Flávio
Azevedo
A
prestação de contas do ex-prefeito José Luiz Alves Antunes, o Mandiocão, referente
ao exercício de 2012, foi rejeitada, nessa terça-feira (26/11), pela Câmara de
Vereadores de Rio Bonito. Os parlamentares acompanharam o parecer do Tribunal
de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE/RJ), que foi contrário a prestação
de contas do ex-chefe do poder Executivo. Foram cinco votos favoráveis ao
ex-prefeito e cinco contrários. Para ter as contas aprovadas, mesmo com parecer
contrário do TCE, o ex-prefeito precisava que sete vereadores votassem a seu
favor. Com a reprovação das contas, Mandiocão pode ficar impedido de disputar qualquer
cargo eletivo nos próximos oito anos.
De acordo
com o TCE, o ex-chefe do poder Executivo executou despesas no valor de R$ 4,7
milhões sem o devido registro contábil, contrariando as normas gerais da
contabilidade pública. Os conselheiros do TCE também entenderam que os déficits
financeiros, ao longo da gestão de 2012, culminaram com um déficit de R$ 11,2
milhões, que indicaram a não adoção de ações planejadas para se alcançar o
equilíbrio financeiro necessário. Ainda segundo o parecer prévio do TCE, o
repasse à Câmara de Vereadores, um montante da ordem de R$ 4,3 milhões,
manteve-se abaixo do orçamento final do poder Legislativo, o que descumpriu
determinações legais. Além disso, segundo o TCE, os recursos do Fundo Nacional
de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), foram usados sem a devida
comprovação.
A sessão
A defesa do prefeito foi lida pela ex-controladora Fátima Paixão |
A defesa
lembra que foi na gestão de Mandiocão que essas dívidas foram parceladas e negociadas;
destaca o aspecto político (disputa entre grupos políticos rivais) que permeia
esse processo; afirma que a prestação de contas do ex-prefeito foi feita pelo
atual governo; e assegura que a prestação de contas foi “defeituosa, imprecisa
e intempestiva”.
A defesa
do ex-prefeito também colocou em suspeição, a ação do atual governo (quem faz a
prestação de contas do exercício anterior) e revelou que, por não ter
apresentado os documentos necessários a prestação de contas do ex-prefeito, a
prefeita Solange Almeida foi multada, no último dia 16 de maio, em cerca de R$
20 mil (10 mil UFIR). A informação é verdadeira, mas em suas explicações
pessoais, a vereadora Rita de Cássia disse que a referida multa foi cancelada, porque
o TCE reconheceu não ter havido nenhuma irregularidade ou perda de prazo no
envio de informações e documentos para a prestação de contas do ex-prefeito. A
anulação, segundo os vereadores, está inserida entre os documentos do processo
de julgamento das contas do ex-prefeito.
Analisando
a postura dos parlamentares nas votações dos pareceres das comissões que
analisaram a matéria, concluímos que teriam sido contrários ao parecer do TCE,
os vereadores, Cláudio de Moraes, o Claudinho do Bumbum Lanches (PSB), Aissar
Elias (PTN); Rita de Cássia (PP); Carlos Luiz de Carvalho Jr., o Jubinha (PSB)
e Marlene Pereira (PPS). Os favoráveis a rejeição das contas do prefeito seriam
os vereadores, Reginaldo Ferreira Dutra, o Reis (PMDB); Marcos da Fonseca, o
Marquinhos da Luanda Car (PMDB); Edilon de Souza Ferreira, o Dilon de Boa
Esperança (PRB); Abner Alvernaz Jr., o Neném de Boa Esperança (PTN); e Márcio
da Cunha Mendonça, o Marcinho Bocão (Solidariedade).
Cenário igual com posição invertida
Em 2007, o
parlamento também rejeitou as contas, referentes ao Exercício de 2006, do então
prefeito José Luiz Antunes. Naquela ocasião, os conselheiros do TCE entenderam
que o mínimo de 25% que deve ser gasto com Educação, conforme preconizado na
Lei de Responsabilidade Fiscal, não foi respeitado. O parecer do TCE, à época,
foi acompanhado pelo poder Legislativo. Para não ficar impedido de participar
das eleições de 2008, o então prefeito Mandiocão recorreu. Ele perdeu em
primeira instância, mas faltando dias para a eleição de 2008, uma decisão
monocrática de 2ª instância garantiu a sua participação nas eleições da qual
foi vencedor.
Uma
análise rápida mostra que o cenário de 2013 é o mesmo de 2007. O grande
diferencial é que dessa vez José Luiz não está, como aconteceu à época,
ocupando o cargo de prefeito, o que naturalmente diminui o seu poder de
influência. Embora tenha garantido em sua defesa, que não pretende seguir na
política (“já dei a minha contribuição ao município e estou feliz lá na roça”,
disse o ex-prefeito), a sua indignação diante do resultado adverso coloca em
cheque a veracidade dessa afirmação.
Concluída
a sessão, o ex-prefeito saiu como um raio do seu lugar e, ao velho estilo
Mandiocão, de pé e balançando os braços dentro do plenário, desabafou sua
frustração. O ex-chefe do Executivo disse estar falando “não como político, mas
como munícipe”. Ele voltou a dizer que, em 2005, mesmo com parecer contrário do
TCE, as contas de 2004 da atual prefeita foram aprovadas pelo Legislativo. A
votação secreta também foi alvo da indignação do ex-prefeito.
– A votação
secreta torna o poder Legislativo covarde e antidemocrático. Assim como, nas
ruas, alguns manifestantes cobrem o rosto para fazer coisas erradas, o voto
secreto esconde a decisão do vereador e isso é péssimo para a democracia –
disparou o ex-prefeito, que deve recorrer da decisão do parlamento.
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