segunda-feira, 30 de maio de 2011

I Have a Dream

Por Flávio Azevedo - Reflexões

No dia de hoje, eu não poderia deixar de parafrasear o ativista Martin Luther King Jr. Acredito que o meu sentimento é similar ao dele quando proferiu o famoso discurso “I Have a Dream”, que significa: “Eu Tenho um Sonho”. Para quem não sabe, King era pastor protestante e seguidor da ideia de desobediência civil não violenta pensada e defendida pelo líder político indiano Mahatma Gandhi. Ele aplicava essas ideias nos protestos organizados pelos negros norte americanos que lutavam contra a segregação racial, nos Estados Unidos da América.

Para lutar contra esse sistema, Martin Luther King organizou e liderou marchas e manifestações. O que me leva e escrever essas reflexões é perceber que esse dia 30 de maio de 2011 pode ser o divisor de águas na vida sócio-política de Rio Bonito. A partir das 9h, da manhã, na Praça Fonseca Portela nós iremos participar da maior demonstração de luta pela liberdade da história do nosso município. Eu não dúvida que esse dia que entrará para a história.

Há 165 anos, Rio Bonito era elevado à condição de município. Se em seu discurso histórico, Martin Luther King fez referência a “Abolição da Escravidão”, lei que 100 anos depois de sancionada, não havia sido instituída de fato, eu destaco que Rio Bonito, 165 anos depois da sua emancipação político-administrativa ainda não é um município de fato.

Penso que nos anos 50, e início da década de 60, a sociedade civil organizada estava trabalhando para transformar Rio Bonito num município de fato. Mas o Golpe Militar de 64 arrefeceu esse, e outros movimentos sociais e culturais que floresciam naquela época.

Eu me refiro a criação de entidades assistenciais – e não assistencialistas – como o Hospital Regional Darcy Vargas; os asilos Lar Maria de Nazareth e Casa São Vicente de Paulo; a creche Nossa Senhora da Conceição; os Alcoólicos Anônimos; e entidades esportivas da envergadura de Motorista, Cruzeiro, Proletário (hoje, Rio Bonito Atlético Clube), Esporte Clube Fluminense, entre outros.

Tudo isso surgia como um grande farol de esperança para milhares de riobonitenses que tinham sido marcados a ferro nas chamas da falta de oportunidade. O jornal “O Estado”, da cidade de Niterói, publicado no dia sete de maio de 1946, trazia a seguinte manchete: “Centenário de Rio Bonito, a Canaã Fluminense”. Segundo aquela reportagem, o crescimento econômico alcançaria a cidade em pouco tempo.

Cerca de 60 anos depois, porém, ainda não somos livres. Estamos todos tristemente algemados pelo “não é comigo” e acorrentados pelo “deixa isso pra lá”. Vivemos numa ilha de pobreza sócio-política, porque a cidade só entra na rota dos políticos na época das eleições. Vivemos exilados em nossa própria terra. Na verdade, a Manifestação Pró-Segurança vem expor e dramatizar essa vergonhosa condição.

Hoje, nós exigimos que as palavras, Liberdade, Igualdade e Fraternidade, base de toda e qualquer democracia, e alicerce da nossa Constituição, nos alcance. Nesta manhã (30/05), riobonitenses, pobres, ricos, jovens, adultos, velhos, crianças, homem e mulher... Querem ver garantidos os seus direitos inalienáveis. Nós nos recusamos a acreditar que o estado do Rio de Janeiro não tenha condições prover Segurança Pública para o riobonitense.

Hoje é o tempo de subir do vale escuro e desolado do comportamento provinciano, para o iluminado caminho da Justiça social, política e administrativa. É chegada a hora de erguer a nossa cidade das areias movediças da desigualdade para a pedra sólida da fraternidade, uma realidade que desejamos para os nossos filhos.

Depois da morte do nosso amigo Américo e dos incontáveis crimes que têm atingido a nossa indefesa população, seria fatal negligenciarmos a urgência desse momento. Este descontentamento não passará a até que haja entre nós a sensação de liberdade e igualdade. Não haverá tranquilidade nem descanso em Rio Bonito, até termos garantida a nossa cidadania.

Devo advertir ao meu povo, porém, que nesse processo não devemos ser culpados por atos errados. Não podemos satisfazer nossa sede de Justiça bebendo da xícara da amargura e do ódio. Precisamos conduzir a nossa luta num alto nível de dignidade. Não devemos permitir que o nosso protesto se degenere em violência. Aliás, aqueles que zelam pela Segurança têm o destino atrelado ao nosso. Eles sabem que atuarão de maneira muito mais digna se as nossas reivindicações forem atendidas.

Amigo riobonitense, não podemos parar essa caminhada, precisamos marchar sempre à frente e não podemos voltar atrás.

Eu tenho esse sonho, hoje!

3 comentários:

  1. Agradeço a matéria em nome do meu marido Carlos Americo, a importancia e o carinho que todos tem por esse lindo homem.
    Não sou de Rio Bonito, vim para seguir meu amor mas estou nessa luta. O povo precisa de um amparo.

    Att Marcela Penteado Vaz Branco

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  2. Nos impressionam a sua fibra, a sua garra e o carinho, que apesar de tudo, você demonstra aos riobonitenses! Que Papai do Céu continue te guiando, consolando e confortando na sua caminhada! Conte conosco sempre!

    Flávio Azevedo

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  3. Se não lutamos a vida nos devora e como nossa passagem é curta precisamos tentar servir de alguma forma, tem muita gente do bem por aí. Tenho uma visão boa em relação a espiritualidade e acho que cada um de nos tem uma missão, sei que o Americo deu o melhor dele, foi feliz até o último segundo. Sei que está bem e isso me tranquiliza. Sempre escrevi sobre as falhas humanas e agora que me encontro em um episódio desses fico mais indignada.Tenho seguido seu blog, parabens pelas postagens e mais uma vez agradeço a força. Contem comigo tbm.
    Att Marcela Penteado Vaz Branco

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