terça-feira, 25 de junho de 2019

O Prefeito Está Nu

Flávio Azevedo
A montagem da Débora Estrella expõe a incompetência administrativa em Rio Bonito e o cinismo de quem acha que está tudo certo.
Posto aqui uma montagem sensacional que mostra a “Pracinha 3D” que a Prefeitura de Rio Bonito inaugurou no bairro Manguerinha; espaço também chamado de Arena de Eventos. Com essa novidade, o prefeito, José Luiz Antunes; sempre moderno e inovador, coloca o município no radar da modernidade. Moradora do bairro, a fotógrafa, Débora Estrella; fez uma foto que mostra sua filha se divertindo no invisível do equipamento. Junto da foto um texto singelo e significativo, onde ela destaca que é um parquinho “que só os inteligentes podem ver”.
– Queria agradecer à Prefeitura de Rio Bonito pelo parquinho colocado na revitalização da Praça da Mangueirinha. Nossa! As crianças estão se divertindo muito, inclusive minha filha. Um parquinho que só os inteligentes podem ver – conclui.

Debora encerra o texto frisando que somente quem assiste as aventuras do Chapolin Colorado vai entender a piada. O roteirista desse episódio do Chapolin se inspirou num conto escrito em 1837, intitulado “A Roupa Nova do Rei”, assinado pelo dinamarquês, Hans Christian Andersen. Há quem diga que ele se inspirou numa história contada no Livro dos Exemplos, uma coleção medieval espanhola de 55 contos morais e incentivos à virtude de origem persa.

Penso que vale a pena revisitar essa história, porque o vaidoso monarca da antiguidade tem tudo haver com a dupla de prefeitos narcisistas que se repetem a frente da Prefeitura de Rio Bonito nos últimos quase 30 anos. 

Depois de passar a perna num monte de gente em determinado reino, um malandro se refugiou num território onde ele não era conhecido. Na nova terra ele decidiu fingir ser um alfaiate. Como todo malandro dos dias atuais, o sujeito logo conquistou a confiança de todos e até conseguiu uma audiência com o rei daquelas terras. “De onde vim eu inventei uma forma de tecer a melhor de todas as roupas”, disse o farsante ao rei. “Confecciono roupas que somente os inteligentes podem ver”.

O rei, muito vaidoso, gostou da proposta e encomendou uma vestimenta. Ao seu atelier foram enviados muitos baús cheios de riquezas, rolos de linha de ouro, seda e outros materiais raros e exóticos. Tudo isso foi exigido pelo suposto alfaiate para a confecção da roupa especial. Ele guardou os tesouros e ficou em seu tear fingindo tecer fios invisíveis. 

Quem passava na frente do atelier via que o alfaiate não parava de trabalhar. Puxava panos, cortava o ar, olhava com cara de quem poderia fazer melhor, refazia e pendurava nada nos cabides e manequins. Agiu assim por semanas enquanto recebia o dinheiro do rei e transitava entre os nobres do palácio. É claro que todas as pessoas que passavam pela janela alegavam ver o tecido para não serem consideradas estúpidas.

Até que chegou o grande dia. Aos ministros e ao rei foi mostrada uma mesa de trabalho vazia, mas o rei deu um grito de satisfação: "Que lindas vestes! Fizestes um trabalho magnífico!". Os nobres ao redor soltaram falsos suspiros de admiração pelo trabalho mentiroso do alfaiate. Nenhum deles queria carregar a marca de não ser inteligente. Vaidoso, o rei decidiu marcar uma parada na cidade para que exibir as vestes especiais. Pelado, o rei acenava para os súditos como se estivesse trajando a roupa mais gloriosa. Por medo de serem considerados estúpidos ou serem condenados pela audácia de discordar do rei, o povo saudava o monarca com ares de admiração pela beleza das suas vestes. 

Coube a uma criança, um menino pequeno, porém, sincero, por um fim naquela grande palhaçada quando exclamou: “O REI ESTÁ NU!”. A sinceridade do olhar infantil devolveu a razão aquele bando de imbecis, inclusive, ao rei; que se encolheu por perceber o papel ridículo que estava fazendo diante dos súditos. 

A história não diz o que aconteceu com o suposto alfaiate, mas nós sabemos que a soberba de quem tem poder e o cinismo oportunista, babaca e picareta, daqueles que cercam as pessoas que tem poder é igual na antiguidade e na pós-modernidade. Em Rio Bonito, durante quase três décadas, “Rei e Rainha” desfilam pelados diante do povo. Mas aqueles que têm coragem de falar que eles estão nus são confrontados por ministros puxa sacos que insistem em dizer que as realizações invisíveis desses prefeitos antiquados e atrasados estão uma beleza.

Os prefeitos estão expostos, pelados, humilhados, fazem governos sofríveis, horríveis, mas preferem se enganar e acreditar que somente os mais inteligentes conseguem enxergar os seus atos e as realizações nenhuma de seus governos. 

Se na antiguidade o rei estava nu, hoje, na pós-modernidade, o rei segue despido e minha amiga Débora, com essa arte simples, mas verdadeira; mostra a realidade de uma reforma que foi cantada em prosa e versos; o objetivo era que estivesse pronta na festa de aniversário da cidade (no último mês); mas ainda não está pronta. Essa montagem, uma obra prima da minha amiga, Débora; deveria receber o seguinte nome: “O Prefeito Está Nu”.

Vamos em frente! #flavioazevedo

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