impressão que temos é que alguns desconhecem que essa
postura é arbitrária e pode ser entendida como crime, já que no Brasil, a
liberdade religiosa e de culto é um direito constitucional. Contribui para isso,
o fato de que em todos os credos nós temos pessoas que repetem o discurso dos
seus líderes religiosos sem nenhum ‘desconfiômetro’, simplesmente porque enxergam
o tal líder como uma divindade, logo, o que ele fala é Lei.
Sobre manifestações religiosas, não
foram poucos os cultos evangélicos que ocorreram na Praça Fonseca Portela, em
outros pontos públicos (de inúmeras igrejas evangélicas) e nunca ouvimos uma
reclamação dos católicos. Vale destacar que as procissões sempre percorrem as
principais ruas da nossa cidade... E qual o problema? Destacamos ainda que aos
sábados existe, na Praça da Bandeira, junto a Feira Livre e ao Mercado
Municipal, um culto da Igreja Assembleia de Deus. E, sinceramente, desconhecemos
qualquer tipo de oposição a este programa e, se há nós também poderíamos
classificar como “intolerância religiosa”.
Aliás, “porque outras denominações,
inclusive a Católica, não fazem a mesma coisa em outras praças e logradouros
públicos?”. A verdade é que, hoje, os crentes (evangélicos e católicos) vivem
trancafiados dentro de quatro paredes (igreja)... É crente pregando para
crente... Talvez seja por isso que alguns estejam perdendo tempo criticando a
imagem de Nossa Senhora, na Praça.
Esquecem que Jesus Cristo deu, aos
cristãos, a seguinte missão: “ide por todo mundo, pregai o Evangelho a toda
criatura” (S. Marcos 16.15). Mas essa pregação não consiste em criticar os
signos religiosos de outra denominação. Seria muito bom se nós fossemos mais
tolerantes em todos os setores da nossa vida.
Religião
e Política
Também foi comentado na nossa
postagem, que as lideranças evangélicas que apoiaram a atual administração não
estariam satisfeitas com a imagem exposta na Praça. Essa é outra questão que
merece uma profunda reflexão, já que sempre se soube que misturar religião e
política é um perigo. O próprio catolicismo fez essa junção na Idade Média e
por conta disse cometeu atrocidades que séculos depois forçaram o Papa João
Paulo II pedir perdão ao mundo por erros do passado.
Apesar desse claro exemplo, os líderes
evangélicos a cada eleição entram perigosamente na política. Não estamos
falando daqueles que decidem disputar um cargo eletivo, mas da nítida
prostituição que se percebe quando determinados líderes vendem (como se isso fosse
possível) os votos dos seus membros em troca de reforma do templo, aquisição de
aparelhagem de som, instrumentos musicais, móveis para o templo e até vultosas
quantias financeiras.
Fica muito nítido que esses
personagens (graça a Deus não são todos), estão enquadrados no que S. Paulo classifica
como “mercadores da fé”. É claro que o líder religioso, que também é cidadão,
deve conhecer as propostas de cada candidato, mas se prevalecer do volume de
fieis da sua igreja para negociar apoio é um absurdo que vem se repetindo ano
após ano.
Conselho de um líder
Belíssima matéria!
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