Paula Brito
Apesar da aparência de tranquilidade, Rio Bonito tem se destacado pelo aumento da violência. |
Ela está no Mapa da
Violência, nos dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) e na percepção da
população. A insegurança se tornou, nos últimos anos, parte da rotina do
município de Rio Bonito, que abriga 56 mil pessoas, de acordo com informações
do IBGE. Segundo dados do ISP, de janeiro de 2010 a outubro de 2013, houve
aumento de 50% nas ocorrências da 119ª DP – única delegacia da cidade. O Mapa
da Violência, por sua vez, mostrou que o número de homicídios na cidade
aumentou de dois, em 2009, para 10 em 2011. Moradores atribuem a tendência, em
grande parte, à suposta fuga de criminosos da capital fluminense, por conta da
instalação de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), assim como à construção
do Complexo Petroquímico do Estado do Rio de Janeiro (Comperj), em
Itaboraí.
A cidade, que há poucos
anos não conhecia a rotina da apreensão e do medo, agora convive com a migração
da violência da Capital. Sair de noite, em alguns bairros, tem se tornado muito
perigoso. Rio Bonito, que há quatro anos possuía um nível muito baixo de
prisões, hoje contabiliza mais que o triplo. Em janeiro de 2010, quatro prisões.
Já em outubro de 2013, foram registradas 15. A sensação de insegurança também
tem feito com que estabelecimentos comerciais fechem cada vez mais cedo e que
moradores evitem frequentar alguns bairros durante a noite.
– Nunca convivi com essa
realidade e temo pelos meus três filhos. Sempre tivemos uma vida simples aqui
no bairro, as crianças saíam à noite para brincar, mas de alguns anos pra cá,
isso está se tornando cada vez mais difícil – contou a moradora Maria da
Conceição, de 47 anos.
De acordo com o estudo
“Mapa da Violência”, do Instituto Sangari, os pólos de violência têm se
deslocado das capitais para o interior dos estados por conta da estagnação
econômica e do maior investimento em segurança nos grandes centros. Até o ano
2000, os municípios que registraram maior crescimento nos índices eram os que
superavam os 100 mil habitantes. Na última década, no entanto, o crescimento
dos homicídios centrou-se nos municípios de menor tamanho, principalmente na
faixa de 20 a 50 mil habitantes. Segundo a pesquisa, se esta tendência
continuar, as taxas de homicídio no interior vão ultrapassar as das capitais em
menos de uma década.
Novo cenário social no município
A migração para Rio Bonito
pode não ter como único motivo a fuga das UPPs. Para uma jornalista local, que
preferiu não se identificar, parte do aumento da criminalidade pode ser
atribuído à migração de pessoas atraídas por empregos no Comperj – talvez o
maior empreendimento da Petrobrás no país, com área de 45km² e previsão de
inauguração em 2016. “A cidade começou a crescer criminalmente por causa da
proximidade com Itaboraí e São Gonçalo. Quando comecei a cobrir polícia, há 5
anos, os registros eram 90% provenientes do tráfico de drogas. Hoje temos
outros tipos de crime, boa parte disso devido à população que veio morar na
cidade graças ao Comperj. Não havia assalto em casa, por exemplo, agora tem.
Outro problema é o de que a Secretaria de Segurança do Estado, trabalha com
números. Então as pessoas precisam denunciar. Até a quantidade de Policiais
Civis e o número de computadores do plantão da Delegacia é diferente, porque
aqui temos poucos registros”, opina a jornalista. Entre 2000 e 2010, a
população de Rio Bonito aumentou em 11% – e o número pode ser maior, já que a
data de inauguração do Comperj se aproxima.
Para o também jornalista, Flávio
Azevedo, existe uma série de fatores que contribuíram para o aumento da
violência, não só em Rio Bonito, mas em todas as cidades interioranas.
– O crescimento da cidade;
pais que não sabem dar limites aos filhos; o êxodo rural; a paternidade e a
maternidade que chegam cada vez mais cedo; o ganho fácil que o tráfico oferece;
a independência que a tecnologia proporciona, tudo isso colabora. Na Serra do
Sambê, por exemplo, bairro onde eu nasci e me criei, os clientes do ponto de
drogas não são os meninos da localidade, mas gente de poder aquisitivo que mora
nos bairros nobres do município. Todas essas nuances mostram que o cenário de
violência é sustentado por uma política de segurança estadual equivocada e por
uma sociedade omissa, que em todo tempo foge das suas responsabilidades ou as
transfere para outros atores sociais – afirmou.
Enquanto isso, moradores
tentam se adaptar a uma nova Rio Bonito. "Depois que o empresário Américo Branco
foi morto no ‘coração financeiro’ da cidade, as pessoas perceberam que a cidade
não é mais a mesma. Desde então, as elas acham que a solução é ter um PM em
cada esquina, quando na realidade precisam mudar os hábitos, porque a cidade
não é mais aquela em que os jovens iam da Sete de Maio para a pracinha às 2h da
manhã e tudo bem. O mundo mudou, e Rio Bonito está dentro disso", comentou
a professora Sandra Mara, que mora no município há 38 anos.
A Coordenadoria de
Inteligência da PM informou que tem acompanhado a movimentação de criminosos e
que, em alguns casos, a participação da população é necessária. Para os
policiais da 3ªCIA do 35ºBPM, é importante que os moradores façam as denúncias.
"Nós estamos vendo uma migração de criminosos para a nossa localidade.
Principalmente depois da ocupação da Reta (Itaboraí), fizemos apreensões de
pessoas que não são do município. Mas é muito importante que a população
colabore para que os crimes não fiquem impunes e para que possamos andar
tranquilos pela cidade", destacou um policial, e morador do município.
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