A parábola do "Filho Pródigo", história semelhante a essa que postamos, é uma das mais emocionantes e cheias de ensinamentos da Bíblia. |
– Alberto, meu
filho, aonde vais? Era a voz de uma mãe virtuosa e cristãmente educada que se
dirigia ao filho por quem incessantemente orava.
– Que lhe importa
isso? Respondeu Alberto, dirigindo-se para a porta.
Desfechando em um
pranto de soluços, a mãe lançou-se lhe ao pescoço e disse:
– Não me importa
isso, Alberto?
– Não, eu já lhe
disse, estou farto de suas orações e dessa importunação contínua: "aonde
vais, Alberto?" Vou pelo mundo fora, onde não terei mais de ouvi-las. As
suas orações, a senhora pode fazer em favor de outros, quero que me esqueça.
Dizendo isto Alberto abriu a porta e dispôs-se a sair.
– Alberto, meu
filho, disse-lhe ainda uma vez a mãe, as minhas orações hão de acompanhar-te.
Quando estiveres cansado e farto deste mundo, volve e toma pelo caminho de tua
mãe.
Alberto era filho
de um lavrador e tinha a idade de vinte anos. Naturalmente exaltado, dera-se
ultimamente à bebida, que o levou a tomar aborrecimento à vida solitária dos
campos. O pai, conquanto se inquietasse com o procedimento do filho, nunca
insistiu com ele a esse respeito. A mãe, porém, carinhosa e terna, buscava por
todos os meios chamá-lo ao caminho do bem. Quando Alberto desapareceu, ela se
recolheu ao quarto para desafogar diante de Deus o coração opresso.
Decorreram três
anos; três anos de uma vida agitada, no meio dos prazeres e seduções de uma
grande cidade, e no coração daquele filho só restava ainda um único desejo: o
de pôr fim a existência. Envilecido ao ponto de não guardar mais vestígio de
sua anterior varonilidade, esmolava de quando em quando para mitigar a fome. Rara
vez se lembrava de sua carinhosa mãe. E se nos primeiros meses de sua errática
existência, a lembrança da mãe e de suas orações conseguia alguma vez inquietar
a sua alma, a voz de sua consciência há muito havia cedido ao peso sufocante
das paixões e só muito fracamente ainda se fazia ouvir.
Por uma noite fria
de inverno vemo-lo dirigir-se apressadamente na direção de um rio no intuito de
atirar-se e pôr assim fim às suas misérias. Ao passar em frente de uma casa de
culto, porém, sente-se involuntariamente detido e é impelido a entrar. Um
senhor de fisionomia amável e ainda jovem sobe ao estrado. Maviosos acordes
enchem o ambiente e uma voz varonil entoa com comovedor acento:
“A voz de sua mãe
acaso um filho
Esquecer poderá?
Siga ele embora da
maldade o trilho,
Dessa voz, qual de
um canto o estribilho,
A prece o seguirá”.
O amor de seu
divino Mestre e dos pecadores por quem Ele sofreu, parecia arrebatar de
entusiasmo ao jovem cantor que, com enternecimento capaz de fazer vibrar os
mais empedernidos corações, entoou a segunda estrofe:
“O olhar de sua mãe
acaso um filho
Poderá esquecer?
Esse olhar de que o
pranto empana o brilho
Percorre sem cessar
o longo trilho
Na ânsia de o rever”.
Nenhuma pena seria
capaz de descrever os sentimentos que tumultuavam o coração de Alberto. Pela
primeira vez, depois de tantos meses de inditosa existência, sua alma volve um
olhar ao passado e ele começa a sentir um desejo invencível de rever sua mãe.
Recordando, porém, a maneira brusca como a deixara e atentando na sua triste
condição, diz, consigo mesmo: "Não, lá não tornarei mais, minha mãe não
pode reconhecer como filho uma tão vil criatura como eu sou. Irei, pois,
executar o que projetei." Neste ponto, o cantor, erguendo a voz, continuou:
“Oh, volve, meu
filho!
Oh, volve outra vez!
Ao caminho do bem!”.
Alberto deixou
apressadamente o recinto. Um missionário, porém, que o havia observado
atentamente, seguiu-o. Alberto estava dominado de profundo arrependimento e em
saindo da sala rompeu num pranto de soluços, dizendo: “Oh! minha mãe! Perdoe-me
que ainda lance sobre a senhora mais este opróbrio, buscando pôr termo à
existência, mas já não a posso suportar!”
“Oh, volve, meu
filho! Oh, volve outra vez!”. Era a voz do missionário que repetia baixinho
essas palavras no ouvido de Alberto. Alberto deteve-se e o missionário,
travando-lhe do braço, o reconduziu à sala, onde alguns missionários entraram a
falar com ele sobre a salvação. Momentos depois Alberto caía, contrito, de
joelhos, suplicando a Deus o perdão dos pecados. Depois referiu aos seus amigos
o seguinte: "Quando deixei a casa de meus pais, minha mãe me disse:
'Alberto, meu filho, as minhas orações hão de seguir-te; quando estiveres
cansado e farto deste mundo, volve e toma pelo caminho de tua mãe.' Volverei a
ela e protestar-lhe-ei que estou resolvido a começar uma nova vida”.
No dia seguinte
Alberto voltava ao sítio de seu nascimento, onde em poucas horas chegou. Caía a
noite e ninguém o notou quando se dirigiu à casa dos pais. Quando parou diante
da porta ouviu, lá dentro, a voz de sua mãe que, como de costume, suplicava a
Deus pelo filho. Alberto entrou e com voz embargada de profunda comoção
exclamou baixinho: "Mãe!"
Soube então que o
pai falecera havia alguns meses e a mãe, solitária e triste, continuava a
aguardar a volta do filho, por quem nunca havia deixado de orar. Alberto obteve
logo boa colocação e agradece diariamente a Deus a salvação de sua vida, em
grande parte devido à influência de sua boa e piedosa mãe e às exortações
simpáticas daqueles nobres missionários.
Oh, mães! Que vos
sentis desfalecer, prossegui sempre, orando incessantemente, que Deus vos há de
ouvir! Missionários, não vos deixeis dominar pela fadiga... Continuai a
trabalhar e a cantar! “Semeia de manhã a tua semente, e de tarde não cesse a
tua mão de fazer o mesmo...".
Fonte: livro Pérolas Esparsas
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