quinta-feira, 19 de julho de 2012

Rio Bonito se despede da professora Nazareth Mello

Flávio Azevedo

O cenário cultural e educacional de Rio Bonito ficou mais pobre na manhã dessa quarta-feira (18/07). Depois de 40 dias lutando pela vida no Hospital Regional Darcy Vargas, a professora Nazareth Mello (60 anos) faleceu. O sepultamento, que foi acompanhado por centenas de amigos e parentes, aconteceu às 17h, no cemitério Jardim das Acácias, no 3º Distrito. A cerimônia funebre foi realizada pelo padre Eduardo Braga, pároco da Igreja Matriz Nossa Senhora da Conceição. O corpo foi velado no Motorista Futebol Clube, no Centro de Rio Bonito.

Em suas reflexões e palavras de conforto, o padre Eduardo ressaltou a solidariedade e presença dos amigos, a importância da união da família e classificou a confiança em Deus como determinante para a superação desses momentos. Ele meditou na historia bíblica da ressurreição de Lázaro e destacou as palavras de Jesus: “quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá”. O sacerdote também destacou os papeis que Nazareth protagonizou durante a sua existência. “Ela foi mãe, irmã, filha, amiga, educadora e deixa um exemplo de fé e vontade viver”, ressaltou.

Uma guerreira

Uma pessoa cheia de vida e que tinha um grande lastro de amizade, Nazareth Mello era muito querida. As limitações físicas que possuia por conta de uma paralisia infantil nunca a impediram de trabalhar, lutar e criar os seus filhos, o que tornava um exemplo de persistência e inclusão.
– A vida foi feita para ser vivida e não podemos permitir que as limitações que a nos são impostas não nos permita ser feliz. A amargura só potencializa os nossos problemas. Eu uso esse pensamento para enfrentar as minhas difuldades e tenho conseguido ser vencedora – disse Nazareth, numa rápida entrevista que concedeu a este jornalista, em 17 de maio de 2009, na localidade de Lavras, onde ela foi acompanhar a primeira apresentação do projeto cultural “Lona na Lua”, que sempre contou com o seu apoio e simpatia.

De acordo com familiares, os problemas de Saúde de Nazareth surgiram alguns dias antes dela ser internada e foram provocados por uma diverticulite (saliência que pode localizar-se em diferentes áreas do trato gastrintestinal). O quadro se agravou, segundo outro familiar, por conta de uma série de fatores, entre eles o fato dela não ter o movimento das pernas, o que prejudicava o fluxo sanguínio. “Chegou a ser operada mais de uma vez, estávamos confiantes no seu restabelecimento, mas infelizmente, a doença foi mais forte que ela e perdemos a nossa amada Nazareth”.

Tristeza e Saudades

Nas mídias sociais, o falecimento da querida professora, que deixa uma legião de amigos e alunos de todas as idades, foi o assunto do dia. A morte prematura de Nazareth causou comoção e os votos de pesar foram muitos. O advogado Valdir Júnior comentou que “a missão de Nazareth Mello foi cumprida e sua lembrança será eternizada em nossos corações. Ficará sempre acesa a lembrança da tua passagem por nossas vidas”.

Também lamentou o falecimento da professora, a amiga Ozimar Souza. “Amiga de velhos tempos, curtimos juntas toda nossa juventude. Sentirei mutas saudades. O bom é ter a certeza que nos encontraremos em outro plano bem melhor que esse”. A amizade e o trato diferenciado com as pessoas também foi externada pelas palavras de Rosimeire Souza. “Grande amiga de todos, sempre com palavras de carinho e sorriso terno! Que Deus conforte seus familiares e sua alma descanse”.

O também professor Francisco Calil Filho comentou que “nunca conhecerei uma pessoa tão carismática e de bem com a vida como Naza. Está nos braços e na luz do Senhor para sempre! Amém!”. A nova geração também se pronunciou. Jovens como Raphael Faria, que descreveu Nazareth como “uma mulher simplesmente incrível! Impossível de não amar e admirar! Fará muita falta! O céu cada dia mais lindo”, escreveu.

O jornalista riobonitense Vinícius Martins, radicado em Niterói, mas sempre antento aos acontecimentos da sua “terrinha”, relembrou o poema “Para Sempre”, de Carlos Drummond de Andrade, onde o poeta diz que “mãe não deve morrer nunca”. O jornalista completa: “Há pessoas que, embora não sendo nossa mãe, nos passa o mesmo sentimento”. E, acrescenta: “Recebo com muita tristeza a notícia de que Nazareth Mello passará a nos acompanhar de um outro nível, com certeza melhor. Aprendi com ela o sentido exato da palavra superação, inclusão e como se faz para ir à luta, muito antes dessas palavras entrarem para o nosso dia a dia. Uma das histórias de vida mais bonitas. Que fique em paz, minha querida!”.

O músico Guto Prevot, além de lamentar a morte de Nazareth, trouxe também uma novidade. Antes de dedicar a ela uma canção de João Nogueira (“Um Ser de Luz”), ele comenta que “por um bom tempo tive o prazer... A honra de conviver com Naza e privar da sua amizade. Continuamos amigos, todavia, sem o convívio de outros tempos. Conheci a pessoa fantástica que muitos conheceram, mas, como músico, tive a oportunidade de conhecer uma que poucos conheceram: a Nazareth cantora... de voz doce e afinada”, descreve Prevot.
– Quantas serestas fizemos juntos! Quantas noites cantamos juntos no Bossa Nova, no Tamariz, acompanhando o nosso querido e saudoso Tião. E, depois, nos Festivais da Canção, onde fizemos dupla interpretando lindas canções. Esta, a cantora, infelizmente, poucos conheceram – concluiu Prevot.

Um ser de luz

João Nogueira

Um dia
Um ser de luz nasceu
Numa cidade do interior
E o menino Deus lhe abençoou
De manto branco ao se batizar
Se transformou num sabiá
Dona dos versos de um trovador
E a rainha do seu lugar
Sua voz então
Ao se espalhar
Corria chão
Cruzava o mar
Levada pelo ar
Onde chegava
Espantava a dor
Com a força do seu cantar

Mas aconteceu um dia
Foi que o menino Deus chamou
E ela foi pra cantar
Para além do luar
Onde moram as estrelas
A gente fica a lembrar
Vendo o céu clarear
Na esperança de Vê-la, sabiá

Sabiá
Que falta faz tua alegria
Sem você, meu canto agora é só
Melancolia
Canta, meu sabiá, voa, meu sabiá
Adeus, meu sabiá, até um dia.

Para sempre

Carlos D. Andrade

Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo –
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.

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