Flávio Azevedo
Mãos que controlam pessoas de verde e amarelo. |
Eu não curto Carnaval, mas sou apaixonado por poesia, por Cultura, pela História do meu país e da nossa gente. Embora o clima “momesco” não me agrade, a aura cultural do Carnaval me atrai. Nunca ousei, nem ousaria escrever sobre o tema, porque eu não domino o assunto. Todavia, analista político que sou, eu não poderia deixar de escrever algumas linhas sobre o desfile da Paraíso do Tuiuti, o melhor que já vi em toda minha vida! Harmonia, buracos entre as alas, bateria, eu não vi nada disso! A TV até tentou, mas bundas, peitos e silicones tiveram que dar lugar política, a cr[itica e a ousadia da escola. Marionetes da TV Globo, digo, comentaristas da TV Globo, estavam sem saber o que dizer, porque se comentassem o que viam poderiam perder o emprego ou ser substituídos.
O desfile da Tuiuti é o mais comentado do país e ganhou destaque na mídia internacional. O meu Estandarte de Ouro já é dessa escola e o meu título de Campeão do Carnaval 2018 também é para a Tuiuti, que “quebrou tudo” na madrugada deste domingo (11/02) ao passar pela Marquês de Sapucaí.
Destaque para o "Vampiro do Neoliberalismo", que seria uma mera a alusão ao "neoliberalismo" não fosse a faixa presidencial. |
O enredo “Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão?”, do carnavalesco Jack Vasconcelos, já está na boca do povo. Na avenida, nós vimos um espetáculo ousado, politizado, atual, com críticas claras e atuais à sociedade e à política. A agremiação trouxe, em destaque, um vampiro vestido de presidente da República, numa clara alusão ao presidente Michel Temer. Além disso, uma ala tinha manifestantes fantoches (uma cutucada no impeachment de Dilma Rousseff) e o último carro alegórico tinha mãos que controlavam personagens que vestiam camisas verde e amarela que seguravam panelas e colher de pau, outra referência aos manifestantes favoráveis ao impeachment. Não podemos nos esquecer dos escravos chicoteados e as carteiras de trabalho corroídas, uma crítica clara a reforma trabalhista.
Carteiras de trabalho destruídas, uma crítica a reforma trabalhista e a reforma da previdência. |
O Grêmio Recreativo Escola de Samba Paraíso do Tuiuti, como o nome já diz, tem sua origem no Morro do Tuiuti, em São Cristóvão. Nasceu em 1954 a partir fusão das escolas Unidos da Tuiuti e Paraíso da Bainas, por isso Paraíso do Tuiuti. Entre os seus fundadores estão nomes de destaque da comunidade da época como Pedro Feneno, Duca, João Hilário, Manezinho Sal, João Birão, Zequinha, Neu, Álvaro, Albino, Dona Umba, entre outros.
Nesse domingo (12/02), a Paraíso do Tuiuti domina as rodas de conversa, as redes sociais e o nome da escola ocupa a primeira posição dos tópicos mais comentados do Twitter.
A letra do enredo da Tuiuti no Carnaval 2018
Não sou escravo de nenhum senhor
Meu Paraíso é meu bastião
Meu Tuiuti o quilombo da favela
É sentinela da libertação
Irmão de olho claro ou da Guiné
Qual será o seu valor? Pobre artigo de mercado
Senhor, eu não tenho a sua fé e nem tenho a sua cor
Tenho sangue avermelhado
O mesmo que escorre da ferida
Mostra que a vida se lamenta por nós dois
Mas falta em seu peito um coração
Ao me dar a escravidão e um prato de feijão com arroz
Eu fui mandiga, cambinda, haussá
Fui um Rei Egbá preso na corrente
Sofri nos braços de um capataz
Morri nos canaviais onde se plantava gente
Ê Calunga, ê! Ê Calunga!
Preto velho me contou, preto velho me contou
Onde mora a senhora liberdade
Não tem ferro nem feitor
Amparo do Rosário ao negro benedito
Um grito feito pele do tambor
Deu no noticiário, com lágrimas escrito
Um rito, uma luta, um homem de cor
E assim quando a lei foi assinada
Uma lua atordoada assistiu fogos no céu
Áurea feito o ouro da bandeira
Fui rezar na cachoeira contra bondade cruel
Meu Deus! Meu Deus!
Seu eu chorar não leve a mal
Pela luz do candeeiro
Liberte o cativeiro social
Nenhum comentário:
Postar um comentário