Flávio Azevedo
O sociólogo Antonio Gramsci |
Outro dia
eu disse a um amigo que eu não tenho mais muito que escrever, porque nos últimos
seis anos eu abordei todos os assuntos que geram inquietações à sociedade. Esgotei
as argumentações, dicas... Bem, sendo assim, eu vou recuperar um texto que
escrevi nas primeiras semanas de 2010. O interessante é que três depois, o
texto continua atual. Boa leitura!
Francamente,
acredito que não é a primeira vez, nem a última, que falarei sobre o conceito
de política que era defendido pelo sociólogo italiano Antonio Gramsci. Ele faz
uma distinção interessante entre o que chama de GRANDE e PEQUENA política. Para
ele, a grande política toma em questão o debate sobre as estruturas sociais. Já
a pequena política, Gramsci classifica como a política da intriga, do corredor,
as disputas internas pelo poder, que abre mão de debater e discutir, as grandes
questões, que são, realmente, de interesse da sociedade (mais tarde eu
classificaria isso como “política do varejo”).
À época,
estava sendo debatido o orçamento municipal de 2010. Aliás, o chefe do
Executivo jogar sobre a Câmara Municipal de Vereadores, a responsabilidade da
sua inoperância, não era mais novidade. Isso sem falar nas consecutivas vezes
que ele culpava os outros pela sua falta de habilidade no trato com as pessoas.
Uma dica prefeito: “esse negócio de conversar em pé”, palavras suas em
entrevista concedida ao jornal Gazeta Rio Bonito, pegou muito mal. Dizemos
isso, porque esse não é o perfil dos políticos modernos. Tem que se sentar sim
e dialogar com simpatizantes e adversários. Alguém que pensa diferente disso,
não deveria ingressar na vida pública.
Por outro
lado, até quando os vereadores vão ficar jogando palavras ao vento? (aqueles
que falam, é claro!). Até quando vão ficar esperando por alguém que durante os
últimos cinco anos já deu várias provas que não está interessado em ter uma
relação amigável? Os senhores já observaram que só são procurados, quando o
prefeito – não o povo – precisa do voto de vocês? Já notaram que depois que a
vontade do todo poderoso é satisfeita, ele volta a tratá-los como estorvo,
embaraço e atrapalho? Ou vocês ainda acham que isso é coincidência?
Eu tenho
ouvido alguns argumentos do tipo, “mas nós só queremos ajudar a administrar o
município!”. Senhores vereadores, vocês estão querendo enganar quem? Que utopia
é essa?! Às vezes, eu penso que senhores acreditam em Papai Noel, no Coelhinho
da Páscoa, no Peter Pan, na Terra do Nunca e na Branca de Neve com os seus Sete
Anões! Os senhores não percebem, que até aqueles que foram convidados pelo
prefeito para exercer essa função – os seus secretários – não conseguem obter
essa prerrogativa? Vamos deixar um conselho bíblico, que está escrito no Novo
Testamento, no livro de Tito, capítulo 3, versos 10: “ao homem herege
(incrédulo), depois de uma ou duas admoestações (censura ou correção), deixe-o”.
Entenderam, ou tem que desenhar?
Para quem
ainda não observou – acho que muita gente! –, o falso slogan “deixa o homem
trabalhar” continua sendo utilizado, e sem dúvidas será empregado até as
próximas eleições municipais. Enquanto isso, ninguém faz nada para ninguém,
porque o Executivo, que “executa” as ações, não está interessado, e o
Legislativo, que apenas “pede”, não é atendido. Enquanto isso, o slogan “deixa
o homem trabalhar” permanece sendo pregado e adquirindo adeptos pelas esquinas
da cidade.
É bom
lembrarmos também, que a população desconhece as reais funções do vereador (e
ninguém ensina! Cadê a Justiça Eleitoral?). Alguns, inclusive, pensam que o
parlamentar manda igual ao prefeito. Entretanto, vale destacar que esse
entendimento equivocado acontece por culpa dos próprios vereadores, que quando
estão em campanha, prometem mundos e fundos ao eleitorado. Quase sempre, o
próprio candidato desconhece a função que vai ocupar. Diga-se de passagem, são
figuras que nunca foram à Câmara, mas querem ser vereador!
Por outro
lado, estamos falando de uma população egoísta, mesquinha e interesseira, que
com raríssimas exceções vota com consciência (a não ser a consciência do que
vai fazer com os R$ 50,00 recebidos pelo voto). Devemos destacar também, que
isso não tem nada a ver com status social, porque já vimos pessoas que tem um
bom poder aquisitivo sair no tapa por benesses políticas, inclusive, emprestar
o nome para a prática de coisas ilegais.
Existem,
ainda, pessoas de vida simples e humilde, que dão o seu voto àquele que ele
acha merecer, e o fazem sem pedir nada em troca. Por esses, eu vou continuar falando,
criticando, às vezes, esculhambando, e vez ou outra, sendo até deselegante. Mas
quem não negocia os seus princípios, os seus valores e não se vende,
sinceramente, merece que nós permaneçamos nessa árdua tarefa... FALAR E
ESCREVER!
Aliás, nós
torcemos... Pedimos... Imploramos... Aos nossos políticos, que nas próximas
entrevistas, os senhores abordem os maus serviços prestados pela Ampla, o
abastecimento irregular de água que é feito pela Cedae, a insegurança que nos
amedronta, a falta de opções de Esporte, Lazer, Turismo, Cultura e Educação, o
salário de fome do servidor, as intermináveis filas dos bancos, as ruas sem
iluminação, as valas negras que correm a céu aberto, entre outros debates da
política GRANDE. Não precisam parar de discutir a política PEQUENA – isso seria
impossível –, mas discutam também a GRANDE, para que todos nós sejamos
beneficiados.
OBS: o prefeito era José Luiz Antunes (Mandiocão). Para aqueles que afirmam ser eu partidário dele, esse texto deixa claro esse favorecimento.
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